O EVENTO
O Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD) é promovido pela Federação de Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) desde 1954, com o objetivo de “revelar, no contexto da sociedade da informação e do conhecimento, o estado da arte das pesquisas, das práticas e do desenvolvimento de produtos e serviços relacionados às bibliotecas, sistemas de informação, documentação e redes de bibliotecas no Brasil e do exterior.”
O XXIV CBBD foi organizado na forma de workshops, sessões de comunicação de trabalhos e sessões plenárias.
Na abertura do evento foi discutida uma situação de interesse da classe que merece ficar aqui registrada. Com a aprovação da lei que determina que haja um bibliotecário em cada biblioteca de cada instituição de ensino, foi aberto um mercado de trabalho de aproximadamente 200 mil novas vagas para o bibliotecário. Considerando que no País existem 18 mil bibliotecários atuantes, há um déficit muito grande. A classe teme que possa ocorrer uma desregulamentação da profissão, mesmo que o artigo terceiro da Lei nº 12.244, de 2010, determine in verbis:
Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares, nos termos previstos nesta Lei, seja efetivada num prazo máximo de dez anos, respeitada a profissão de Bibliotecário, disciplinada pelas Leis nºs 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998.
ALGUMAS ESTATÍSTICAS DO EVENTO
Algumas estatísticas do evento foram anunciadas na sessão de encerramento que consideramos interessantes para mostrar a abrangência e a importância do congresso para a classe bibliotecária.
A 24º edição do CBBD, em Maceió, recebeu 1.146 congressistas, oriundos de todos os estados brasileiros. Do Distrito Federal estavam inscritos 61 profissionais.
O tema central foi Sistemas de Informação, multiculturalidade e inclusão social subdivido em três subtemas: 1) Informação, Conteúdos e Conhecimento na Sociedade da Informação; 2) Direito à Informação, Acesso à Informação e Inclusão Social; 3) Políticas de Informação, Multiculturalidade e Identidade Cultural.
Os oito workshops oferecidos foram frequentados por 155 profissionais. Aconteceram cinco sessões plenárias. Em relação às apresentações orais das pesquisas e relatos de experiências, foram aprovados 288 trabalhos que constam dos Anais do XXIV CBBD, mas foram efetivamente apresentados 234. Na seção de pôsteres estavam disponibilizados 129.
A feira de produtos e serviços contou com 42 expositores e, ainda, foi apresentada a biblioteca modelo, organizada pela FEBAB e patrocinadores, que ao final do evento foi doada ao município de Arapiraca (AL).
O WORKSHOP: Do You speak Google?
O workshop foi uma atividade pré-congresso, realizada de 9 às 17 horas, no dia 7 de agosto (domingo). Entre as oito possibilidades oferecidas, escolhi participar do workshop Do you speak Google?, ministrado pela professora Suely de Brito Clemente Soares.
Com certeza o Google é o buscador mais utilizado por leigos e profissionais na procura por informações. Muitas de suas ferramentas, funcionalidades, produtos e serviços podem servir de exemplo para o Portal LexML.
A primeira parte do curso discutiu o Google como símbolo da “linguagem” dos nossos dias, a geração Google. A discussão não se resumiu apenas ao Google, mas às novas formas de transmissão de informação, que tem o Google como grande expoente. A instrutora destacou as características desse estágio da era informação que agora vivemos. Antigamente, o corte era verticalizado, onde instituições e governos decidiam o que a população podia e deveria tomar conhecimento – como exemplo citou o caso da chegada do homem à lua, quando apenas e tão somente a Nasa decidiu o que podia ser divulgado. Nos dias atuais, o corte é horizontal, pois todo cidadão com um celular na mão é capaz de ser espectador e ao mesmo tempo um divulgador de informações de eventos e essa divulgação tem alcance mundial. O exemplo mais marcante e recente é o terremoto que aconteceu no Japão, quando transeuntes filmaram e fizeram upload de imagens logo após o acontecimento.
