25 de out. de 2012

Bibliotecária de Auschwitz não se considera uma heroína


 

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Uma mulher, que cuidava de uma pequena biblioteca, foi responsável por proporcionar um pequeno oásis de sanidade mental em meio ao horror de um campo de extermínio nazista, em Auschwitz, que apesar de não ajudar a sobreviver, fornecia um resquício de esperança.

Seu nome é Dita Kraus e atualmente tem 82 anos. Sua trajetória foi contada pelo escritor Antonio G. Iturbe, no romance A bibliotecária de Auschwitz, que parte de fatos reais para criar uma história de ficção na qual Dita é uma autêntica heroína da cultura, encarregada de cuidar de uma biblioteca clandestina no campo nazista.

Mas a Dita Kraus real afirmou, em entrevista à agência EFE em Praga, que não se considera uma heroína. "Nem fui especialmente forte, só que sempre tive a convicção de que não iria morrer, de que não acabaria na câmara de gás", declarou ao lembrar de sua infância.

Dita chegou a Auschwitz quando tinha 13 anos, procedente do gueto judeu de Terezin, na República Checa. "Em Auschwitz, havia uma coisa única. Havia um barracão de crianças. E como menina, estive neste barracão e era responsável pelos poucos livros que havia no local. Era algo único que não existia em outros campos de concentração", relatou.

Na realidade, dos livros que estavam lá, Dita só se lembra de um. "Tenho certeza de que Uma Breve História do Mundo, do romancista e filósofo britânico H.G. Wells, estava lá".

Dita se encarregava de cuidar desse livros, "alguns sem capas", e emprestá-los para as outras crianças, embora afirme que os livros não ajudavam a sobreviver. "Eles não tinham esse papel".

Segundo Dita, "Antonio Iturbe exagerou um pouco nisso", já que a tese do romance é que a literatura serviu de antídoto para o sofrimento e contribuiu para libertar as civilizações de seus fantasmas.

Os livros de Auschwitz, lembra Dita, chegavam das mãos de um presidiário polonês que selecionava a literatura em checo para as crianças do barracão 31 quando os novos presos chegavam à rampa de acesso e perdiam seus bens.

Com tudo, o barracão infantil, de fato, chegou a se transformar em uma espécie de oásis, como lembrou em várias de suas obras o escritor B. Kraus, também internado no campo de extermínio, onde conheceu Dita Kraus, com quem se casou mais tarde.

A passagem por Auschwitz marcou para sempre Dita. "Perdi toda a minha família ali. Meus pais e avôs e todos os meus tios", lamentou. "Penso que ninguém pode imaginar como é ser enviado para a câmara de gás". Dita ainda sofre com pesadelos frequentes pelo o que aconteceu com seus parentes.

"Meu sogro passou por isso. Não consigo superar. Por ele, penso na câmara. Não é uma morte rápida", disse. "Às vezes, me vem esse sentimento. Me identifico com o sofrimento que deviam ter na câmara de gás, que parecia com uma ducha. Porém, ao invés de água, soltavam gás e as pessoas começavam a ficar sufocadas e gritar", lembrou.

E Dita sofre ao ver que "as mães tentavam proteger seus filhos para que não fossem envenenados. Isso é uma das piores coisas que pode existir", acrescentou. Dita viaja para Barcelona e durante sua estadia na Espanha participará da apresentação do romance de Iturbe.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que história comovente dessa jovem que foi uma difusora da leitura num contexto sem esperança.