Fonte: O Estado de S. Paulo. Data: 27/12/2013.
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www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,mercado-editorial-discutiu-seus-proprios-rumos-e-os-do-pais-em-2013,1112923,0.htm
Temas como o discurso inaugural de Ruffato na Feira de
Frankfurt e questão das biografias dominaram a pauta no setor
Não foi
fácil chegar à Feira do Livro de Frankfurt, o principal evento do mercado
editorial brasileiro em 2013. Três ministros passaram pela pasta da Cultura
entre o Brasil aceitar, em 2010, o convite para ser o convidado de honra da
feira – que custou R$ 18 milhões ao País – e sua realização em outubro: Juca
Ferreira, Ana de Hollanda e Marta Suplicy. Mudanças também, este ano, no
comando da Fundação Biblioteca Nacional, responsável pelos preparativos – saiu
Galeno Amorim e entrou Renato Lessa. A lista dos 70 escritores da comitiva
oficial gerou polêmica e foi acusada de racista. Ela incluiu apenas um escritor
negro e um indígena e deixou de fora autores considerados menos literários, mas
best-sellers, o que teria motivado a desistência de Paulo Coelho, um dos 70, de
participar da festa. Sua ausência e a publicidade que ele fez dela também
geraram burburinho.
Mas
isso tudo foi antes. Em outubro, profissionais do mercado editorial e
escritores foram em peso a Frankfurt. E a festa foi bonita. E engajada – a
começar pelo discurso de abertura do escritor Luiz Ruffato, que deu o tom de
todos os debates que ocorreram dentro e fora da feira. Ao contar sobre sua
história e sobre sua relação com a literatura, ele acabou chamando a atenção
para as mazelas brasileiras. Uns disseram que ali não era o Fórum Social
Mundial. Muitos outros aplaudiram e apoiaram o escritor. Este foi o melhor
momento da feira.
Enquanto
o Brasil se apresentava na Alemanha, se assustava com o infarto que o
cartunista Ziraldo sofreu lá e via sua literatura sendo exportada – por causa
da homenagem, foram, pelas contas dos organizadores da feira, mais de 200
traduções de obras brasileiras –, uma questão cara ao mercado editorial vinha à
tona: a das biografias. Foi durante a feira que o grupo Procure Saber apareceu.
Editoras
e associações ligadas ao livro já acompanhavam, há tempos, a discussão e se
mobilizavam para derrubar a obrigatoriedade de autorização prévia dos
retratados e envolvidos nos livros. O firme posicionamento do mercado diante
dessa questão e a ameaça de autores, que disseram não escrever mais, e editores
que ameaçaram deixar de publicar o gênero caso nada mude, foram outra marca do
ano. E em novembro, às vésperas da audiência pública no Supremo, por uma feliz
coincidência, biógrafos e leitores se reuniam em Fortaleza para a primeira
edição do Festival Internacional de Biografias. O evento virou, claro, palco de
articulação política.
Este
foi um ano de protestos, e a FLIP, realizada pouco depois do auge das
manifestações que levaram o brasileiro às ruas, não foi poupada. A população de
Paraty, com demandas diversas, fez passeata pela cidade até chegar à frente da
tenda do evento. No palco, a questão também foi debatida – mas quando um
manifestante tentou mostrar um cartaz, logo foi retirado.
E por
falar em FLIP, São Paulo ganhou um festival nos mesmos moldes da festa
fluminense. Realizada pela Associação dos Advogados de São Paulo, a Pauliceia
Literária, com forte inclinação para debater a literatura policial, trouxe
importantes autores do gênero, como o americano Scott Turow, e prestou
homenagem à Lygia Fagundes Telles que, numa manhã inspirada, encantou a
plateia.
Ao
contrário do que aconteceu em outros anos, não houve unanimidade dos júris na
escolha dos melhores livros e vários autores foram reconhecidos. Entre os
melhores romances de 2012 premiados em 2013, destaque para Barba Ensopada
de Sangue, de Daniel Galera (Prêmio São Paulo), O Sonâmbulo Amador,
de José Luiz Passos (Portugal Telecom), Deserto, de Luiz S. Krausz
(Benvirá), e O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam,
de Evandro Affonso Ferreira (Jabuti). Dois autores estrangeiros queridos dos
brasileiros também receberam importantes prêmios: a canadense Alice Munro ficou
com o Nobel e o moçambicano Mia Couto, com o Camões.
O livro
digital deixou de ser uma novidade e passou a fazer parte da rotina das
editoras. Na USP, foi inaugurada a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin,
com a coleção de obras raras do casal.
Foi,
também, um ano agitado na Academia Brasileira de Letras, com três eleições para
imortais. Rosiska Darcy de Oliveira ficou com a cadeira de Lêdo Ivo; Fernando
Henrique Cardoso com a de João de Scantimburgo e Antônio Torres com a de Luiz
Paulo Horta. Ana Maria Machado deixou a presidência da entidade, e Geraldo
Holanda Cavalcanti é o novo presidente.
Dos
imortais aos mortais. O Brasil perdeu, este ano, uma de suas principais
escritoras de livros infantis. Tatiana Belinky morreu em junho, aos 94 anos. A
britânica Doris Lessing também se foi aos 94. Morreram, ainda, o crítico
literário alemão Marcel Reich-Ranicki, o editor francês André Schiffrin e os
escritores Alvaro Mutis, Elmore Leonard, Richard Matheson, Seamus Heaney, entre
outros.
E o
reaparecimento de dois mitos. O recluso escritor japonês Haruki Murakami saiu
de casa para falar com estudantes em Kioto. E, diagnosticado com demência
senil, o colombiano Gabriel García Márquez reapareceu na inauguração de um
boliche no México e mostrou o dedo médio a fotógrafos.
Os
bons livros nacionais e os mais vendidos de 2013
O número de títulos lançados em primeira
edição por editoras brasileiras em 2013 só será divulgado no ano que vem, mas
se for parecido com o de 2012 ficará em torno 21 mil. Entre os melhores
lançamentos em ficção brasileira, que podem figurar nas listas dos prêmios de
2014, destaque para Amanhã Não Tem Ninguém (Rocco), de Flávio Izhaki; Deserto
(Benvirá), de Luiz S. Krausz; Esquilos de Pavlov (Alfaguara), de Laura
Erber; e A Cidade, o Inquisidor e os Ordinários (Companhia das
Letras), de Carlos de Brito e Mello. Destaque, também, para a edição de Toda
Poesia (Companhia das Letras), de Paulo Leminski, que chegou às listas de
mais vendidos, e Invenção de Orfeu (Cosac Naify e Jatobá), de Jorge de
Lima. No ranking anual do Publishnews, site especializado em mercado
editorial, porém, a realidade é outra. Há brasileiros no topo, mas suas obras
são religiosas. São eles: o bispo Edir Macedo, com Nada a Perder Vol. 2
(Planeta, 849 mil exemplares), e padre Marcelo Rossi, com Kairós
(Principium, 410 mil). Inferno (Arqueiro), de Dan Brown, é o terceiro,
com 282 mil exemplares comercializados.