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11 de mar. de 2017

Por que os governos nunca abraçaram as bibliotecas?



Autoria: Volnei Canonica.
Fonte: Publish News.
Volnei Canônica discorre em sua coluna sobre o papel das bibliotecas e o que tem sido feito para que elas recebam os cuidados que merecem
Está marcado para amanhã, quarta-feira (25), no Centro Cultural São Paulo (Ruas Vergueiro,1000, Paraíso – São Paulo / SP), um "abraçaço" promovido por bibliotecários, funcionários, mediadores de leitura e amigos das bibliotecas. O ato simbólico, no dia do aniversário de São Paulo, é para mostrar o descontentamento a uma das primeiras medidas do novo prefeito João Dória de privatizar as bibliotecas públicas.
Mas por que os governos no Brasil nunca abraçaram as bibliotecas escolares, públicas e comunitárias?
Quando praticamos o ato de abraçar queremos mostrar que: gostaríamos de estar bem perto, gostaríamos de proteger, gostaríamos de trocar afeto.
Mas o que vemos há anos dos governos municipais, estaduais e federal em relação a estes equipamentos democráticos? Um aceno de adeus ou no máximo um aperto de mão. Nunca um abraço!
A biblioteca pública é o equipamento cultural que está presente em quase todos os municípios brasileiros. Em se tratando de comparação temos o dobro de bibliotecas públicas em relação a museus e salas de cinema. Se somarmos então as bibliotecas escolares, comunitárias, universitárias e especializadas, podemos afirmar (nas diferentes funções que cada biblioteca exerce) que esses equipamentos são fundamentais para que, além da informação, a cultura da escrita e da imagem seja acessada pelos brasileiros.
Quero dizer para os que ficam em suas casas lendo ou os que conhecem os livros apenas nas livrarias, que estão redondamente enganados e que as nossas bibliotecas estão "as moscas". Essa afirmação geralmente é feita por quem nunca pisou em uma biblioteca. Então, parem de achar que a instituição biblioteca está falida.
Não sou ingênuo, ou melhor, sou um bom frequentador de todos os tipos de bibliotecas em várias regiões do país e sei que em muitos lugares o potencial deste equipamento está funcionando a menos de 30%. Sabemos da falta de estrutura, de acervo, de profissionais qualificados, etc. Mas sabemos que neste mesmo lugar se a biblioteca fosse abraçada pela gestão pública o potencial de formar leitores seria contemplado em 100%.
Quando o prefeito de São Paulo anunciou que irá entregar 52 bibliotecas para organizações sociais fazerem a gestão, ele dá um belíssimo aceno de adeus a todo o trabalho realizado durante anos na maior rede de bibliotecas municipais da América Latina e atesta que a capacidade da gestão pública de seu governo é fraca e ineficiente.
Quando alguém se propõe a ocupar um cargo máximo na gestão pública é porque acredita e quer investir nela. Assumir a gestão pública e sair privatizando os espaços é quase a mesma coisa que assumir uma empresa privada cheia de funcionários, não pensar na qualificação e carreira deles, e contratar várias assessorias para fazer o trabalho.
