Fonte: Folha de S. Paulo. Data: 20/06/2012.
Periódico
internacional de baixo custo promete transparência em processo que filtra a
qualidade das pesquisas.
Uma
revista científica com acesso gratuito para o público, transparente quanto às
condições de edição dos trabalhos e que cobra taxas de publicação até 90%
menores que a concorrência pode sobreviver no bilionário mundo dos periódicos
acadêmicos?
Tem
muita gente apostando que sim. Parte do entusiasmo se deve a Peter Binfield,
que capitaneia a empreitada. Ex-editor da revista científica "PLoS
One" e entusiasta do livre acesso à pesquisa, ele ajudou a consolidar o
periódico como uma das mais importantes e inovadoras publicações de leitura
gratuita.
As
novidades da revista, a "PeerJ", começam pelos custos. Em muitos
periódicos, em especial nos de acesso livre, os pesquisadores precisam pagar
por cada artigo que fazem, e pagam caro. A "PLoS One" cobra US$
1.350. Esse valor chega a US$ 2.900 na "PLoS Biology".
Na
"PeerJ", em vez da cobrança a cada novo artigo, basta pagar uma única
taxa de publicação vitalícia. São três "planos". Quem desembolsa US$
259 pode publicar quantas vezes quiser. A primeira edição da revista sai em
dezembro.
Binfield
afirma que, apesar do modelo de "baixo custo", seu projeto é
sustentável. "Todos os coautores precisam pagar, e cada artigo tem, em
geral, cinco ou seis coautores". Ele também chama atenção para a
transparência no processo de revisão por pares, no qual cientistas
independentes avaliam a qualidade de cada trabalho.
Na
maioria dos periódicos, as etapas da publicação costumam ser fechadas, e os
leitores não têm acesso às possíveis discussões e reavaliações dos artigos.
"Os revisores serão encorajados, mas não obrigados, a revelar sua
identidade aos autores. Depois, os autores terão a opção de submeter o
'histórico' da revisão junto com o artigo", afirma.
"É
difícil dizer se a revista vai dar certo. Mas ela propõe um modelo novo, que
merece ser estudado", avalia o professor da Universidade de São Paulo
(USP) e especialista em publicações científicas Rogerio Mugnaini.
O
lançamento da publicação pega carona na crescente polêmica sobre os altos
preços dos periódicos. A Elsevier, que publica cerca de 2.000 revistas, é alvo
de um abaixo-assinado que já tem milhares de assinaturas.
Só em 2011,
o governo brasileiro gastou R$ 133 milhões para que 326 instituições de pesquisa
tivessem acesso a mais de 31 mil periódicos.
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