Autoria:
Carlos Andrei Siquara.
Fonte:
O Tempo. Data: 23/02/2016.
URL:
www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/sobre-experi%C3%AAncias-de-leitura-1.1240852
A pedagoga Daniela Figueiredo discute
a formação de jovens leitores e o papel das bibliotecas públicas hoje em BH
Há três anos, a pedagoga Daniela Figueiredo
resolveu investigar os hábitos de leitura de jovens, o que a levou a uma
pesquisa de mestrado centrada no papel das bibliotecas públicas na formação
desses leitores. Após defender o trabalho no ano passado, ela realiza hoje um
encontro na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, onde vai
comentar com o público as principais ideias e percepções resultantes desse
processo.
Um ponto ressaltado por ela é a desmitificação do
desinteresse desse público por esses espaços. “Ao contrário do discurso que
insiste no fato de que os jovens não leem nada, quando eu fui a algumas
bibliotecas, eu notei que muitos deles participavam de atividades de leitura e
pegavam livros emprestados. Isso me inquietou e me levou a conhecer melhor
esses ambientes que recebem esses leitores e promovem ações voltadas,
principalmente, ao incentivo do contato com obras literárias”, afirma
Figueiredo.
Outro aspecto que chamou a sua atenção foi a
maneira como os frequentadores criavam uma relação com os bibliotecários, o que
ao seu ver refletia não só a constante presença deles, mas uma ligação baseada
no diálogo. “Eu notei que o envolvimento que eles tinham com os bibliotecários
era importante para eles estarem ali. O funcionário saber quem é o jovem,
chamá-lo pelo nome, ter uma noção do que ele gosta de ler se revelavam algo
essencial, inclusive para a introdução de novas leituras”, diz.
Em 2014, a pesquisadora conta que visitou quatro
bibliotecas municipais e também realizou entrevistas com os leitores. Nesta
segunda etapa, ela os visitou em casa, o que também foi relevante para
compreender a importância do meio familiar para estimular a fruição dos livros.
“Essa ida às casas dos jovens deixou claro que quem
costumava frequentar a biblioteca geralmente vinha de uma família que
valorizava a leitura. Boa parte dos meninos que eram levados quando crianças
continuava participando das ações à medida que crescia. Eles também apontavam,
na casa deles, às vezes, um lugar onde guardavam suas leituras, e isso
indicavam a maneira como o hábito era cultivado”, completa.
Figueiredo observa que é muito comum os jovens se
guiarem a partir dos gostos dos colegas quando o assunto é um livro a ser lido.
Portanto, é comum a reprodução nas bibliotecas do foco nos best-sellers do
momento, enquanto também há o perfil de outros que buscam alternativas a esse
padrão.
“Há uma relação de rede. Eles leem o que todo mundo
está lendo, pois esse é um fator que traz pertencimento a um grupo. Porém, ao
mesmo tempo, nós vemos que alguns querem fugir desse modelo do best-seller,
especialmente quando percebem que há uma espécie de enredo que se repete nessas
narrativas”, relata.
Em razão disso, ela comenta ser fundamental a
atuação dos bibliotecários, que podem sugerir obras a partir dessas demandas.
“Numa das bibliotecas que visitei, por exemplo, eu percebi que os jovens liam
muitos títulos com temas de terror, como aqueles sobre vampiros. O
bibliotecário, tendo em vista esse interesse, mostrou a alguns deles as obras
de Edgar Allan Poe e, assim, aos poucos, eles foram se familiarizando e se
apropriando desse autor e de outros que não estão nas listas dos mais
vendidos”, afirma.
Figueiredo também questiona a ideia de a leitura de
uma obra popular poder levar o jovem a se interessar por outras do repertório
clássico. Contudo, ela frisa a necessidade de a biblioteca acolher e permitir o
acesso a uma diversidade de conteúdo. “Não acho que exista essa passagem, quase
como se fosse uma ascensão do best-seller para o clássico. O que eu entendo é
que a biblioteca deve possuir uma variedade de acervo capaz de mostrar ao jovem
as várias possibilidades de leitura. O diálogo também é fundamental para que
eles construam o entendimento e o significado em torno dos diversos livros”,
conclui.
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