Sou extremamente a favor da parceria entre o público e o privado. Podem perfeitamente se abraçarem. Mas nunca um pode ocupar o lugar do outro. Coordenei durante cinco anos um programa de promoção da leitura, de um instituto privado, que apoia o fomento de bibliotecas escolares, públicas e comunitárias. O papel que exercíamos era o de potencializar o que essas bibliotecas tinham de melhor e evidenciar suas fragilidades para que pudessem se transformar em fortalezas. Nunca fizemos a gestão destes espaços, mas sim apoiamos com conhecimento e ferramentas e também nunca decidimos sobre o bem público. Não cabe ao setor privado decidir políticas públicas. Isso não o isenta da sua responsabilidade sobre o que é público. Às vezes é muito tênue a linha que separa o público do privado e por ser tênue é que precisa estar bem definido o que é de um e o que é de outro.
Se a contratação de organizações privadas for para ajudar na burocracia e agilizar a realização de ações nas bibliotecas acho que são bem vindas. Mas se for para tomar conta de tudo, acho que estão em desvio de função. Conheço bem o sistema de Bibliotecas Parques da Colômbia que trabalha justamente nessa dobradinha público-privado. O privado tem um papel importante de produtor e viabilizador das políticas educacionais e de promoção da leitura que é pensada e gerida pela gestão pública.
Não consigo entender porque os políticos não fazem esforços para qualificar a gestão pública. Cada vez mais o Estado fica sucateado. Se o voto não fosse obrigatório será que servidor público votaria em algum candidato?
Tenho certeza que algumas pessoas irão dizer, mas na Europa, Estados Unidos, Japão, as bibliotecas são diferentes, são melhores. Minha primeira resposta seria: O que parece bom pra você talvez não seja bom para mim ou outros brasileiros. Depois com mais calma (sim fico nervoso quando o assunto é bibliotecas) eu perguntaria: O que você faz para as bibliotecas brasileiras serem tão boas como essas que você acha que é? Abraça as bibliotecas ou abana do outro lado da rua? Você cobra do seu candidato eleito ou daquele que se elegeu sem o seu voto que abrace as bibliotecas?
Conheço um monte de pessoas que tiram fotos em bibliotecas quando viajam para o exterior, mas nunca pisaram na biblioteca pública da sua cidade. Não sabem nem o endereço.
Claro que não é simplório tudo isso. Mas sabemos que a Cultura e a Educação são duas peças importantes no tabuleiro social. Ouso dizer que são rei e rainha. Sem essas peças fica quase impossível de se avançar no jogo do poder de decisão, de liberdade, de autonomia.
Enquanto os políticos continuam dando as costas para as bibliotecas a população abraça. Em tempos de caos ter acesso às letras para saber escolher a frase que nos move para a marcha de um país mais digno é fundamental. A minha eu brando aos quatro ventos "Um por todos e todos por um Brasil de leitores!".