Discutiu-se também a máxima que a internet e Google “emburrecem”, para a instrutora estamos no “dia seguinte” da revolução ou da evolução das formas de construção do conhecimento e na sua divulgação. Ela advoga que os “instrumentos de medição” do QI precisam ser atualizados, pois se por um lado perdemos algumas habilidades, por outro desenvolvemos outras, pois novas sinapses cerebrais são ativadas por causas das novas mídias. Mencionei a notícia recente que a maioria dos estados americanos estão abolindo a letra cursiva. Para a instrutora esse fato não é assustador e segundo sua concepção precisamos analisar esse fato à luz do novo ambiente que vivemos. Citou ainda Platão que achava que a escrita não era bem-vinda, porque para ele a verdadeira forma de transmissão do conhecimento seria oral e presencial, quando era possível o diálogo e a discussão. Mencionei ainda Umberto Eco que fala da velocidade do envelhecimento das mídias. Segundo ele não é mais possível ler registros gravados em disquetes, mas ainda é possível ler o material impresso há mais de 500 anos, por exemplo.
As características do Google, e na verdade das novas ferramentas de informação, podem ser:
v Atemporal e ubíquo – os serviços estão disponíveis a qualquer momento do dia, sendo que o usuário pode acessá-los de seu escritório, residência, por exemplo;
v Híbrida – as formas de acesso são híbridas, pois o acesso pode ser por computador, notebook, celular, ou Ipad. As bibliotecas estão também fornecendo serviços híbridos, pois oferecem serviços presenciais e digitais;
v Rastreabilidade – cada vez mais nossas “trilhas” digitais são mapeáveis e serviços como o Google podem formar um perfil de casa usuário pelo uso que ele faz da internet;
v Customização – os serviços e produtos estão oferecendo a possibilidade de serem oferecidos de forma personalizada para cada usuário satisfazendo suas necessidades e tem a forma de apresentação que for mais interessante para o usuário. No caso, do tradicional catálogo de biblioteca que avançou para OPAC, agora está ou deveria estar aceitando a folksonomia, permitindo ao usuário que inclua suas próprias “tags” (cabeçalho de assuntos). Na feira de produtos e serviços foi possível ver a ferramenta PRIMO, desenvolvida pela Ex-Libris que permite essa função;
v Compartilhável – as diversas facetas do Google são interoperáveis permitindo o compartilhamento de informações e arquivos, como consequência é possível o trabalho em colaboração, a exemplo do Google Docs.
v “Embeb” – as diversas ferramentas podem ser “embedáveis” ou incorporadas de um instrumento para outro.
Um dos pontos negativos do excesso da rastreabilidade, além da falta de privacidade, é o risco que se corre de perder documentos. Sempre que acessamos o sistema somos reconhecidos e os resultados de nossas buscas são trazidos de acordo com o nosso perfil que já foi anteriormente definido.
A instrutora mostrou algumas das funcionalidades do Google, tais como:
v Alerta Google – é possível cadastrar palavras e expressões e somos avisados por email sempre que essas palavras ou expressões apareçam em novos documentos;
v Google Docs – é uma ferramenta que permite construir documentos (arquivos Word, planilhas ou apresentações) em conjunto;
v Google site – oferece “templates” para a construção de sites;
v YouTube – foi mostrada a função de tradução com a colocação de legendas para vídeos em outros idiomas diferentes que o português;
O Google é a grande representação do novo ambiente que o bibliotecário precisa estar preparado para atuar. Nesse sentido é importante o autodidatismo e o exercício da “curiosidade profissional” em procurar e testar novos instrumentos. Essas novas ferramentas tem um grande impacto no dia-a-dia do profissional da informação.
A segunda parte do curso se deteve nos ensinamentos para o estabelecimento da estratégia de busca na web, principalmente utilizando a pesquisa avançada do Google.
EXPOSIÇÕES ORAIS
As 234 exposições foram apresentadas simultaneamente em sete salas diferentes, no período matutino e vespertino, sendo assim o congressista necessitava escolher as palestras de seu interesse. Cada palestrante tinha 20 minutos para a sua apresentação. Tentei eleger as palestras que tivesse como temática informação jurídica e/ou o uso de novas tecnologias.
Pelas palestras assistidas, pude observar duas vertentes: o intensivo uso de novas mídias e a discussão de problemas que já são antigas preocupações na Biblioteconomia.
