URL:
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6209021-EI8142,00-Bibliotecaria+de+Auschwitz+nao+se+considera+uma+heroina+da+cultura.html
Uma mulher, que cuidava de uma pequena biblioteca, foi
responsável por proporcionar um pequeno oásis de sanidade mental em meio ao
horror de um campo de extermínio nazista, em Auschwitz, que apesar de não
ajudar a sobreviver, fornecia um resquício de esperança.
Seu
nome é Dita Kraus e atualmente tem 82 anos. Sua trajetória foi contada pelo
escritor Antonio G. Iturbe, no romance A bibliotecária de Auschwitz, que
parte de fatos reais para criar uma história de ficção na qual Dita é uma
autêntica heroína da cultura, encarregada de cuidar de uma biblioteca
clandestina no campo nazista.
Mas a
Dita Kraus real afirmou, em entrevista à agência EFE em Praga, que não
se considera uma heroína. "Nem fui especialmente forte, só que sempre tive
a convicção de que não iria morrer, de que não acabaria na câmara de gás",
declarou ao lembrar de sua infância.
Dita
chegou a Auschwitz quando tinha 13 anos, procedente do gueto judeu de Terezin,
na República Checa. "Em Auschwitz, havia uma coisa única. Havia um
barracão de crianças. E como menina, estive neste barracão e era responsável
pelos poucos livros que havia no local. Era algo único que não existia em
outros campos de concentração", relatou.
Na
realidade, dos livros que estavam lá, Dita só se lembra de um. "Tenho
certeza de que Uma Breve História do Mundo, do romancista e filósofo
britânico H.G. Wells, estava lá".
Dita se
encarregava de cuidar desse livros, "alguns sem capas", e
emprestá-los para as outras crianças, embora afirme que os livros não ajudavam
a sobreviver. "Eles não tinham esse papel".
Segundo
Dita, "Antonio Iturbe exagerou um pouco nisso", já que a tese do
romance é que a literatura serviu de antídoto para o sofrimento e contribuiu
para libertar as civilizações de seus fantasmas.
Os
livros de Auschwitz, lembra Dita, chegavam das mãos de um presidiário polonês
que selecionava a literatura em checo para as crianças do barracão 31 quando os
novos presos chegavam à rampa de acesso e perdiam seus bens.
Com
tudo, o barracão infantil, de fato, chegou a se transformar em uma espécie de
oásis, como lembrou em várias de suas obras o escritor B. Kraus, também
internado no campo de extermínio, onde conheceu Dita Kraus, com quem se casou
mais tarde.
A passagem
por Auschwitz marcou para sempre Dita. "Perdi toda a minha família ali.
Meus pais e avôs e todos os meus tios", lamentou. "Penso que ninguém
pode imaginar como é ser enviado para a câmara de gás". Dita ainda sofre
com pesadelos frequentes pelo o que aconteceu com seus parentes.
"Meu
sogro passou por isso. Não consigo superar. Por ele, penso na câmara. Não é uma
morte rápida", disse. "Às vezes, me vem esse sentimento. Me
identifico com o sofrimento que deviam ter na câmara de gás, que parecia com
uma ducha. Porém, ao invés de água, soltavam gás e as pessoas começavam a ficar
sufocadas e gritar", lembrou.
E Dita
sofre ao ver que "as mães tentavam proteger seus filhos para que não
fossem envenenados. Isso é uma das piores coisas que pode existir", acrescentou.
Dita viaja para Barcelona e durante sua estadia na Espanha participará da
apresentação do romance de Iturbe.
Um comentário:
Que história comovente dessa jovem que foi uma difusora da leitura num contexto sem esperança.
Postar um comentário