7 de dez. de 2015

Ministério da Cultura apresenta as ações

Fonte: Ministério da Cultura. Data: 01/12/2015.
No segundo painel do I Encontro Internacional de Políticas Públicas – Território Leitor, iniciado nessa segunda-feira (30), a Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (DLLLB/MinC) apresentou suas ações em curso aos agentes políticos, escritores e gestores de planos de livro e leitura presentes.
O diretor da DLLLB, Volnei Canônica, reforçou o anúncio feito pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, na abertura do encontro, de uma grande campanha de mobilização e valorização da leitura, que será realizada em 2016. "Isso é uma tarefa que deve ser coletiva e compartilhada, entre poder público e sociedade civil. Não dá para fazer uma campanha só pela grande mídia. Queremos dar visibilidade a todas as ações que estão sendo feitas, mobilizar a população para a leitura, para frequentar bibliotecas, para reivindicar bibliotecas", destacou.
Outro destaque foi a apresentação do novo mapa de cadastro nacional das bibliotecas do Brasil, que estará no ar ainda nesta terça-feira no endereço www.bibliotecas.cultura.gov.br. O projeto já tem 6102 bibliotecas públicas e aproximadamente 800 bibliotecas comunitárias pré-cadastradas. De acordo com o coordenador-geral de Monitoramento de Informações Culturais do MinC, Leonardo Germani, cabe agora aos gestores dessas instituições e de outras bibliotecas que queiram constar no cadastro atualizarem e manterem atualizadas suas informações, que poderão ser acessadas por todos.
"É possível colocar fotos, vídeos, contatos, links para suas redes sociais, a programação e outras informações num layout agradável, o que deixa o cadastro com cara de um site da biblioteca", explicou Germani, enfatizando que o principal objetivo da plataforma é ser um cadastro vivo com informações atualizadas dia a dia por quem cuida do equipamento cultural.
Bibliotecas
Entre as outras ações da DLLLB voltadas às bibliotecas está a retomada da parceria com o Ministério das Comunicações para transformar, até 2016, 261 bibliotecas em pontos de acesso à internet nos municípios. Já o projeto Acessibilidade realiza um trabalho com 10 bibliotecas públicas para qualificar seus acervos, capacitar profissionais e ampliar o uso de tecnologia para atender pessoas com todos os tipos de deficiência, além de socializar esse conhecimento para qualquer instituição que tenha interesse.
Por meio de edital, serão destinados R$ 4,2 milhões para 17 projetos de instalação e modernização de bibliotecas. O projeto Mais Bibliotecas, por sua vez, destina R$ 500 mil para auxiliar 112 municípios sem bibliotecas a superarem esse problema. Ainda estão em desenvolvimento um software livre para gerenciamento de acervos; um banco de dados de boas práticas; a criação de cinco bibliotecas bilíngues em regiões de fronteira; a reabertura da Biblioteca Demonstrativa de Brasília; e os esforços junto ao Ministério da Educação para aumentar número de universidades que oferecem curso de biblioteconomia e revisar a grade curricular.
Parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates
A coordenadora geral do Sistema Nacional de Bilbiotecas Públicas, Veridiana Negrini, também detalhou os três projetos que continuarão a ser tocados com a renovação da parceria entre o MinC e a Fundação Bill & Melinda Gates, assinada nessa segunda-feira (30) durante a abertura do encontro.
O primeiro é executado pelo Instituto de Políticas Relacionais (IPR) em bibliotecas públicas de Arapiraca (AL), Belém (PA) e São Paulo (SP) e se propõe a aumentar o engajamento delas com a comunidade e o uso de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) pelos seus funcionários para melhor atender as necessidades dos usuários. O segundo trabalha na modernização tecnológica de 50 bibliotecas e é tocado pelo Comitê para a Democratização da Informática (CDI). O terceiro é administrado pela Caravan Studios, ocorre em bibliotecas de Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG) e visa desenvolver aplicativos dessas bibliotecas a partir de pesquisas junto aos seus usuários.
Incentivo à leitura
De acordo com o coordenador geral de Leitura da DLLLB, Fernando Braga, uma das prioridades de sua gestão é apoiar as ações desenvolvidas pelos comitês locais do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler) e fomentar a criação de novos. "O objetivo é ter 200 comitês em 2016, 500 em 2017 e 800 em 2018", informou.
Braga também anunciou que o resultado do edital Todos por um Brasil de Leitores será divulgado nesta terça-feira (1), premiando 28 bibliotecas comunitárias e pontos de leitura e 52 espaços não formais de leitura, destinado R$ 30 mil para cada, um total de R$ 2,4 milhões.

Outras prioridades, segundo Braga, são o apoio a blogs de leitura promovidos por jovens e à produção de histórias em quadrinhos e a realização do Prêmio Viva Leitura. 

