Autoria: Armando
Cardoso.
Fonte: Agência Brasil. Data: 03/01/2016.
Apesar de a prefeitura do Rio de Janeiro ter
assumido parte dos custos das bibliotecas parque da cidade até o fim de 2016,
projeto do governo do estado, os equipamentos de responsabilidade do Poder
Executivo municipal estão abandonados. A denúncia é do Sindicato dos
Bibliotecários do Estado do Rio de Janeiro (Sindib-RJ).
Segundo a presidenta da entidade, Luciana Manta,
a prefeitura sucateou o sistema de bibliotecas e transferiu os equipamentos da
Secretaria de Cultura para a de Educação, além de extinguir outras.
“Caso da Biblioteca de Santa Teresa, que foi
extinta de fato, mas que só não fechou as portas pela insistência da Associação
de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) e pelo apoio do Sindib-RJ no
movimento criado na época. Hoje, a biblioteca funciona sem verba, sucateada e
sem segurança, já que não existe por ter sido extinta”.
A Secretaria Municipal de Cultura foi procurada
pela Agência Brasil, mas não respondeu às ligações. No site
da pasta, há uma lista de 12 bibliotecas populares do município, sendo que uma,
na Gamboa, consta como fechada para obras.
A Biblioteca de Santa Teresa só não fechou as
portas pela insistência da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa
(Amast)
A de Santa Teresa aparece na lista. A reportagem
esteve no local e verificou que o lugar é pequeno, com cerca de 20 cadeiras e
cinco estantes de livros, e exala forte cheiro de mofo.
O acervo conta com cerca de 5 mil livros, entre
literatura infantil e adulto. A atendente informou que o local é frequentado
por estudantes e moradores da área, mas que, no período de férias escolares,
quando estivemos no local, não tem muita gente.
Na Biblioteca Popular Abgar Renault, localizada
no interior do prédio da Prefeitura, na Cidade Nova, o acervo tem cerca de 10
mil livros e apenas uma mesa com quatro cadeiras. O local é acessado
principalmente pelos funcionários da prefeitura.
Concurso e terceirização
De acordo com a presidenta da Sindib-RJ, há
décadas estado e município não abrem concurso para bibliotecários. “São quase
duas décadas sem concurso público para bibliotecários no âmbito da Secretaria
de Educação. O Estado não abre concurso para a Secretaria de Cultura há mais de
25 anos, sem falar na pasta da Educação, que nunca fez concurso. Os bibliotecários
lotados na secretaria foram do concurso para Fundação de Apoio a Educação
Pública [FAEP] e, com a extinção do órgão, acabaram vinculados à SEE-RJ”.
Para Luciana, a intenção é terceirizar os
serviços, como ocorre com as bibliotecas parque do estado, cuja administração é
feita pela Organização Social (OS) Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG).
“O IDG não cumpre a lei que institui os pisos no estado e que deveria ser
seguida em todos os editais para contratação de empresa prestadora de serviço. Ela
aplica-se também à administração indireta, inclusive às organizações sociais
contratadas pelo Poder Público. Encaminhamos ofício ao IDG, mas ainda não
obtivemos resposta. O caminho será a justiça. ”
Integrante do Movimento Abre Biblioteca Rio, o
bibliotecário Chico de Paula questiona o modelo de gestão via OS para as
bibliotecas parque. “Como o estado do Rio de Janeiro não realiza concurso para
bibliotecário há cerca de 30 anos, acaba contratando uma organização social.
Não vou entrar no mérito, mas o fato é que terceirizado é precário. Tanto que o
governo pode não repassar a verba e, da noite para o dia, despedir todo mundo,
como corremos o risco agora”.
Segundo ele, a terceirização só é permitida para
atividades meio. “A terceirização nas bibliotecas parque é uma piorada. Pela
legislação, somente as atividades meio é que podem ser terceirizadas. Poderia a
segurança e o pessoal de limpeza, nunca os bibliotecários, jornalistas e
historiadores. Mas como é contratação por uma organização social, ela terceiriza
até a atividade fim."
O IDG foi procurado e informou que apenas a
Secretaria de Estado de Cultura pode se pronunciar sobre o assunto. A
superintendente da Leitura e do Conhecimento da secretaria, Vera Schroeder,
explicou que os profissionais que trabalham nas bibliotecas parque não são
concursados justamente porque são contratados via OS.
“ Se você for estudar esse modelo de gestão via
OS, pode ter crítica, achá-lo ele insuficiente ou não tão bom, mas um contrato
de gestão não é um contrato de terceirização de um serviço. Muito pelo
contrário, esse modelo já existe no Brasil há algum tempo. A acusação de não
ter concurso para trabalhar nas bibliotecas parque é totalmente incorreta. O
que deveria ser cobrado é um concurso dentro do próprio estado para contratar
museólogos, bibliotecários e produtores culturais. Aí eu concordaria",
afirmou a superintendente.
Conforme Vera, o país também não consegue formar
profissionais de biblioteconomia em número suficiente para suprir a demanda dos
espaços de leitura do Brasil, o que acaba levando pessoas com outras formações
a gerirem algumas bibliotecas, prática proibida por lei.
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