Autor:
Elton Alisson.
Fonte:
Agência FAPESP. Data: 10/10/2013.
URL:
http://agencia.fapesp.br/18026
A produção científica das
universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual
Paulista (Unesp) poderá ser encontrada e acessada livremente em breve em um
único portal na internet. Trata-se do Repositório da Produção Científica do Conselho de Reitores das
Universidades Estaduais Paulistas, lançado durante a sessão de abertura
da 4ª Conferência Luso-Brasileira de Acesso Aberto (Confoa), dia 6 de outubro.
Criado por iniciativa e com apoio
da FAPESP, alguns dos objetivos do portal são reunir, preservar e proporcionar
acesso aberto, público e integrado à produção científica dos pesquisadores das
três universidades estaduais paulistas, que são as que mais publicam artigos
científicos no país, de acordo com a última edição do SIR World Report,
divulgada em julho pela Scimago Lab.
O portal reunirá teses,
dissertações, artigos, livros, resumos e trabalhos completos apresentados em
reuniões e congressos científicos, entre outras publicações disponibilizadas
pelas três instituições nos repositórios de dados na internet que começaram a
desenvolver nos últimos anos.
“A USP começou a criar em 2009 um
sistema de gestão de sua produção científica em meio eletrônico – que envolve
acesso ao conteúdo, preservação digital e, principalmente, o controle dos
direitos autorais – e, no final de 2012, lançou sua Biblioteca Digital da
Produção Intelectual”, disse Sueli Mara Soares Pinto Ferreira, diretora
do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP, à Agência FAPESP.
“Uma vez que fomos a primeira das
três universidades estaduais paulistas a iniciar esse processo, a FAPESP
começou em 2012 a conversar conosco sobre a possibilidade de desenvolvermos uma
estratégia para possibilitar que, além da USP, a Unesp e a Unicamp também
tivessem seus repositórios e para criarmos um portal do Cruesp [ Conselho de
Reitores das Universidades Estaduais Paulistas] que reunisse os
repositórios das três instituições”, contou Ferreira.
A metodologia utilizada na
construção da Biblioteca Digital da Produção Intelectual da USP foi seguida
pela Unesp para desenvolver seu Repositório Institucional , lançado em fevereiro.
Por sua vez, a Unicamp também
começou a desenvolver a sua Biblioteca Digital da Produção Científica e Intelectual,
que atualmente está incubada no Sibi da USP e deve migrar, em breve, para o
servidor da universidade campineira.
Agora, com os repositórios das três
universidades paulistas prontos para operar, a ideia é integrá-los pouco a
pouco no portal do Cruesp que conta com uma ferramenta de busca já utilizada
pela USP para integrar as bibliotecas digitais de suas unidades.
“A ferramenta de busca do sistema
se conecta todos os dias com os repositórios das três universidades, extrai os
dados armazenados, desduplica [elimina os duplicados] e os insere na
base do portal do Cruesp para que possam ser acessados pelos usuários”, afirmou
Anderson de Santana, gestor de acervos do Sibi da USP e um dos pesquisadores
participantes do projeto.
Conteúdo inicial
Por enquanto, o portal do Cruesp
reúne cerca de 56 mil artigos científicos, publicados entre 2008 e 2012 em
revistas indexadas na Web of Science. De acordo com os coordenadores do
projeto, a meta é publicar artigos científicos também incluídos em outros
indexadores científicos, como o Scopus, além de outros tipos de publicações, como
livros, resumos e trabalhos completos apresentados em reuniões e congressos
científicos.
Individualmente, as bibliotecas
digitais das três universidades já vêm trabalhando com outros conteúdos, que
não apenas artigos científicos.
A biblioteca digital da USP, por
exemplo, já dispõe de vídeos e dá acesso ao portal de teses da universidade – o
maior do país, que será integrado ao portal do Cruesp. O repositório da Unesp
também possui, além de artigos, recursos educacionais, livros e teses, entre
outros materiais.