12 de jul. de 2015

Manifesto de Paraty sobre o Programa do Livro

Fonte: Câmara Brasileira do Livro.
Data: 4/07/2015.
“Liberdade, espontaneidade, afetividade e fantasia são elementos que fundam a infância. Tais substâncias são também pertinentes à construção literária. Daí a literatura ser próxima da criança. Possibilitar aos mais jovens acesso ao texto literário é garantir a presença de tais elementos, que inauguram a vida, como essenciais para o seu crescimento. Nesse sentido é indispensável a presença da literatura em todos os espaços por onde circula a infância. Todas as atividades que têm a literatura como objeto central serão promovidas para fazer do País uma sociedade leitora. O apoio de todos que assim compreendem a função literária é proposição indispensável. Se é um projeto literário é também uma ação política por sonhar um País mais digno."
BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS, in Manifesto por um Brasil Literário, 2009
A Associação Brasileira de Editoras de Livros Escolares, a Associação Nacional de Livrarias, a Câmara Brasileira do Livro, a Liga Brasileira de Editores e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, em nome de seus associados, vem manifestar sua preocupação em relação à continuidade da política pública de inclusão da literatura no âmbito da Educação Infantil e dos ensinos Fundamental e Médio, tendo em vista a imposição de cortes nas verbas do Ministério da Educação.
A educação deve ser entendida no sentido amplo, sem se restringir a ensinar a criança a ler e a escrever, mas também a pensar, refletir e compreender. Através do hábito de leitura, a criança aumenta seu conhecimento sobre o mundo e se prepara para exercer sua cidadania.
Hoje, apenas 25% dos brasileiros alfabetizados são leitores plenos, o que significa que 75% não têm capacidade de compreender e interpretar textos, segundo dados do INAF -- Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional.
Entendemos que a formação de leitores, assim como a constituição de acervos de bibliotecas escolares com livros de literatura devem ser prioridades nas ações do Estado e, portanto, do Ministério da Educação. Só assim poderemos equiparar direitos, garantindo a mesma qualidade na formação a todas as crianças e jovens brasileiros, independentemente da cidade onde vivem, das carências e desigualdades de cada região.
Um grande passo nesse sentido foi a criação, em 1998, do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), e seu desenvolvimento e aprimoramento ao longo dos últimos anos. Até 2014, este programa vinha cumprindo seu objetivo de "prover as escolas de ensino público das redes federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, no âmbito da educação infantil (creches e pré-escolas), do ensino fundamental, do ensino médio e educação de jovens e adultos (EJA), com o fornecimento de obras e demais materiais de apoio à prática da educação básica". Na última década, o PNBE tornou-se um exemplo de sucesso na inclusão da literatura em sala de aula, e outros programas de igual importância foram também criados, como o PNBE do Professor, o PNBE Periódicos, o PNBE Temático e o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).
Estes programas permitiram aos alunos de todo o país o acesso a uma grande diversidade de obras literárias, de escritores e ilustradores nacionais e estrangeiros, obras estas que foram avaliadas e selecionadas por profissionais especializados em literatura e educação. Permitiram também que editoras de todos os portes participassem do processo de seleção e tivessem a oportunidade de incluir seus títulos nestes programas.
Em 2015, porém, segundo informações recentes da Fundação Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pela execução desses programas, não houve ainda a liberação de verbas para viabilizar tanto o PNBE Temático 2013, que já estava com contratos em andamento, quanto o PNAIC 2014 cujos livros já estavam selecionados e as editoras devidamente habilitadas para a negociação e o contrato. Lamentavelmente, o processo de avaliação dos livros inscritos para o PNBE 2015 também estagnou. De acordo com dados estimativos, as verbas destinadas ao PNBE Temático 2013 e do PNAIC 2014, em conjunto, representam menos de 1% do valor do corte orçamentário de R$ 9,4 bilhões sofrido pelo Ministério da Educação.
Além disso, o governo do Estado de São Paulo, em comunicado oficial, suspendeu a compra de livros para escolas e bibliotecas. Temos acompanhado notícias aterradoras de paralisia de ações em diversos estados e municípios, como o fim de um dos projetos mais emblemáticos do país, a Jornada Literária de Passo Fundo. Casos recentes que preocupam o caminho da transformação do Brasil pela leitura.
O atraso na execução desses programas e projetos já causa reflexos preocupantes na cadeia produtiva do livro, atingindo não somente editores e livreiros como também autores, tradutores, ilustradores, revisores e a indústria gráfica.
Entretanto, muito mais grave do que esse prejuízo tangível da cadeia produtiva do livro é o prejuízo incalculável e talvez irreparável causado a milhões de crianças e jovens brasileiros, que deixarão de receber livros de literatura em suas escolas, o que representará um grande retrocesso nas conquistas educacionais dos últimos anos e um dano irreversível ao pensamento livre e crítico da nossa população jovem.
Acreditamos que a leitura de livros de literatura, além de prioritária, é também um direito da criança e do jovem.
Quando a leitura literária for prioridade na Educação em nosso país poderemos clamar:
Brasil, Pátria Educadora, Nação Leitora.

Paraty, 3 de julho de 2015.

5 de jul. de 2015

Em discussão: Fundo Nacional Pró-Leitura

Fonte: Ministério da Cultura. Data: 30/06/2015.

Foi realizada, na segunda-feira (29/6), audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para tratar do projeto de lei 1.321/2011, que cria o Fundo Nacional Pró-Leitura (FNPL), que visa apoiar a produção, edição, distribuição e comercialização de livros. O objetivo do encontro foi reunir contribuições de diferentes atores da cadeia do livro. Por parte do Ministério da Cultura (MinC), estiveram presentes a diretora substituta da Diretoria  de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), Suzete Nunes, e o secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), José Castilho Marques Neto.
A proposta original, do ex-senador José Sarney, estipula que o fundo terá natureza contábil e prazo indeterminado de duração e, entre suas fontes de recurso, estão o Tesouro Nacional, subvenções, doações e auxílios de entidades, incluindo a de organizações internacionais.
A ideia do FNPL foi bem recebida pelos representantes do MinC, que demonstraram apoio para auxiliar na qualificação do debate e no aprimoramento da projeto. Mais do que promover o aquecimento do mercado editorial nacional, o ponto consensual destacado pelos participantes foi a importância de se formar leitores como ação estruturante no desenvolvimento do país.
"Apesar do esforço na universalização do ensino em todos os níveis nos últimos 15 anos, nós mantivemos a taxa de 25% dos brasileiros como leitores plenos. Essa relação é fundamental para que a gente possa entender: se não superarmos a questão estratégica de formar leitores, não teremos uma estratégia de desenvolvimento sustentável", destacou José Castilho Marques Neto. "Formar leitores, muito mais do que o conjunto de esforços e medidas que já foram feitos, é nosso dever enquanto cidadãos e gestores", completou o secretário-executivo do PNLL.
Na mesma linha, o deputado Rafael Motta (PROS-RN), relator do PL 1.321/2011 na comissão, defendeu que a educação é a única forma de transformar a realidade do um país. "Para que a gente possa avançar nesta temática, é preciso transformar o Fundo Nacional Pró-Leitura em realidade", afirmou.
Durante sua exposição, a diretora substituta da DLLLB, Suzete Nunes, apontou que o MinC tem todo interesse em retomar o debate de um fundo setorial e destacou, ainda, a possibilidade de articulação desta com outra proposta que tramita no Congresso. Ela fez referência ao projeto do ProCultura, que reforma a Lei Rouanet e, entre outras mudanças, destinará mais recursos para o Fundo Nacional de Cultura, que contempla fundos setoriais, como o do Livro e Leitura.
"É preciso recursos de maneira permanente, que não fiquem reféns dos orçamentos, que ora aumentam e diminuem. Com um fundo para o livro e leitura, será possível aplicar da melhor forma, de maneira descentralizada e equilibrada entre as regiões do país", salientou Suzete.
Mercado livreiro
Outro dado apresentado na audiência é que, apesar da queda do preço dos livros, as vendas estão estagnadas, segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Marcos da Veiga Pereira. De acordo com Pereira, de 2004 a 2014, o preço do livro caiu cerca de 40%, desde que foram aprovadas as desonerações de impostos como PIS/Cofins da cadeia produtiva dos livros e do segmento, em 2004.
Pereira enfatizou, ainda que, conforme identificado pela pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", elaborada pelo Instituto Pró-Livro, em 2011, a principal razão do brasileiro não ler "é a falta de tempo", enquanto apenas 5% dos entrevistados apontaram o alto preço como motivo para não ler. Ainda assim, a questão do preço dos livros é ainda polêmica e será tema de debates por especialistas, interessados e deputados em audiências públicas nesta terça-feira (30/6), na Câmara dos Deputados. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, estará presente.
Propostas de mudanças
Para a presidente do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Cláudia Santa Rosa, a versão do projeto que veio do Senado necessita de ajustes e mudanças ao longo de todo o texto. Com a ajuda dos integrantes do Colegiado Setorial de Livro, Leitura e Literatura, ela reuniu uma série de sugestões, que foram entregues ao relator. Entre os pontos apresentados estava a falta de definição clara da distribuição de porcentagem sobre quem seriam os responsáveis por alimentar o fundo. Outra questão levantada foi a necessidade de separar as regras e políticas de incentivo específicas para ampliação de bibliotecas e para as livrarias.
"Sentimos falta de ressaltar a importância das cadeias mediadoras. Está muito bem completa a parte da cadeia produtiva, mas os agentes que promovem o livro poderiam estar mais ressaltados e isso tentamos colocar nas propostas", explicou Cláudia, se referindo aos professores, bibliotecários e agentes de leitura.
A previsão do deputado Rafael Motta é entregar dentro de um mês o relatório do projeto para análise e votação dos integrantes da Comissão de Educação, antes de ser apreciada em plenário. O Projeto de Lei já tramitou no Senado e, se houver modificações, deverá ser analisado novamente pelos senadores.

