Fonte: FolhaMax (Cuiabá, MT). Data:
29/11/2015.
URL:
www.folhamax.com.br/cidades/auxiliar-de-biblioteca-vira-pagina-de-sua-historia-com-leitura/68015
Dois anos após entrar para a Escola
Estadual Odorico Leocádio Rosa, em Rondonópolis, Tânia Mara de Assis deu uma
reviravolta na sua vida e de muitos estudantes. Ela idealizou e pôs em prática
um projeto com a meta de promover a leitura. Mas não aleatoriamente. Assim como
ela, estudantes do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental passaram a ler um livro
por semana e a promoverem a roda compartilhada.
Tudo começou quando conseguiu o
trabalho como auxiliar de biblioteca na escola. Sem nunca ter lidado com
tarefas na área de educação, uma vez que atuava em empresas privadas e em áreas
administrativas, Tânia deixou-se ‘contaminar pelo ambiente’ e criou o projeto.
Primeiro, para vencer a própria timidez, mas de tão bom que achou, interagiu
com as crianças e adolescentes. Assim nasceu um projeto que motiva a classe
estudantil.
A dinâmica não fica só na leitura.
Todos fazem um resumo do livro e se reúnem uma vez por semana para contar as
histórias aos demais colegas, numa grande roda de leitura. “Ler me ajudou
e muito, até na vida pessoal. Resolvi inventar uma ação porque estão numa fase
(adolescência) em que gostam de coisas diferentes”, relatou.
Ideias
A maioria dos resumos fica arquivado
na biblioteca da escola, outros estudantes preferem colar o material produzido
em caderno que eles destinaram para esse fim. Mikaelly Pereira de Matos,
12 anos, é participante fervorosa da iniciativa, até sugere as histórias que
mais gosta para que outros colegas também leiam, inclusive para a idealizadora da
ação.
“Os bons livros a gente sempre indica
e todo mundo participa. É um trabalho muito bom e interessante, que rende
frutos. Você pode desenvolver outras habilidades além da leitura, como falar
melhor e ampliar o vocabulário. A primeira vez a gente sente um pouco de
vergonha para relatar aos demais estudantes, mas depois vamos perdendo isso”,
explicou a estudante.
A partir da leitura, outras ideias
ganharam espaço na biblioteca, como declamar poesia com o microfone. “É outra
atividade que eles adoram, além de ajuda-los a perderem o medo, a timidez,
tornam-se mais desinibidos. Eu sofri muito com isso e falo para eles que não
quero que passem por isso. Falo para eles o quanto é importante irem se
soltando aqui, para não ter que se soltar lá na frente. Por que, assim, quando
estiverem em outro ambiente escolar vai ser fichinha, vão tirar de letra. E
todos gostam, dificilmente não querem participar”, destacou Tânia.
Ela confessa que até recorreu à ajuda
de psicólogos para perder o medo e vencer o trauma pela gozação dos colegas
(quando estudava). Hoje casada, tem filhos adultos, mas nenhum com o gosto pela
leitura. Segundo ela, os estudantes já apresentam mudanças, se comparadas
quando iniciaram o projeto. Agora já não demonstram tanta dificuldade em falar
em público.
Cautelosa, no entanto, a auxiliar que
acabou se tornando uma educadora no processo diz que mais coisas precisam ser
mudadas, mas aos poucos. É que os estudantes não gostam de livros volumosos,
sempre as escolhas são por obras mais finas. A preferência também varia. Os
pequenos, do 1º ao 5º ano preferem fábulas, os maiores ficam com os contos e
poesias.
Além da maratona de um livro por
semana, eles não estão isentos das obras exigidas pelos professores em sala de
aula. As ações inovadoras têm feito a diferença na Escola Estadual Odorico
Leocádio Rosa, onde todos se envolvem no processo de ensino e aprendizagem.
A escola é a melhor da Região
Centro-Oeste, segundo avaliadores do Prêmio Gestão Escolar. Ela é uma das
finalistas, juntamente com outras 4 representantes regionais para a melhor do
Brasil, que será conhecida em no início de dezembro em Brasília (DF).
Aprendizado
“Não sei como será minha vida fora da
educação. Estou adorando esse serviço. Nunca gostei de trabalho repetitivo e
aqui, o ambiente, a escola, os alunos, o projeto de leitura, tudo conspira para
que cada dia haja uma nova descoberta, um novo aprendizado, uma troca”, revelou
Tânia.
Como não gostava de ler, não
conseguiu implantar essa disciplina com seus filhos, hoje já adultos. Mas o
comportamento tende a ser diferente quando o assunto diz respeito a neta. “Leio
historinhas e tento semear algo diferente com minha neta. Ela gosta de ouvir,
já demonstra interesse e é participativa. Vai inclusive entrar na abertura da
festa, um show de talentos que faremos no final de novembro aqui na escola”,
destacou entusiasmada com a mudança de hábito que está a caminho entre os seus
descendentes.
Tânia parece ter conquistado mesmo a
confiança dos estudantes. Em busca das melhores performances na programação do
final do mês, eles a procuraram para ajudá-los na preparação das apresentações.
Os ensaios acontecem na biblioteca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário