Se o livro vai acabar, por que as bibliotecas proliferam?
Fonte: Carta
Capital. Data: 19/01/2015.
URL: www.cartacapital.com.br/revista/832/o-papel-tem-sua-beleza-2401.html
Uma cópia de cada manuscrito existente na face da
Terra – nada menos do que isso, a síntese de todo o conhecimento humano,
pretendia a Biblioteca de Alexandria, fundada no início do século III antes de
Cristo pela dinastia ptolomaica do Egito, de origem helênica. Os 700 mil rolos
de papiro e pergaminhos, com obras capitais da Antiguidade (do matemático
Euclides, dos astrônomos Ptolomeu e Aristarco de Samos, do médico Galeno),
fizeram dela a maior biblioteca de seu tempo até o dia em que um incêndio
enigmático – do qual não se sabe sequer a data exata – a consumiu.
Em 2002, uma nova Biblioteca de Alexandria brotou
nessa cidade-encruzilhada do Mediterrâneo, com design dos noruegueses do Studio
Snohetta e robusto financiamento da Unesco. Seus 4 milhões de livros (entre
eles, 10 mil raridades) acentuam o valor sentimental de um resgate histórico,
embora seu acervo não se compare ao gigantismo da Biblioteca do Congresso de
Washington (18 milhões de volumes) ou da Biblioteca Nacional da França, em
Paris (12 milhões).
No Rio, a imponência em estilo neomanuelino do Real
Gabinete Português de Leitura confere à biblioteca, projetada pelo arquiteto
lisboeta Rafael da Silva Castro, financiada pelos comerciantes luso-cariocas e
inaugurada, após peripécias financeiras e minúcias de acabamento, em 1888, com
direito a palestra do escritor Ramalho Ortigão, um lugar cativo entre as
bibliotecas mais deslumbrantes do mundo. Fica, não por acaso, na Rua Luís de
Camões, no centro histórico do Rio.
A despeito da morte anunciada do livro, em seu
formato tradicional, bibliotecas de traçado ousado e dimensões ambiciosas
continuam brotando, agregando-se ao tradicional patrimônio de sabedoria
repousante propiciada por relíquias arquitetônicas, tais como aquelas que
fabulava Jorge Luis Borges, bibliófilo fanático, em sequências de hexágonos
perfeitos.
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