Autor: Elio Gaspari.
Fonte: O Globo. Data: 8/02/2012.
A doutora Dilma deveria mandar que sua Secretaria de Assuntos Estratégicos divulgasse o conteúdo do relatório final da "Avaliação de Impacto do Projeto UCA-Total (Um Computador por Aluno)", coordenado pela professora Lena Lavinas, da UFRJ. Ele está lá, a sete chaves, desde novembro passado.
A providência é recomendável, sobretudo agora que o governo licita a compra de até 900 mil tablets. Com 202 páginas, relata um desastre. A professora Azuete Fogaça, da Federal de Juiz de Fora, trabalhou na pesquisa e resume-a:
"Boa parte dos computadores não foi entregue nos prazos. Outros foram entregues sem a infraestrutura necessária para sua adoção em sala de aula. O treinamento dos docentes não deu os resultados esperados. O suporte técnico praticamente inexiste. Os laptops que apresentaram problemas acabaram encostados em armários ou nos almoxarifados, porque não há recursos".
O programa UCA-Total, lançado em 2010, comprou um laptop para cada um dos 10.484 alunos da rede pública de cinco municípios-piloto: Tiradentes (MG), Terenos (MS), Barra dos Coqueiros (SE), Santa Cecília do Pavão (PR) e São João da Ponta (PA). Uma equipe de 11 pessoas acompanhou a iniciativa.
Os computadores chegariam a escolas equipadas com internet sem fio e professores capacitados colocariam a garotada no mundo novo da pedagogia informatizada.
Os laptops comprados pelo governo têm baterias para cerca de uma hora. Como as aulas duram cinco, como fazer para recarregá-los? (Uma tomada para cada carteira, nem pensar.) As prefeituras colocariam armários-alimentadores nas salas. Nem todos os municípios fizeram isso. Na Escola Estadual Basílio da Gama, em Tiradentes, não havia sinal nem armários de recarga, e os laptops estavam encaixotados.
Deixou-se em aberto uma questão central: o aluno deve levar o computador para casa? Em três municípios, levavam. Num, foram instruídos a não trazê-los todos os dias.
Só metade dos alunos teve aulas para aprender a usar os laptops. Depois de terem recebido cursos de capacitação, 80% dos professores tinham dificuldade para usar as máquinas nas salas de aula. (Problema dos cursos, não deles, pois 91% tinham nível superior ou curso de especialização.) Uma barafunda. As escolas estaduais não conversavam com as municipais e frequentemente não se conseguia falar com o MEC ou com a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Não se diga que os laptops são trambolhos. A garotada adorou recebê-los, e os professores tinham as melhores expectativas. As populações orgulharam-se da novidade. O problema esteve e está na gestão.
A única coisa que funcionou foi a compra de equipamentos. O professor Mário Henrique Simonsen, que conhecia o governo, ensinava: "Às vezes, quando um sujeito te traz um projeto, vale a pena perguntar: 'Qual é a tua comissão? Dez por cento? Está aqui o cheque, mas prometa não tocar mais nesse assunto'".
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