10 de dez. de 2016

É hora de salvar as Bibliotecas Parque do Rio de Janeiro

Autoria: Carlo Carrenho.
Fonte: Publishnews. Data: 2/12/2016.
No último dia 19/10, estive pela primeira vez em uma Biblioteca Parque, no caso a unidade do centro do Rio. Faço aqui um mea culpa, pois já deveria ter visitado o espaço muito antes. Meus filhos com sotaque carioca, no entanto, já foram várias vezes, algumas com a mãe e muitas com a escola. Era um sábado e fui assistir ao espetáculo Parada Shakespeare, da Cia iLtda, junto com a Tarsila e o Lorenzo, e seus esses e erres puxados.
A biblioteca estava cheia e com muitas atividades. Fui atendido logo de cara por uma recepcionista que, atenciosamente, me indicou o caminho para o teatro. Andei até o local observando jovens que ocupavam todos os espaços da biblioteca. Como chegamos cedo, pudemos participar de uma contação de histórias. Honestamente, uma das melhores que já vi, com direito a tradução para surdos. Mais importante: Tatá e Lolô adoraram... “Iraaado, papai! ”
O teatro era ótimo. A lojinha era linda. Tudo organizado e de alta qualidade. A internet, gratuita, era mais rápida que a da minha casa. Me lembrou as bibliotecas suecas que frequentei quando morei em Estocolmo.
Mas parece que o sonho acabou. Drömmen är över, diriam os suecos. "Deu ruim, papai", diriam Tarsila e Lorenzo. Afinal, as quatro unidades das Bibliotecas Parque – Estadual (Centro), Niterói, Rocinha e Manguinhos ­– passaram a funcionar em horário reduzido desde ontem (1º). Mais grave, os funcionários das mesmas, contratados pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), a organização social que administra a rede, já estão todos de aviso prévio. Embora as bibliotecas sejam estaduais, com o colapso do Estado do Rio de Janeiro, as prefeituras do Rio e Niterói haviam assumido os custos das unidades. No entanto, os apoios municipais não estão garantidos para 2017, e não precisa ser nenhum gênio para se concluir que, se os funcionários estão em processo de demissão, a possibilidade de os novos prefeitos Marcelo Crivella, do Rio, e Rodrigo Neves, de Niterói, manterem a verba é remota na avaliação do IDG.
As três Bibliotecas Parque cariocas custam R$ 1,5 milhão por mês e a unidade de Niterói outros R$ 250 mil. Não é pouco dinheiro, mas também não é um valor impeditivo. Mas temos de ser realistas: o Estado do Rio está quebrado, o novo prefeito do Rio não parece ter o mínimo de interesse em cultura e, em Niterói, a história pode não ser diferente.
Mas vamos ficar assim? Vamos deixar o sonho acabar? Aceitar o “Deu ruim”? Tenho certeza que o IDG e os diretores das bibliotecas estão tentando de tudo para manter os projetos, mas cabe à sociedade se mobilizar também. Estou falando de se manifestar, protestar, mas mais ainda de tentar achar uma solução. Já coloco o PublishNews à disposição para ajudar em qualquer iniciativa para salvar as bibliotecas, seja como canal de comunicação ou facilitador de contatos com o mercado editorial. Eu também, como pessoa física, teria todo interesse em ser um “sócio-apoiador” da iniciativa ou coisa que o valha.
A verdade é que R$ 1,75 milhão por mês é até bem pouco para a iniciativa privada e para grandes empresas. Será que uma ou algumas delas não poderiam bancar o projeto? E quer uma prova de que o valor é baixo? A Odebrecht, que pede hoje desculpas a todos nos jornais por seus atos de corrupção, vai pagar R$ 6,7 bi por esse “perdão”, conforme seu acordo de leniência. Este valor poderia manter as Bibliotecas Parque abertas no Rio de Janeiro por nada mais que 319 anos.

Vamos salvar as Bibliotecas Parque do Rio? “Partiu, papai, demorô!”, diriam Tatá e Lolô.

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