Também participaram da audiência a coordenadora-geral de Materiais Didáticos do Ministério da Educação (MEC), Júnia Sales Pereira, o presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Luís Antonio Torelli, e o representante do Movimento por Brasil Literário, Volnei Canônica.

26 de jan. de 2014

Políticas públicas de incentivo à leitura

Fonte: Portal Vermelho. Data: 19/01/2014.
URL: www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=233822
"Somos inacabados e a leitura ameniza e intensifica isso" - inicio com as palavras do professor e velho amigo de batalhas, Oswaldo Almeida Junior, e adianto: não tenho uma nova fórmula para solucionar as deficiências da área de leitura, da formação de leitores no Brasil, o que trago aqui são ponderações muito específicas, com todos os limites que elas carregam.
Por  Ricardo Queiroz Pinheiro, em seu blog*
Começo com os reflexos das palavras iniciais: amenizar e intensificar. Elas não são apenas a representação do ato solitário de ler, elas pode ser utilizadas sem vaticínios na dimensão pública do universo da leitura, daí passam a abarcar o coletivo e vai além do ato exclusivo e isolado do leitor.
E quando nos referimos à leitura, a história nos fornece registros desse ir e vir entre o individual e o coletivo, as histórias compartilhadas em registros diversos, de início na memória, no boca a boca, para logo após se massificar e ironicamente passar a ser ato isolado por conta das novas técnicas.
Desloco rápido, o pensamento para o ano de 2003, Brasil quando foi implantada a "Lei do Livro", resumindo suas intenções e implicações, em tese ela incide diretamente na desoneração e no consequente barateamento do objeto livro, contiguo a isso foi instituído um Fundo suprido por 1% das vendas de livros no país que seria depositado pelo mercado editorial e utilizado nas políticas públicas de fomento à leitura.
Pincei um exemplo e deixo um hiato para que pensemos...
Dez anos e alguns meses depois e o preço médio de capa do livro não sofreu os efeitos dessa desoneração, continua caro e elitizado, e o referido fundo segue tímido atolado no descumprimento da lei e nesse sentimento naturalizado de que ignorar regras é um comportamento aceitável.
Por que o mercado editorial e a cadeia do livro ignorou a referida Lei 11.030, ela tem falhas, ela substimou as regras do mercado, ela não foi pactuada a contexto Ela não serve para a conjuntura Reconhecer uma contradição e dissecá-la é o primeiro passo para intervir e modificar uma realidade, mas há real interesse A ver.
O livro é um objeto unânime, tirante as patologias históricas que mais pelo seus conteúdos, subjetividade e eventual transgressão do que pela forma, o demoniza e o destrói em certas conjunturas, ele é visto de forma positiva pela sociedade. Ler é "virtude" não assumida, é bom sempre para o "outro", podemos dizer que existe um certo cinismo nos discursos de apologia aos benefícios da leitura.
O ato da leitura não implica necessariamente nesse prazer desprendido e cheio de leveza, leitura é hábito, e antes de tudo, é hábito que se adquire arduamente, depende de trabalho, depende de esforço e dedicação. E é nesse aspecto que a apologia fácil se torna falsa, quem a profere, quem a repete assume que a leitura depende desse dispêndio de energia, de disciplina ou apenas joga palavras ao vento para reforçar um falso consenso?
O fato é que essa retórica, essa ladainha incide diretamente nas políticas públicas e nos marcos legais do livro e da leitura, a roupagem do lúdico, do prazeiroso, do frugal encobre a dura realidade do universo leitor, palavras lindas e leves não resolvem as questões da democratização, acesso e circulação, e acaba acomodando tudo na seara das boas intenções e se adia reiteradamente para um constante amanhã.
Outro fator inexorável: a leitura tem um custo material, e o custo nela embutido está implicado diretamente no preço de capa do livro e no custeio do universo do livro e leitura (industria, profissionais, maquina pública etc), nesse baile circula o público e o privado - muitas vezes com seus papéis distorcidos e misturados, como é de costume nessa realidade de ideologias difusas - no topo dessa torre de babel é decidido o rumo dos recursos públicos aplicados.
Volto então aos verbos do Oswaldo (desculpem a banalização das palavras do amigo), amenizar, sim, amenizar com leis e ações práticas, mas nunca esquecer que a intensificação das cobranças, dos resultados e das consequencias nos mostram um quadro praticamente inalterado na democratização da leitura. As leis, os divisores de água, os marcos legais fazem aniversário como tudo, e nesse caso, o que nos cabe é comemorar com cobrança.
E quem convocar para fazer a devida cobrança das leis não cumpridas? Quem encabeça a lista: bibliotecários, professores, escritores (principalmente os "não contemplados"), leitores, como juntar pessoas e mesmo grupos que agem isolados?
O ano de 2014 é ano de eleição no nível federal e estadual, ano de rediscutir as políticas públicas e as prioridades em todas as áreas, uma boa oportunidade para avaliar o que é real, o que é promessa, o que é de fato, o que é discurso, o que é leve, o que é pesado. Como disse acima, leitura dá trabalho e exige dedicação e empenho, momento de unir o ameno ao intenso e dar rumo a essa prosa solta.