O usuário modificou seu comportamento e exige mudanças dos serviços de informação que lhe são oferecidos, exige inclusive mudanças nas regras das bibliotecas, como a revogação da proibição da utilização de celulares em bibliotecas, porque esses dispositivos móveis possuem aplicativos onde o usuário busca normalmente sua informação. As redes sociais agilizam a transmissão da divulgação da informação e conseqüentemente do conhecimento, mas as bibliotecas precisam analisar e aprender como utilizar as redes sociais para a disseminação da informação que é de interesse para a entidade mantedora. Os blogs e o Twitter são formas velozes de comunicação com o usuário, mas os bibliotecários precisam estar preparados para entender a dinâmica dessas ferramentas escolhendo de forma correta a abordagem que será feita. Deve-se entender que nesses ambientes o usuário tem uma postura bastante informal, utiliza linguagem natural e manifesta-se sem inibições. Se o uso que a biblioteca fizer dos blogs e o Twitter for muito burocrático pode ter efeito adverso ao esperado – conquistar o usuário – e afastá-lo desses meios de comunicação. O bibliotecário ao utilizar essas ferramentas precisa criar uma relação de confiança e desenvolver um sentimento de pertencimento no usuário.
O usuário passa a ser ator e autor dentro das redes sociais. Esses papéis podem ser também desenvolvidos pelo usuário dentro dos serviços oferecidos pela biblioteca. No cenário anterior, os bibliotecários eram os únicos responsáveis pela indexação dos documentos; com as novas ferramentas, o usuário passa a ser um colaborador ao incluir suas “tags” e comentários sobre determinado livro ou artigo de periódico, por exemplo.
O bibliotecário precisa repensar as formas de tratamento da informação para potencializar a sua recuperação. É preciso ter conhecimento de Netnografia para entender o comportamento do usuário na internet e oferecer os serviços de acordo com o seu perfil, interesse e com a linguagem apropriada.
Em quase todas as palestras foi possível notar termos ou expressões que se repetiam: blogs, wikis, redes sociais, Facebook, acesso aberto, software livre, Google, interoperabilidade, preservação digital, biblioteca 2.0, web 2.0 e pontos unificados. Essa constante mostra a tendência moderna.
Curioso foi conhecer outro serviço similar ao Portal LexML, que pretende ser um ponto unificado para a recuperação de informação. A Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo fez um levantamento e identificou 30 bases de dados, em diversos formatos, que registravam o acervo cultural e histórico. Criou, então, um sítio na internet que será um ponto de unificado para essas bases de dados, agregando assim um único só lugar as informações. Dessa forma, será possível dar visibilidade ao acervo “rompendo a barreira dos armários, arquivos e computadores locais”.
O único trabalho sobre FRBR era de autoria de estudantes de Biblioteconomia. O trabalho muito incipiente e tratava-se apenas de um estudo de caso com a obra Macunaíma. A palestra não trouxe novos conhecimentos, mas trouxe a oportunidade de divulgar a FRBRização da doutrina disponível no Portal LexML, pois utilizei o tempo para perguntas para falar dessa experiência inédita no País. No intervalo, conversei também com o moderador da Mesa, professor José Fernando M. da Silva (ECA-USP), que ensina catalogação, transformando-o em multiplicador da divulgação do processo de FRBRização da doutrina e do próprio Portal LexML.
Entre as preocupações antigas dos bibliotecários, pude notar que a luta por aumento do espaço físico das bibliotecas ainda é e será um grande problema. Com o aumento da facilidade de publicação, mais material chega ao mercado e são adquiridos pelas bibliotecas. Mesmo seguindo rígidas políticas e normas de desenvolvimento de coleção, as bibliotecas sofrem com a falta de espaço físico. As soluções para o problema passa pela aquisição de material digital, que ocupam menos espaço, pela valorização da cooperação planificada e consórcio de periódicos. Foi apresentada a experiência de Harvard University, MIT e Duke University que transferem para outro espaço físico menos privilegiado os materiais que têm menos procura e utilização.
Também pôde ser observado um grande número de trabalhos que tinham a biblioteca acadêmica como objeto de pesquisa. A explicação desse fenômeno pode residir no fato que professores possuem o perfil de pesquisador e tem o hábito de registrar seus trabalhos. Ao contrário, os bibliotecários jurídicos desenvolvem trabalhos de suma importância, mas se furtam ao dever de repassar seus conhecimentos aos colegas. Sempre se tem muito a ganhar com a experiência dos colegas de profissão.
Entre as temáticas, uma inusitada destaca-se com toda certeza: o marketing olfativo. Usando a teoria e técnicas da aromaterapia, seria possível criar um cheiro próprio para cada biblioteca, criando até um “logocheiro”.
APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
No dia 8 de agosto, às 10:50, na Sala Murilo Bastos da Cunha, apresentei o trabalho Modelo de Requisitos para a Gestão da Informação Jurídica, escrito por mim, João Alberto de Oliveira Lima, José Ronaldo Vieira, Rosa Maria Geaquinto Paganine, Janete Torres. Todos são integrantes do Grupo de Trabalho de Modelo de Requisitos.
O objetivo do texto apresentado foi mostrar o trabalho que vem desenvolvido para a criação do Modelo de Requisitos, que teve inspiração no MOREQ, E-Arq Brasil e MOREQ-JUS. A gestão da informação jurídica tem sido preocupação antiga dos juristas e bibliotecários jurídicos. Em 1972, iniciou a gestão automatizada da informação jurídica com a criação da base de dados NJUR, pelo Senado Federal. Atualmente, temos três grandes bases de dados que reúnem, compilam, divulgam a legislação brasileira de hierarquia superior e auxiliam na compreensão ordenamento jurídico do País. O ponto central é saber se essas bases de dados estão realizando a gestão da informação jurídica de forma ideal. O modelo de requisitos oferecerá diretrizes que possibilitarão o incremento da qualidade da gestão da informação jurídica e das bases de dados propriamente ditas. Esse modelo servirá de referência na contratação, desenvolvimento e/ou melhoria de um sistema de informação jurídica.
A pequena sala estava lotada, com aproximadamente 50 pessoas, algumas em pé, mas a platéia se mostrou interessada, atenta e participativa. Foi uma oportunidade única para divulgar também o Portal LexML.
POSTER
Entre os pôsteres, destaco três:
v Terminologia em ciências da saúde e a nova ortografia da língua portuguesa, de autoria de Teresa Avalos Pereira, Andreia da Silva Santos, Andreia Cristina Feitosa do Carmo;
v Campanha obra-prima: adequar o comportamento nas bibliotecas é preciso, desenvolvida por Rose Mendes da Silva;
v No silêncio a gente se entende: sensibilizando os servidores da biblioteca, preparado por Najla Bastos de Melo, Leila Aparecida Arantes Silva, Leonel Ferreira Laterza.
O primeiro lembra da necessidade de atualização dos vocabulários em função da nova ortografia da língua portuguesa. No caso do Direito, muitas palavras tiveram sua grafia modificada (como por exemplo, corréu que antes era grafado co-réu) e há necessidade que os autores sigam as novas normas, mas também a linguagem documentária.
O segundo é uma campanha foi desenvolvida com o objetivo de modificar certos comportamentos recorrentes dos usuários dentro da biblioteca, tais como: “barulho nas áreas de estudo das bibliotecas; desrespeito aos prazos de devolução/renovação; má conservação das obras; reposição de livros de maneira incorreta nas estantes; e desorganização dos espaços de estudo e de trabalho. Para simbolizar as atitudes visadas na campanha foram selecionadas cinco grandes obras das artes plásticas no mundo.”
Campanhas de silêncio direcionadas aos usuários são comuns, mas o terceiro pôster mostra uma campanha de silêncio tendo como alvo os servidores da biblioteca que muitas vezes esquecem a necessidade de se manter o baixo tom de suas vozes, seja na conversa com o colega ou no telefone. A campanha me parece inédita e muito criativa.
FEIRA DE PRODUTOS E SERVIÇOS
De todos os produtos que estavam à mostra na Feira de Produtos e Serviços, destaco o PRIMO, da ExLibris, por sua semelhança com o Portal LexML. Na sua descrição do catálogo da empresa consta: “Elimina a necessidade de busca em múltiplos sistemas para diferentes tipos de mídia, ao consolidar todos os dados de repositórios locais – catálogos de bibliotecas e repositórios digitais da ExLibris ou de outros fornecedores – com resultados obtidos em fontes remotas, pelo MetaLib. [...] O Primo incorpora funções da internet 2.0 (blogs, redes sociais, etc.) e da Biblioteca 2.0, enriquecendo a experiência dos usuários e permitindo que membros das instituições possam compartilhar tags, avaliações e revisões.”
No estande da 3M foi possível conhecer os terminais de autoempréstimo e autodevolução do material do acervo e também o equipamento portátil sem fios que facilita o inventário e a localização dos itens na estante.
Fonte: Lista de discussão Infolegis, 17/08/2011.