6 de set. de 2011

Seminário na Bienal discute experiências de bibliotecas com e-books

Autora: Manuela Andreoni.

Fonte: Blog Prosa Online. Data: 6/09/2011.

URL: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/

Curador digital da British Library há cinco anos, Aquiles Alencar-Brayner acredita que a sobrevivência das bibliotecas públicas dependerá de sua capacidade de se adaptar às novas tecnologias digitais, melhorando seus sistemas de busca e oferecendo empréstimo de e-books. Brayner foi um dos convidados no segundo dia do colóquio “E-books e a democratização do acesso – Modelos e experiências de bibliotecas”, promovido pela Biblioteca Nacional nesta terça-feira na 15ª Bienal do Livro.
As estatísticas de Brayner sobre o Reino Unido são animadoras e apontam para uma nova tendência: a venda de e-books aumentou 318% por lá em 2010 e uma pesquisa mostrou que 40% dos leitores de e-books (entre 1.200 entrevistados) passaram a ler mais livros digitais do que impressos. Nos números, contudo, ainda não vemos a prometida sobrevivência das bibliotecas.
Segundo Brayner, contudo, “quanto mais informação, mais é necessário criar instrumentos de busca sofisticados”, e é nisso também que as bibliotecas têm que investir. Para isso, é necessário, aconselha o brasileiro, que elas disponham de catálogos mais flexíveis e que forneçam o que o usuário procura diretamente. As bibliotecas devem ter páginas personalizadas para cada usuário, a exemplo do que vem fazendo a gigante do mercado editorial Amazon, sugere o curador. A British Library já desenvolveu um aplicativo, em parceria com a Microsoft, para acessar livros do século XIX (http://bit.ly/lI2BfQ) e tem um outro projeto com o Google para digitalizar 250 mil livros.
A Biblioteca Nacional brasileira, que tem um acervo de 9 milhões de itens, já digitalizou 30 mil obras, totalizando mais de um milhão de cópias. Ela não tem ainda um projeto de e-books e ainda não estuda parcerias como a que sua irmã britânica faz, mas algumas obras já podem ser acessadas em formato pdf por meio do site Biblioteca Nacional Digital (http://bndigital.bn.br/).
A prioridade da BN, no entanto, é a preservação e não o empréstimo de livros. O órgão depende que o governo federal elabore editais de compra de livros digitais para começar a disponibilizá-los nesse formato para os brasileiros.
Em um relatório de modernização das bibliotecas públicas feito em 2010 pelo governo britânico, foi constatado que o empréstimo de e-books é uma das cinco prioridades dos próximos anos. Para isso, será necessário que os governos entre em acordo as editoras, que ainda buscam um modelo de negócios ideal para os e-books, em geral, e para sua venda a bibliotecas, em particular.
Segundo Carlos Eduardo Ernanny, diretor executivo da livraria digital Gato Sabido e também convidado do seminário, as editoras ainda estão discutindo “o quanto vale um livro que nunca acaba”. Ele citou como exemplo a Harper Collins, uma das maiores editoras dos Estados Unidos, que desenvolveu um sistema de expiração de licenças para as bibliotecas. A editora vende o livro com a prerrogativa de que a biblioteca só o empreste 26 vezes – que, segundo eles, seria o tempo de vida de um livro físico. Já a Columbia University Press, apontou Ernanny, disponibiliza livros gratuitos, com a esperança de que os clientes voltarão a seu site para comprar outras obras.
Ainda não existe nenhuma lei que regulamente o comportamento das editoras nesses casos. A Lei do Depósito Legal para Conteúdo Digital, como é chamada, é uma reivindicação que ainda está sendo discutida. A proposta no Reino Unido, apresentada por Brayner no seminário, prevê armazenamento e acesso a conteúdo offline, coleta e arquivo de conteúdo eletrônico de acesso livre e de acesso restrito. Para os e-books, a proposta especifica o empréstimo a apenas um usuário por título, a manutenção de uma cópia digital pela biblioteca depositária, e a colaboração entre bibliotecas.
Além de Brayner e Ernanny, participaram do seminário da BN Antônio Torres, curador da Biblioteca Virtual Nuvem de Livros, lançada nesta segunda-feira na Bienal; Jonas Suassuna, presidente do grupo Gol, responsável pela Nuvem; e Carlo Carrenho, fundador da PublishNews, newsletter diária sobre o mercado editorial brasileiro.

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