“Esses cerca de 56 mil artigos já
incluídos no portal do Cruesp representam apenas o embrião do projeto e uma
infraestrutura básica para iniciar os trabalhos”, disse Ferreira. “A ideia é
que as bibliotecas digitais das três universidades comecem a inserir, a partir
de agora, cada vez mais materiais no portal.”
Desse total de artigos, 29 mil
foram publicados por pesquisadores da USP, 25 mil pela Unesp e outros 2 mil
pela Unicamp – que ainda possui poucos artigos no portal porque iniciou mais
recentemente a gestão de sua produção científica na internet.
Muitos desses trabalhos foram
escritos em coautoria – reunindo pesquisadores de mais de uma das três
instituições – e são registrados e armazenados no portal do Cruesp como
documentos únicos.
“Os artigos que estão armazenados
nos repositórios das três universidades só aparecem uma vez no portal, porque
não faria sentido registrá-los três vezes”, explicou Ferreira.
“Se fôssemos somar o conteúdo dos
três repositórios, daria mais de 60 mil documentos. Mas, 56 mil documentos
únicos já é um número muito expressivo e tende a crescer muito”, avaliou.
Vantagens operacionais
Do total de 56 mil artigos já
armazenados no portal do Cruesp, 70% estão disponíveis em acesso aberto e os
outros 30% ainda são de acesso restrito às universidades – que são assinantes
das respectivas revistas nas quais os trabalhos foram publicados – ou estão
embargados pelas editoras para publicação em acesso aberto.
De acordo com os coordenadores do
projeto, uma das vantagens da integração dos repositórios das três
universidades estaduais paulistas no portal do Cruesp é facilitar o acesso e a
busca de informação pelo usuário, que não precisará pesquisar nas bases de
dados individuais das três universidades para encontrar um determinado artigo
científico.
Além disso, o portal possibilitará
gerar outras informações que não poderiam ser encontradas facilmente nos
repositórios individuais das universidades, como os trabalhos feitos em
colaboração.
O principal benefício do portal, no
entanto, será instituir uma política de publicação de trabalhos científicos em
acesso aberto no Estado de São Paulo, ressaltaram os participantes de uma
mesa-redonda sobre políticas públicas de acesso aberto realizada no dia 7 de
outubro, que integrou a programação da 4ª Confoa.
“O lançamento do Repositório da
Produção Científica do Cruesp é essencial para o funcionamento de uma política
de publicação de resultados de pesquisas científicas financiadas com recursos
públicos em acesso aberto, como a que a FAPESP está instituindo, porque garante
o autoarquivo de artigos publicados por pesquisadores da USP, Unicamp e Unesp
nos repositórios dessas instituições, vencido o período de embargo estabelecido
pelas revistas científicas nas quais os trabalhos foram publicados”, disse
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP durante o evento.
De acordo com Brito Cruz,
inicialmente a FAPESP exigirá dos pesquisadores que tiveram seus trabalhos
financiados pela Fundação que, após publicarem os resultados de pesquisas
apoiadas nas revistas científicas que escolheram, disponibilizem o artigo em um
repositório (pessoal ou institucional) de acesso aberto o mais rápido possível
após o término do período de embargo (que varia de uma publicação científica
para outra).
“Estamos implantando a primeira
fase da política de publicação de resultados de trabalhos científicos apoiados
pela FAPESP, que é relativamente suave, porque diz ao pesquisador que ele pode
publicar seus trabalhos onde quiser, mas em um prazo mais breve possível deve
disponibilizá-los em um repositório de acesso aberto”, avaliou.
Brito Cruz ressalvou que esse
trabalho de disponibilização dos artigos científicos em repositórios de acesso
aberto deve ser feito pelas próprias universidades às quais os pesquisadores
estão vinculados, de modo que eles não tenham que interromper suas atividades
de pesquisa por esse motivo.
