Autoria: Vanessa Lima.
Fonte: Revista Crescer. Data: 8/10/2015
Se você já
sabia que ler para o seu filho desde muito cedo é importante, agora, tem mais
um motivo para continuar separando um tempo na rotina para essa atividade. Além
de todos os benefícios que a leitura traz para o desenvolvimento e para o vínculo,
pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, chegaram à
conclusão de que a leitura dá acesso a 70% mais palavras do que as conversas
que pais e mães costumam ter com a criança.
“O ponto
principal é que, claramente, há mais palavras únicas no texto de livros de
imagens do que em um discurso direcionado a uma criança. Acho que o principal
benefício dos livros é que eles introduzem novos assuntos e novas palavras que,
geralmente, ficam de fora do escopo da rotina de uma criança”, explica Jessica
Montag, uma das responsáveis pelo estudo.
Silvana
Augusto, educadora e pesquisadora em Educação Infantil, concorda. “Apesar de
ser a mesma língua, a leitura tem uma linguagem que não é igual a da fala. Ela
amplia as possibilidades e possibilita um avanço na capacidade de representação
da criança, quando ela quer se expressar”, explica.
Desde cedo
Há quem
pense que é bobagem ler para um bebê desde cedo, já que ele “não vai entender
nada mesmo”. Nada disso! Ler para uma criança nos primeiros meses de vida faz
diferença, sim. “Eles podem não entender o conteúdo da história, mas
compreendem o ritmo, a maneira como a mãe e o pai falam quando estão lendo um
texto”, diz Silvana. Duvida? Preste atenção no rosto de um bebê enquanto a mãe
conversa com ele. Depois, veja como a expressão dele muda quando ela lê um
livro. “Eles percebem a mudança, arregalam os olhos, sorriem, tentam...”,
descreve a especialista.
Mágica e
curiosidade
Além de
ampliar o vocabulário e de favorecer o desenvolvimento, ajudando os bebês a
perceberem diferenças no comportamento e na maneira de falar quando alguém lê,
o contato com a literatura também conta no desenvolvimento da escolaridade.
“Para uma criança, a estabilidade da escrita é quase uma mágica. Eles pensam:
‘Como é que quando a minha mãe pega esse livro, ela conta essa história de um
jeito e, aí, minha professora pega o mesmo livro e conta a mesma história, do
mesmo jeito? ’ Para as crianças, é um mistério - e isso desperta a curiosidade
e a vontade de entender como aquilo funciona, ou seja, o desejo de aprender a
ler e a escrever, mais tarde”, explica a educadora.
Quando a TV
substitui a leitura
Se os
livros oferecem o contato com palavras diferentes, que não são tão usadas no
cotidiano, a televisão, os smartphones e os tablets também podem cumprir esse
papel, certo? Sim e não. Ao assistir a um desenho animado, por exemplo, a
criança também pode aprender palavras novas. No entanto, nenhum desses
aparelhos substitui a leitura. “Podem até ser complementares, mas o modo de
expressão, com os livros, é diferente”, afirma Silvana.
Enquanto
com a televisão, as crianças são passivas, apenas espectadoras, com a leitura,
há uma interação. Os pequenos ficam em contato com o autor, que é contador
daquela história, mas isso é intermediado por alguém, que pode ser o pai, a
mãe, o professor... “É um momento de qualidade e contato”, resume a
especialista.
De leitor a
contador
Outro
impacto interessante que a leitura traz para as crianças é que o contato com
esse ritmo específico, com um universo maior de palavras e com as narrativas
permite que elas se tornem contadoras de histórias mais tarde. “A criança vai
de passiva, quando só ouve a leitura, à ativa, quando ela mesma é quem começa a
contar o que quiser”, afirma Silvana. Essa atitude, além de ser positiva para a
socialização, ainda estimula diversos pontos. “Para contar uma história, é
preciso acessar a memória, ativar a representação, encontrar palavras. Tudo
isso estimula também a autonomia, desde muito cedo”, diz a especialista.
Questão de
vínculo
Ler com os
filhos estimula a imaginação, oferece esse contato com palavras incomuns e
ainda favorece o vínculo com os pais. A atividade pode ser feita desde que a
criança é apenas um bebê, mesmo que ele ainda não compreenda o conteúdo, e não
tem idade para acabar. Ainda que seu filho já tenha desenvolvido a habilidade
de ler sozinho, muitas vezes, aquele momento de leitura com a mãe ou com o pai
pode ser um momento desfrutado em família, com aconchego e contato. As
histórias podem aproximar e inspirar diálogos sobre novos assuntos. Ler não tem
idade!
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