Autora: Katherine
Coutinho.
Fonte:
Paraíba.com Data: 29/04/2012.
URL: www.paraiba.com.br/2012/04/29/56941-biblioteca-montada-em-jumento-incentiva-a-leitura-no-interior-de-pe
Uma
biblioteca itinerante que tem como meio de transporte um jumento. A ideia
inusitada faz parte do projeto 'Livros Andantes', que passeia atualmente pela
Mata Sul de Pernambuco incentivando a leitura nas comunidades rurais de Raiz de
Dentro e Estevinhas, em Amaraji. Cada um dos povoados vai receber quase 200
livros e cordéis, que ficam para a comunidade depois dos 16 encontros
promovidos pelo projeto. Os encontros acontecem sempre aos domingos, com participação
de professores e arte-educadores capacitados em oficinas do Livros Andantes.
Neste
domingo (29), o projeto vai estar na comunidade de Raiz de Dentro durante a
manhã. Na parte da tarde, é a vez de Estevinhas, ambos no município de Amaraji
. “Pela nossa experiência, depois do 16º encontro, a comunidade já tem certa
intimidade com os livros, já vai em busca deles. Afinal, nosso objetivo é
realmente esse, deixar os livros, formar novos leitores”, conta Clara Angélica,
coordenadora do projeto.
A escolha
do jumento como meio de levar os livros às comunidades, que não tem um acesso
fácil, faz parte do processo de conquista do público. “Quando eu pensei no
projeto, pensei em ir em busca desse potencial leitor, que não tem como se
deslocar até a biblioteca da cidade. O jumento é um meio de transporte bastante
comum na região, eles usam para transportar o que plantam, como banana, inhame,
cará. Era uma forma de fazer parte do cotidiano deles”, explica a coordenadora.
As
atividades da biblioteca itinerante começam com a leitura de algum trecho ou
capítulo de um livro e, depois, o público é convidado a escolher mais um para
ser lido. Após a leitura, entram em cena os arte-educadores e os empréstimos
dos livros, buscando sempre que o leitor compartilhe no encontro seguinte parte
da obra com os outros. "Quando você tem contato com os livros, de alguma
maneira uma luz se acende na sua vida. É como se você estivesse o tempo todo na
escuridão, e quando você tem contato com o livro, o mundo se abre pra você de
alguma forma. Isso não tem preço", defende Clara Angélica.
Entre os
títulos à disposição das comunidades estão livros de autores pernambucanos, mas
também de obras clássicas da literatura brasileira e mundial. “A gente leva
Ariano Suassuna, Raimundo Carrero, literatura de cordel, não só naquela
ediçãozinha de livreto, mas também uns de capa dura que já são publicados.
Romeu e Julieta, uma versão mais adaptada para uma linguagem mais popular, a
gente tem essa preocupação de trazer a boa literatura”, detalha Clara.
A
primeira edição do projeto aconteceu em 2009, no povoado de Prata Grande, onde
o projeto comemora mais de 1.200 empréstimos, e de Estivas, ambos em Amaraji.
“Uma coisa que é muito legal é a receptividade, o encantamento que o livro
provoca. Na primeira vez, muitos chegaram a cavalo e ficaram dentro de um
abrigo. É todo um processo de conquista. No dia seguinte do primeiro encontro,
seis adultos foram lá me procurar para serem alfabetizados”, lembra a
coordenadora.
Nesta
edição, além da ‘biblioteca-jumento’, o projeto criou também um cineclube, que
leva curtas-metragens ligados às temáticas da comunidade. No primeiro encontro
deste ano, no último dia 15 de abril, o filme foi ‘Terra para Rose’, de Tetê
Moraes, documentário de 1985 que fala sobre reforma agrária. “Eles se
identificaram, lembraram que foram de Vitória de Santo Antão para o Recife a
pé, compartilharam experiências”, conta animada Clara.
Para esse
domingo (29), o cineclube apresenta um documentário sobre mulheres que raspam
mandioca. “É um documentário, um curta que tem totalmente a ver com a realidade
deles. Eles têm casa de farinha, plantam a mandioca”, acrescenta a
coordenadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário