Tarcisio Zandonade,
Professor da UnB, aposentado
Fonte: Correio Braziliense (Brasília, DF). Data: 22/04/2012.
O Correio Braziliense publica regularmente oportunas matérias sobre a mais importante atividade na aprendizagem: a leitura. Este tema é quase sempre analisado sob a perspectiva da falência do ensino da leitura, ou seja, conclui-se sempre que o leitor brasileiro lê, mas não entende... Tony Buzan, um bem sucedido autor inglês, lança pela BBC desde 1974 periódicas edições ou reimpressões do livro Use Your Head (Use a Cabeça). O quarto capítulo desse livro trata da leitura, que para Buzan é o inter-relacionamento total do indivíduo com a informação simbólica. Esse inter-relacionamento desenvolve-se em sete passos.
Os sete passos são os seguintes: (1) Reconhecimento – o aprendiz de leitor aprende os símbolos das letras e dos números. (2) Assimilação – o processo físico, pelo qual a luz é refletida a partir da palavra e recebida pelo olho do leitor e depois transmitida ao seu cérebro pelo nervo ótico. (3) Compreensão – o leitor faz uma ligação de todas as informações que está lendo, com as outras partes do mesmo texto. (4) Entendimento – o leitor analisa, critica, avalia, seleciona e rejeita o que está lendo e integra a informação que lê com todo o seu conhecimento anterior, fazendo as conexões entre os conceitos aprendidos. Assim, quanto mais livros o leitor lê, mais entenderá o próximo livro. (5) Retenção – o leitor armazena na sua memória o resultado de todos os passos anteriores, criando uma verdadeira “biblioteca” na sua cabeça. (6) Revocação – o leitor “chama de volta”, recupera ou lembra o que leu, no momento em que precisa da informação armazenada na sua memória. (7) Comunicação – o nível mais profundo, que é atingido somente quando se consegue transmitir aquilo que foi lido.
Mas, como se dá o processo ótico da assimilação? Ao ler um texto, parece que os olhos se movimentam suavemente, do início até o fim de uma linha, e depois voltam ao início da linha seguinte, até o fim do texto. Esse processo, porém, é muito mais rico do que parece: os olhos movem-se em saltos rápidos (contrações) e rápidas fixações (estabilizações) pelas linhas do texto. A leitura acontece somente durante as fixações, que ocorrem de três a quatro vezes por segundo. Os olhos precisam dessa fixação ou parada para “fotografar” uma palavra ou uma sequência de palavras. A sensação de continuidade na leitura, portanto, é apenas uma ilusão! Esse processo foi descoberto somente no século 19 pelo oftalmologista francês Emil Javal. Conhecendo esse maravilhoso processo neuropsicológico, quais lições podem ser tiradas? Antes de tudo, o leitor deverá perceber que ler é uma técnica e uma arte. Além disso, deverá saber que mais de 80% do que se aprende é resultado da leitura.
Conclui-se, então, que os pedagogos e os gestores educacionais, incluindo a família, devem conhecer a grande potencialidade da criança para aprender a ler. Com certeza, conhecendo a maravilha do processo de leitura, a criança será motivada a gostar de ler. Algumas lições podem ser tiradas dessas reflexões:
(a) A criança aprende a ler com muita facilidade, motivação e alegria, e com relativa rapidez. Os educadores, de modo geral, conseguem ensinar a ler de forma eficiente. Entretanto, se a criança não tiver o que ler, chegará somente ao nível (2) da leitura. Virá a ser mais um brasileiro que lê, mas não entende...
(b) Todas as escolas devem ter uma boa biblioteca, pois uma escola sem biblioteca não ensina a ler, apenas engana! As crianças, cujos pais lêem em casa, lerão mais e melhor! Mas, a responsabilidade de providenciar os livros para a leitura é da biblioteca escolar. Além disso, os jovens gostam de livros atualizados, bonitos, limpos e bem conservados! Não é com livros descartados de outras coleções que se vai motivar a leitura...
(c) Biblioteca escolar sem um bibliotecário para organizá-la e administrá-la torna-se logo um depósito de papel velho. Há escolas públicas no Distrito Federal, que por economia fecharam as bibliotecas e abriram “salas de leitura” para não contratar bibliotecários. Para que uma biblioteca escolar funcione bem é preciso também que os bibliotecários escolares sejam remunerados, pelo menos, no mesmo nível dos professores, uma vez que o bibliotecário é o melhor colaborador do professor, tanto na educação dos alunos, quanto na atualização dos próprios professores.