Fonte: Agência
FAPESP. Data: 18/05/2015.
Autoria: Elton Alisson.
URL: http://agencia.fapesp.br/publicacoes_internacionais_sobre_biodiversidade_ganham_acesso_livre/21164/
As coleções de livros e
outras publicações em papel pertencentes às bibliotecas das principais
instituições de pesquisa no mundo – incluindo as do Brasil –, com acervos
relevantes sobre biodiversidade, estão sendo
digitalizadas e disponibilizadas para acesso livre na internet por meio do consórcio internacional de
bibliotecas botânicas e de história natural Biodiversity Heritage Library
(BHL).
Lançada
em 2006, nos Estados Unidos, com o objetivo de tornar a literatura mundial
sobre biodiversidade disponível por meio do acesso aberto e facilitar seu uso
em projetos de pesquisa e outros fins, a iniciativa evoluiu e resultou na
criação da rede global da BHL (gBHL), com a participação da África do Sul,
Austrália, China, Egito, Estados Unidos e Europa. O Brasil integra a iniciativa
por meio da rede BHL-SciELO.
Liderada
pelo programa SciELO, da FAPESP, a rede envolve o programa BIOTA, também da
Fundação, além da Sociedade Brasileira de Zoologia e os sistemas de informação
e coleções de bibliotecas das Fundações Zoobotânica (FZB), Biblioteca Nacional
(FBN) e Oswaldo Cruz (Fiocruz); Institutos Butantan, de Botânica do Estado de
São Paulo (Ibot) e de Pesquisas da Amazônia (Ipam); Jardim Botânico do Rio de
Janeiro (JBRJ); museus Nacional, Paraense Emilio Goeldi e de Zoologia da
Universidade de São Paulo (MZ-USP); e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Entre os
dias 6 e 8 de maio, a rede global da BHL realizou no Instituto Butantan e na
FAPESP a sua primeira reunião em um país da América Latina.
“A proposta de criação da rede BHL-SciELO
surgiu de um projeto conjunto entre a Sociedade Brasileira de Zoologia, o Museu
de Zoologia da USP e o programa SciELO, e sua implementação foi discutida, em
2006, em uma assembleia de pesquisadores da área realizada durante a COP-8
[Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)], em
Curitiba”, disse Abel Packer, diretor do programa SciELO na abertura da
reunião, na FAPESP.
“Desde
então, percorremos um longo caminho até o lançamento da BHL-SciELO, em 2010.”
A criação
e o desenvolvimento da rede foram financiados por meio do projeto SciELO
Biodiversidade, apoiado pela FAPESP no âmbito do programa BIOTA e de projetos
de digitalização on-line de coleções de obras essenciais em biodiversidade das
bibliotecas brasileiras apoiados pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas
do Ministério do Meio Ambiente.
“O
Ministério do Meio Ambiente financiou a infraestrutura de digitalização dos
documentos das bibliotecas das instituições participantes. Por sua vez, a
FAPESP financiou a organização, tratamento e publicação das fontes de
informação”, explicou Packer.
De acordo
com Packer, estima-se que 25% da produção científica brasileira relacionada à
biodiversidade seja publicada em periódicos brasileiros, sendo a maioria
indexada e publicada em acesso aberto pela SciELO.
Há uma
série de documentos relevantes relacionados ao tema, contudo, que só está
disponível em papel nas bibliotecas de universidades e instituições de pesquisa
na área, ponderou.
“Nossa
proposta é preencher essa lacuna na publicação de conteúdos sobre a
biodiversidade brasileira com um esforço mais exaustivo possível de digitalizar
todo o material relevante que está em papel e disponibilizá-lo on-line para que
possa interoperar com artigos e periódicos publicados na SciELO e outras fontes
de informação”, disse Packer.
“Além
disso, o objetivo é tornar esse material disponível globalmente e ingressá-lo
no fluxo internacional de informação por meio da rede global da BHL”, explicou.
