Fonte:
Opinião & Crítica. Data:
29/10/2016.
Considerada pela Unesco uma das dez maiores
bibliotecas do mundo, a Biblioteca Nacional do Brasil é também a maior da
América Latina. Sua criação está diretamente ligada à história do país.
O embrião da biblioteca surgiu em Portugal, através
do trabalho de Diogo Barbosa Machado (1682-1772). Nascido em Lisboa, no reinado
do príncipe regente português Dom Pedro (1683-1706), que depois viria a ser Dom
Pedro II de Portugal, Diogo era o segundo de três filhos de um capitão militar
português.
Sua família não era rica, mas os três irmãos
alcançaram sucesso profissional. Inácio, irmão mais velho de Diogo, formou-se
magistrado e trabalhou como juiz de fora na Bahia, no Brasil colonial. Ao
morrer, deixou o acervo de sua biblioteca, com mais de 2 mil volumes, sob os
cuidados de Diogo.
O mais novo dos três irmãos, José, se tornou
cronista oficial da Casa de Bragança, enquanto Diogo começou a estudar direito
canônico em Coimbra. Em 1728, foi nomeado abade de Santo Adrião de Sever.
Apesar de essa abadia ser apenas uma pequena igreja de madeira na comarca do
Porto, o título garantia nobreza e alguma renda a Diogo, que nessa época já
fazia parte da Real Academia da História, criada por D. João V para enaltecer a
história de Portugal e suas conquistas ultramarinas.
Foi então que Diogo iniciou seu mais notável
trabalho: a Biblioteca Lusitana, que, apesar do nome, não era um espaço
destinado a livros, mas sim um catálogo de mais de 5 mil livros portugueses, em
ordem alfabética.
Paralelamente às atividades da Real Academia, Diogo
tinha o costume de colecionar livros, pequenas obras sem encadernação, mapas e
gravuras. Esse costume era facilitado pela vida em Lisboa, que tinha uma
efervescência cultural e grande presença de europeus letrados. Assim, Diogo criou
uma poderosa livraria, que tinha entre 4 mil e 5 mil exemplares.
Em 1755, um terremoto destruiu e incendiou vários
prédios de Lisboa, incluindo o prédio da Real Biblioteca, criada por D. João V.
Esse episódio aumentou ainda mais a obsessão de Diogo por preservar obras da
ação do tempo e de desastres. Em 1770, já idoso, Diogo decidiu doar seu acervo
para a Real Biblioteca, recebendo do então rei português D. José uma pensão
vitalícia, da qual usufruiu pouco, pois morreu dois anos depois.
Em 1808, a Família Real portuguesa veio para o
Brasil, fugindo de Napoleão Bonaparte, trazendo em caixotes todo o acervo da
Real Biblioteca, já com 60 mil peças, entre livros, manuscritos, mapas,
estampas, moedas e medalhas.
Inicialmente, o acervo foi acomodado nos andares
superiores do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, que ficava na Rua Direita,
(atual Rua Primeiro de Março), no Rio de Janeiro. No entanto, D. João VI
considerou o local inadequado e em 29 de outubro de 1810 decretou que se
erguesse a Real Biblioteca (atual Biblioteca Nacional) no espaço onde ela
está atualmente (Av. Rio Branco, 219), que, na época, servia catacumba aos
religiosos do Carmo. O acesso ao público, no entanto, só foi franqueado a
partir de 1814.
Atualmente, o site oficial da Biblioteca Nacional do
Brasil calcula um poderoso acervo estimado em mais de 10 milhões de itens.