Autor:
Luís Milanesi
Fonte: Folha de S. Paulo. Data: 1/07/2012.
O papel da biblioteca não deve ser só emprestar
livros, ainda mais com a internet. Ela pode servir ao cidadão promovendo a Lei
de Acesso à Informação
"É
letra morta?", perguntou-se depois que a Lei de Acesso à Informação entrou
em vigor.
A
expressão vai das resistências dadas pelo mandonismo político que embaralha o
público com o privado à exequibilidade da lei por falta de ferramentas
adequadas.
Se houver
o desejo de saber, como proceder para ter a resposta?
Prestar
informação é difícil quando não existe a infraestrutura necessária para isso,
como não é possível escoar a produção agrícola sem boas estradas.
Esse
déficit de meios para informar não poderá ser resolvido em curto prazo, principalmente
porque informação pode ser percebida como menos necessária que o feijão.
Os
administradores quantificam os prejuízos pela falta de boas estradas. Raramente
fazem isso quando se trata do valor da informação. Quanto vale uma biblioteca
que propicia à população o conhecimento que lhe seja necessário? O projeto de
Mário de Andrade para as bibliotecas paulistanas, em 1935, que ele sonhava como
centros de informação e cultura, foi rara exceção no deserto de séculos e se
perdeu.
Em 1982,
no governo Montoro, foi criado o Sistema de Bibliotecas Públicas do Estado de
São Paulo. No ânimo da "abertura" política, ousou-se com um projeto
que dava uma nova dimensão às bibliotecas públicas, valorizando-as como centros
de informação e cultura.
De
acervos quase sempre precários para atender à demanda escolar, buscou-se um
novo perfil: ser espaço para informar, discutir e criar. É desse período um
fato inusitado: o prefeito de uma pequena cidade paulista ergueu na praça da
matriz um placar de madeira e lata com os números diários da contabilidade
municipal.
Essa
iniciativa tosca e comovente foi um indicador dos rumos que deveriam ser
tomados por todos, inclusive pelas bibliotecas públicas. Era a ideia de
"informação necessária" à pessoa e à coletividade como tarefa
fundamental das bibliotecas.
Mas essa
prática pouco prosperou. Persistiu a política do acervo literário como fim
exclusivo, agora para um público cada vez menor. A pesquisa em enciclopédias de
papel deu lugar ao copie e cole da internet. As bibliotecas municipais nesse
modelo se tornaram obsoletas, repartições públicas de reduzido papel social e,
progressivamente, sem função.
No
entanto, prestar informações persiste como pedra angular da biblioteca pública.
Como a unidade de entre informação e cultura mais frequente no Brasil, ela
deverá ser atualizada, indo do século 19 ao século 21. E se não for por outros
motivos, que seja para cumprir o que determina a lei: a "criação de
serviços de informações ao cidadão".
Estudos
para essa atualização das bibliotecas públicas já estão na pauta da Escola
Politécnica associada à Escola de Comunicações e Artes da USP. Os obstáculos
para concretizar esse objetivo são grandes, mas não intransponíveis, se houver
vontade política para tanto.
As
bibliotecas, com as ferramentas necessárias, poderão formar uma rede com
milhares de pontos -portas para o conhecimento- importantes para que a lei seja
letra viva, pois ela é um marco histórico que separa a indiferença da
participação, o individualismo da cidadania.
Para que
isso ocorra, será necessário acreditar na informação como alavanca para o
desenvolvimento. Não só estradas para escoar a soja são necessárias, também as
vias de informação que levam ao conhecimento. Aliás, quantas bibliotecas
poderiam ser construídas com o valor de dez km de estrada asfaltada?
LUÍS MILANESI,
doutor em ciências da comunicação, é professor de biblioteconomia na USP
Um comentário:
A Biblioteca Estadual do Amazonas e a Biblioteca Estadual do Maranhão
são exemplos de bibliotecas que contribuem para a promoção do acesso á informação.Além de preservar a memória da produção dos seus estados, elas ainda contribuem para que esta produção seja conhecida nacionalmente.
Gostaria de citar outros exemplos de bibliotecas públicas que contribuem para a disseminação da informação via internet mas desconheço outras que agem da mesma forma na divulgação de seus acervos.
Postar um comentário