“Isso tem que ser feito pelas
instituições porque, se criarmos mais esse ônus para o tempo do pesquisador,
ele terá menos tempo para se dedicar à pesquisa”, ponderou.
Segundo Brito Cruz, além do acesso
aberto a artigos científicos de pesquisas financiadas pela FAPESP, a Fundação
analisa formas de implementar o acesso aberto aos dados que geraram os
resultados obtidos nos estudos para que toda a comunidade científica possa
utilizá-los, como já faz o Programa de Pesquisas em Caracterização,
Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São
Paulo (BIOTA-FAPESP).
Estabelecido pela FAPESP em 1999
para conhecer, mapear e analisar a biodiversidade paulista, o programa possui
uma base de dados aberta – o Sinbiota –, abastecida continuamente de informações
levantadas por pesquisadores que tiveram projetos financiados, como dados
georreferenciados de coleta, descrição de espécies e mapas de localização,
entre outras.
Experiências estrangeiras
A mesa-redonda também contou com a
participação de Heather Joseph, diretora executiva da Scholarly Publishing and
Academic Resources Coalition (Sparc), dos Estados Unidos, e João Nuno Ferreira,
da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), de Portugal, que relataram as
experiências dos respectivos países na implementação de políticas públicas de
acesso aberto.
De acordo com Joseph, o National
Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, foi a primeira instituição do
país norte-americano a adotar uma política de acesso aberto à informação em
2009 em nível nacional.
Em fevereiro, o governo
norte-americano emitiu uma diretiva estabelecendo que outras 20 agências
federais do país também desenvolvessem políticas de publicação de informação em
acesso aberto, de forma que o público em geral também tivesse acesso aos
resultados de pesquisas financiadas com recursos públicos.
A diretiva foi resultado de uma
petição pública, que coletou no prazo de 13 dias 65 mil assinaturas de
defensores do acesso aberto aos resultados de pesquisas financiadas com
recursos públicos, além da própria iniciativa do governo federal que, com a
diminuição dos investimentos em pesquisa por causa da crise econômica, pretende
mostrar aos contribuintes que os recursos do Tesouro norte-americano são gastos
de maneira responsável, contou Joseph.
“Ficamos contentes com essa
diretiva emitida pela Casa Branca, mas ela ainda não é uma regulamentação;
trata-se de uma sugestão para as agências federais dos Estados Unidos e esses
órgãos não sofrerão consequências se não adotarem políticas de acesso aberto às
informações”, disse Joseph. “Queremos que o acesso aberto se torne uma lei nos
Estados Unidos.”
Já em nível estadual, nos últimos
meses os Estados de Illinois, Califórnia e, mais recentemente, Nova York,
demonstraram interesse em implementar políticas de acesso aberto a informações
geradas por suas respectivas universidades e instituições de pesquisa.
“Estamos um pouco atrasados em
relação às universidades brasileiras, mas vemos um grande aumento no número de
universidades norte-americanas interessadas em implementar políticas de acesso
aberto à informação”, contou Joseph.
“É a primeira vez que os Estados
Unidos discutem proposta de implementação de políticas de acesso aberto, ao
mesmo tempo, em níveis federal e estadual e no Poder Executivo”, afirmou.
Por sua vez, a FCT de Portugal –
com a qual a FAPESP assinou no início de outubro um memorando de entendimento
–, anunciou a implementação de sua política de acesso aberto em outubro de
2012, durante a 3ª edição da Confoa, realizada em Lisboa.
A política da instituição estabelece
que os resultados de pesquisas realizadas com financiamento total ou parcial da
FCT devem ser depositadas no Repositório
Científico de Acesso Aberto de Portugal (Recap) tão logo expire o
período de embargo.
“O Recap tem um papel fundamental
na política de acesso aberto à informação da FCT, e a comunicação de que os
resultados das pesquisas financiadas pela instituição devem ser publicados
posteriormente no repositório é feita ao pesquisador no momento em que submete
seus projetos à FCT”, contou Ferreira.
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