Autoria: Lilian
Kuhn.
Fonte: Revista Crescer.
Data: 5/09/2016.
URL: http://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Lilian-Kuhn/noticia/2016/09/letramento-alfabetizacao-e-pequenos-escritores.html
O último trimestre escolar de 2016 está a caminho e,
consequentemente, aumentam-se as buscas por avaliação fonoaudiológica para o
“filho de 4 ou 5 anos que ainda não escreve”. Muitas vezes, os pais também
relatam ter sensação de que a alfabetização tem começado muito cedo e que seu
filho talvez não esteja preparado para tal etapa. Será que eles têm razão ou
tem havido uma confusão entre letramento e alfabetização?
O conceito de “letramento” vem sendo fortemente adotado
pelas escolas, cujas práticas de ensino são voltadas para o “alfabetizar
letrando”. O letramento considera a aprendizagem, reflexão e construção dos
aspectos sociais da escrita. Nessa perspectiva, a apresentação, o manuseio e a
construção de materiais escritos são inseridos no cotidiano da criança desde
muito cedo, de maneira lúdica e informal.
As pesquisas em educação mostram, por exemplo, que, quanto
maior for o nível de letramento do ambiente em que o aluno está inserido,
melhor será a relação dele com a escrita formal. E, portanto, melhor também
será seu desempenho no processo de alfabetização. Nas escolas em que o
letramento é um dos objetivos, as atividades de leitura e escrita são feitas
com todos os alunos e durante todo o ciclo escolar, o que não significa que
exigiremos que as crianças saibam ler e escrever mais cedo.
Por outro lado, estar alfabetizado significa ter domínio
total da leitura e da escrita, com possibilidade plena de ter os atos mecânicos
de ler (decodificação) e escrever (codificação), mas também de interpretar,
compreender e criar textos. Para o Programa Alfabetização na Idade Certa do
Ministério da Educação (MEC), isso deve acontecer aos 8 anos, com o início
formal desse processo aos 6, que é quando o aluno ingressa no Ensino
Fundamental.
Claro que, como em todos os outros aspectos do
desenvolvimento infantil, as variações individuais estão presentes e podemos
ver crianças que, aos 5, já leem e escrevem facilmente. Mas, além da definição
da faixa etária, temos que nos embasar na presença de aspectos físicos e
sociais, que seriam pré-requisitos para a leitura e a escrita: fluência de
linguagem oral, pensamentos abstratos, noções de espaço e tempo,
estabelecimento de coordenação motora fina, entre outros.
Acreditando que, assim como falar culmina do processo de
aquisição da linguagem oral, escrever é produto da construção da linguagem
escrita. E mais: algumas atividades e muitos conteúdos podem ser apresentados
desde o inicio da Educação Infantil, mesmo que as habilidades primordiais não
estejam totalmente desenvolvidas e que os pais precisam ser informados de que o
objetivo é de “letrar” e não de alfabetizar.
Desta forma, ao propor como lição de casa a leitura de um
livro, a escrita de uma mensagem para a mãe ou a criação de uma lista de
compras, não se supõe que o aluno da Educação Infantil o faça sozinho, formalmente
ou corretamente, mas que se habitue a um novo código de comunicação e que
desperte seu interesse por ele.
Para garantir que chegaremos lá no final do processo de
alfabetização com sucesso e sem obstáculos, lembrem-se que:
– Ambiente letrado(r): ter contato social com materiais
escritos no dia-a-dia, bem como ver que os adultos ao redor também leem e se
interessam pela atividade;
– O fator “motivação” é essencial para qualquer
aprendizado ocorrer. Portanto, não brigue com seu filho se ele errar ou disser
que não consegue ler/escrever. Incentive-o e ofereça ajuda para que ele
continue motivado na viagem ao mundo das letras!
– Perceba se ele está apto a entrar na jornada da
alfabetização. Crianças com alterações visuais, auditiva, de linguagem oral ou
neurológica podem precisar de adaptações de materiais, maior exposição ao
conteúdo e/ou mais tempo para completar o ciclo da alfabetização.
A escola já sinalizou que o filho está com “dificuldade”
para ser alfabetizado? Tente entender qual é a queixa da equipe pedagógica,
busque avaliações com um fonoaudiólogo para investigar se há algum distúrbio
(transtorno) de aprendizagem, mas não aceite (e nem use) rótulos de que o seu
filho tem “preguiça de pensar” ou “preguiça de aprender”. Combinado?
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