Autora: Mara Gergamaschi.
Fonte: O Globo. Data: 8/1/2011.
Nave-mãe da BibloRed, sistema municipal formado por quatro grandes bibliotecas, seis médias e dez menores, de bairros —, a imponente Virgílio Barco, que tanto sucesso faz em Bogotá, tem uma área total que não chega à metade do tamanho da natimorta Cidade da Música do Rio. Comparando-se os espaços construídos, o empreendimento carioca, além de mais sofisticado e caro, é quatro vezes maior. Mas a grande — e óbvia — diferença, além das áreas artísticas (música e literatura), é que a Virgílio Barco, plantada no maior parque de lazer da cidade, o Simon Bolivar, está aberta todos os dias, quase sempre até as 20h, para vários públicos e demandas: o livro é a principal estrela, mas não o único atrativo cultural.
— Não temos nada semelhante no Brasil — resume Beth Serra, secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ). — Ainda vamos ter de caminhar muito para ter boas bibliotecas públicas e escolares.
Novas bibliotecas do Rio inspiram-se nas colombianas
Na avaliação dos que conhecem a área, o livro e a leitura não estão no centro de nossas políticas de educação e cultura. Não adianta erguer bibliotecas — inexistentes em muitos municípios brasileiros — sem planejamento, pessoal treinado e projeto de ocupação consistente. O problema não se resolve com a construção de equipamentos culturais, por mais belos e monumentais que sejam. A Cidade da Música, que deve funcionar um dia, é só o mais recente exemplo disso. Há muitos outros: inaugurada em 2008, a biblioteca de Brasília, assinada por Niemeyer, ainda é um prédio semifantasma na Esplanada, sem livros para o público e com o atendimento suspenso para crianças.
Escritores colombianos relatam que as conquistas em seu país foram lentas e árduas — e dependeram da reformulação de políticas públicas. Afirmam também que ainda há muito a ser feito.
— Houve uma mudança na educação, um incentivo significativo à leitura, e isso foi fruto do trabalho de professores, bibliotecários, escritores — avalia o escritor e ilustrador Ivar Da Coll.
— O discurso de promoção da leitura ganhou a agenda política nacional pelo esforço da sociedade — reforça Yolanda Reyes, que também escreve para os pequenos.
Ela confere ao Brasil papel importante na renovação da literatura oferecida às crianças de seu país.
— Eu vi nascer nos anos 80 a Associação de Livros Infantis que lançou entre nós, trazidas por Silvia Castrillón, obras maravilhosas de autores brasileiros. Não sei como seria meu trabalho sem Lygia Bojunga — confessa.
Com IDH próximo do Brasil — apesar de ter metade de seus 44 milhões de habitantes abaixo da linha da pobreza —, a Colômbia ostenta hoje índices de leitura superiores ao nosso e taxas de analfabetismo inferiores. Além da BibloRed, há outras redes públicas, como a capitaneada pela histórica biblioteca Luis Ángel Arango, que alcançam várias cidades. Nos últimos anos, das 360 escolas municipais da capital, 120 ganharam novas salas de leitura ou tiveram seus espaços reformados. “Vamos querer tudo igualzinho”, era o que repetiam as professoras brasileiras. A experiência do país vizinho já está inspirando a instalação de bibliotecas-parques no Brasil. No Rio de Janeiro, são três projetos: a de Manguinhos, em funcionamento, a da Rocinha e a do Morro do Alemão. Um bom começo para a gente não morrer tanto de inveja dos hermanos.
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Um comentário:
A leitura pode reduzir as diferenças sociais. As comunidades carentes precisam ter bibliotecas públicas!
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