*Blog Klaxon SBC

30 de dez. de 2013

Mercado editorial discutiu seus próprios rumos



Fonte: O Estado de S. Paulo. Data: 27/12/2013.
URL: www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,mercado-editorial-discutiu-seus-proprios-rumos-e-os-do-pais-em-2013,1112923,0.htm
Temas como o discurso inaugural de Ruffato na Feira de Frankfurt e questão das biografias dominaram a pauta no setor
Não foi fácil chegar à Feira do Livro de Frankfurt, o principal evento do mercado editorial brasileiro em 2013. Três ministros passaram pela pasta da Cultura entre o Brasil aceitar, em 2010, o convite para ser o convidado de honra da feira – que custou R$ 18 milhões ao País – e sua realização em outubro: Juca Ferreira, Ana de Hollanda e Marta Suplicy. Mudanças também, este ano, no comando da Fundação Biblioteca Nacional, responsável pelos preparativos – saiu Galeno Amorim e entrou Renato Lessa. A lista dos 70 escritores da comitiva oficial gerou polêmica e foi acusada de racista. Ela incluiu apenas um escritor negro e um indígena e deixou de fora autores considerados menos literários, mas best-sellers, o que teria motivado a desistência de Paulo Coelho, um dos 70, de participar da festa. Sua ausência e a publicidade que ele fez dela também geraram burburinho.
Mas isso tudo foi antes. Em outubro, profissionais do mercado editorial e escritores foram em peso a Frankfurt. E a festa foi bonita. E engajada – a começar pelo discurso de abertura do escritor Luiz Ruffato, que deu o tom de todos os debates que ocorreram dentro e fora da feira. Ao contar sobre sua história e sobre sua relação com a literatura, ele acabou chamando a atenção para as mazelas brasileiras. Uns disseram que ali não era o Fórum Social Mundial. Muitos outros aplaudiram e apoiaram o escritor. Este foi o melhor momento da feira.
Enquanto o Brasil se apresentava na Alemanha, se assustava com o infarto que o cartunista Ziraldo sofreu lá e via sua literatura sendo exportada – por causa da homenagem, foram, pelas contas dos organizadores da feira, mais de 200 traduções de obras brasileiras –, uma questão cara ao mercado editorial vinha à tona: a das biografias. Foi durante a feira que o grupo Procure Saber apareceu.
Editoras e associações ligadas ao livro já acompanhavam, há tempos, a discussão e se mobilizavam para derrubar a obrigatoriedade de autorização prévia dos retratados e envolvidos nos livros. O firme posicionamento do mercado diante dessa questão e a ameaça de autores, que disseram não escrever mais, e editores que ameaçaram deixar de publicar o gênero caso nada mude, foram outra marca do ano. E em novembro, às vésperas da audiência pública no Supremo, por uma feliz coincidência, biógrafos e leitores se reuniam em Fortaleza para a primeira edição do Festival Internacional de Biografias. O evento virou, claro, palco de articulação política.
Este foi um ano de protestos, e a FLIP, realizada pouco depois do auge das manifestações que levaram o brasileiro às ruas, não foi poupada. A população de Paraty, com demandas diversas, fez passeata pela cidade até chegar à frente da tenda do evento. No palco, a questão também foi debatida – mas quando um manifestante tentou mostrar um cartaz, logo foi retirado.