Foram
digitalizados nos últimos três anos 869 documentos, provenientes de quatro
bibliotecas – Museu de Zoologia da USP (232), Jardim Botânico do Rio de Janeiro
(176), Instituto Butantan (285) e Museu Paraense Emílio Goeldi (176) –, que
estão com indexação pendente.
A meta é
digitalizar até o fim de 2016, ao todo, mais de 2 mil obras sobre
biodiversidade consideradas relevantes, contou Packer.
“Estimamos que seria necessário digitalizar
entre 3,5 mil e 4 mil obras para fazer uma cobertura exaustiva dos documentos
relevantes sobre biodiversidade que estão em papel nas bibliotecas das
instituições de pesquisa brasileiras”, disse.
A SciELO
tem hoje 45 revistas indexadas e em acesso aberto relacionadas à
biodiversidade, publicadas por seis países das Américas: Argentina, Brasil,
Colômbia, Costa Rica, Chile e México. Além disso, a biblioteca virtual
desenvolveu uma coleção sobre legislação em biodiversidade que deverá ser
atualizada até o fim de 2015.
Outra
novidade da biblioteca é um tesauro (lista de palavras semelhantes, dentro de
um domínio específico de conhecimento) em biodiversidade, em português, inglês
e espanhol. “Esse tesauro contribuirá para os processos de indexação automática
de conteúdos e possibilitará ao usuário fazer buscas em diversos idiomas”,
avaliou Packer.
Acesso à
informação qualificada
Na
avaliação de Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e coordenador do programa BIOTA-FAPESP, o acesso à informação
qualificada sobre biodiversidade é uma ferramenta de suma importância para o
fortalecimento da comunidade científica nacional e internacional e representa
um dos principais gargalos para a realização de diagnósticos de biodiversidade
em diferentes regiões do mundo.
“De maneira geral, a informação sobre
biodiversidade no mundo é fragmentada, dispersa e, muitas vezes, de difícil
acesso, porque está disponível apenas em literatura não publicada, como teses,
monografias e relatórios, e mesmo quando está publicada, não há a possibilidade
de ser usada para o aperfeiçoamento de políticas públicas porque os dados são
pontuais”, avaliou o pesquisador em sua palestra durante o evento.
“Foi por
isso que quando foi criado o programa BIOTA-FAPESP começou a ser desenvolvido
um mecanismo para reunir informações altamente técnicas, combinadas com uma
base cartográfica e com acesso aberto, pela internet, que permitisse o uso
dessas informações para formulação e aperfeiçoamento de políticas públicas”,
contou.
Denominado
SinBIOTA, o banco de dados sobre biodiversidade do programa BIOTA-FAPESP reúne
toda a informação taxonômica das espécies coletadas nos biomas do Estado de São
Paulo, incluindo onde, como, em que condições e por quem foram coletadas.
O banco
de dados do BIOTA integra o Global Biodiversity Information Facility (GBIF), ao
qual a BHL pretende se integrar.
“Esperamos
que a base do GBIF possa ser usada pela Plataforma Intergovernamental de
Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos [IPBES, na sigla em inglês] para a
realização de diagnósticos regionais”, disse Joly, que é membro do painel
multidisciplinar de especialistas da entidade internacional criada em 2012 com
a função de sistematizar o conhecimento científico acumulado sobre biodiversidade
para subsidiar decisões políticas no âmbito internacional.
“Estamos
implementando um programa de trabalho bastante ambicioso no âmbito do IPBES e
um dos gargalos que identificamos para fazer diagnósticos de biodiversidade em
diferentes regiões do mundo é o acesso à informação qualificada. Certamente o
GBIF e a BHL serão parceiros estratégicos para que possamos avançar nesse
sentido”, avaliou.
Até o
momento, a BHL já digitalizou mais de 45 milhões de páginas de mais de 159 mil
publicações das bibliotecas que integram o consórcio.
“O número
de visitantes das páginas atingiu em 2014 a marca de mais de 927 mil”, disse
Nancy Gwinn, presidente do conselho de membros da BHL e diretora do Smithsonian
Institution Libraries.