E por falar em FLIP, São Paulo ganhou um festival nos mesmos moldes da festa fluminense. Realizada pela Associação dos Advogados de São Paulo, a Pauliceia Literária, com forte inclinação para debater a literatura policial, trouxe importantes autores do gênero, como o americano Scott Turow, e prestou homenagem à Lygia Fagundes Telles que, numa manhã inspirada, encantou a plateia.
Ao contrário do que aconteceu em outros anos, não houve unanimidade dos júris na escolha dos melhores livros e vários autores foram reconhecidos. Entre os melhores romances de 2012 premiados em 2013, destaque para Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera (Prêmio São Paulo), O Sonâmbulo Amador, de José Luiz Passos (Portugal Telecom), Deserto, de Luiz S. Krausz (Benvirá), e O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam, de Evandro Affonso Ferreira (Jabuti). Dois autores estrangeiros queridos dos brasileiros também receberam importantes prêmios: a canadense Alice Munro ficou com o Nobel e o moçambicano Mia Couto, com o Camões.
O livro digital deixou de ser uma novidade e passou a fazer parte da rotina das editoras. Na USP, foi inaugurada a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, com a coleção de obras raras do casal.
Foi, também, um ano agitado na Academia Brasileira de Letras, com três eleições para imortais. Rosiska Darcy de Oliveira ficou com a cadeira de Lêdo Ivo; Fernando Henrique Cardoso com a de João de Scantimburgo e Antônio Torres com a de Luiz Paulo Horta. Ana Maria Machado deixou a presidência da entidade, e Geraldo Holanda Cavalcanti é o novo presidente.
Dos imortais aos mortais. O Brasil perdeu, este ano, uma de suas principais escritoras de livros infantis. Tatiana Belinky morreu em junho, aos 94 anos. A britânica Doris Lessing também se foi aos 94. Morreram, ainda, o crítico literário alemão Marcel Reich-Ranicki, o editor francês André Schiffrin e os escritores Alvaro Mutis, Elmore Leonard, Richard Matheson, Seamus Heaney, entre outros.
E o reaparecimento de dois mitos. O recluso escritor japonês Haruki Murakami saiu de casa para falar com estudantes em Kioto. E, diagnosticado com demência senil, o colombiano Gabriel García Márquez reapareceu na inauguração de um boliche no México e mostrou o dedo médio a fotógrafos.
Os bons livros nacionais e os mais vendidos de 2013
O número de títulos lançados em primeira edição por editoras brasileiras em 2013 só será divulgado no ano que vem, mas se for parecido com o de 2012 ficará em torno 21 mil. Entre os melhores lançamentos em ficção brasileira, que podem figurar nas listas dos prêmios de 2014, destaque para Amanhã Não Tem Ninguém (Rocco), de Flávio Izhaki; Deserto (Benvirá), de Luiz S. Krausz; Esquilos de Pavlov (Alfaguara), de Laura Erber; e A Cidade, o Inquisidor e os Ordinários (Companhia das Letras), de Carlos de Brito e Mello. Destaque, também, para a edição de Toda Poesia (Companhia das Letras), de Paulo Leminski, que chegou às listas de mais vendidos, e Invenção de Orfeu (Cosac Naify e Jatobá), de Jorge de Lima. No ranking anual do Publishnews, site especializado em mercado editorial, porém, a realidade é outra. Há brasileiros no topo, mas suas obras são religiosas. São eles: o bispo Edir Macedo, com Nada a Perder Vol. 2 (Planeta, 849 mil exemplares), e padre Marcelo Rossi, com Kairós (Principium, 410 mil). Inferno (Arqueiro), de Dan Brown, é o terceiro, com 282 mil exemplares comercializados.