Autoria: Clara Viana.
Fonte: O Público (Portugal). Data:
13/10/2016.
URL: www.publico.pt/sociedade/noticia/ja-ha-um-milhao-de-alunos-com-acesso-as-bibliotecas-escolares-1747152
Em 20 anos, o número de bibliotecas escolares passou de
164 para 2426, mas o corpo de professores bibliotecários está a diminuir.
Cerca
de um milhão de alunos do ensino básico e secundário, o que representa 76,5% do
total de estudantes, estão em escolas onde existe uma biblioteca, segundo dados
disponibilizados pela Rede de Bibliotecas Escolares. Não quer dizer que todos
frequentem estes espaços, mas como não existem dados centralizados sobre o
número real de utentes, fica o registo impressivo da actual coordenadora da
rede: seja com os seus professores ou por livre vontade, a maioria passa por
lá. E não só para trabalhar, “mas também para conviver”, adianta Manuela Silva.
A Rede de Bibliotecas Escolares
está a festejar o seu 20.º aniversário. Nesta sexta-feira, na Fundação Calouste
Gulbenkian, em Lisboa, faz-se o balanço. Em 1997 existiam 164 bibliotecas nas
escolas, no ano passado este número já estava nos 2426. E o objectivo, frisa a
sua responsável, é continuar a subir. Por agora, todos os estabelecimentos de
ensino do 2.º e 3.º ciclo e secundárias estão abrangidas por um equipamento
destes, mas falta ainda garantir que todos os do 1.º ciclo com mais de 100
alunos também tenham a sua biblioteca.
Mais uma vez não existem dados disponíveis sobre quantas
escolas deste nível de ensino falta ainda alcançar, mas sabe-se que 900 já têm
este equipamento. No total existem 3592 estabelecimentos do 1.º ciclo, mas a
maioria tem menos de 100 alunos. As escolas nesta situação terão acesso à
biblioteca do agrupamento onde estão inseridas através das rotinas de
itinerância comuns à Rede de Bibliotecas Escolares, com livros e dispositivos
electrónicos a viajarem de escola em escola.
Crescer é pois um dos objectivos. O outro é consolidar o
trabalho das bibliotecas, o que só poderá ser feito pela “promoção do gosto
pela leitura, seja em formato impresso ou digital”, afirma Manuela Silva. “Nas
bibliotecas queremos que os alunos sejam os protagonistas da sua aprendizagem”,
diz, acrescentando que isso passa também pelo desafio de os ensinar a “usar a
informação que têm disponível de forma autónoma e crítica”.
Mais novos são os que gostam mais de ler
Nestes espaços existem livros, computadores, dispositivos
móveis, como os tablet,
que são a sensação do momento. Com aplicações próprias dirigidas para os
alunos, incluindo os que têm necessidades educativas especiais, permitem uma
abordagem dos conteúdos curriculares a que muitos já se renderam, conta Manuela
Silva. E assim se cumpre outro dos objectivos da rede: provar que “existem
outras formas de ensinar”, o que tem sido feito em articulação com os
professores das disciplinas, a quem se recomenda que utilizem os recursos
disponíveis nas bibliotecas para o desenvolvimento das suas aulas.
E quem são os principais fãs dos livros propriamente
ditos que habitam nestes espaços? Os alunos do 1.º ciclo, que são os mais
novos, e que estão ainda muito receptivos a estes objectos que são os livros,
revela Manuel Silva.
O mesmo entusiasmo, acrescenta, pode ser encontrado
também nas salas da pré-escolar, onde os livros são lidos em voz alta e
folheados com deleite. Esta disponibilidade para a leitura decresce
substancialmente no 3.º ciclo: para os alunos adolescentes o atractivo número
um das bibliotecas são os dispositivos electrónicos que ali têm ao seu dispor.
No ano passado, último com estes dados disponíveis,
existiam 21.791 computadores para uso nas bibliotecas das escolas e cerca de
dois mil dispositivos de leitura digital — em 2012 estes últimos eram apenas
348.
Menos professores
Neste mundo que parece em expansão o número de
professores bibliotecários, a quem compete gerir e animar estes espaços, está
contudo em queda: passou de 1334, em 2014, para 1301, em 2016. Segundo Manuela
Silva, esta diminuição é já reflexo da redução do número de alunos, que tem
sido particularmente acentuada no 1.º ciclo.
Por lei, a afectação de professores às bibliotecas, que é
feita por concurso, depende do número de alunos existente nas escolas ou
agrupamentos. Em média, os professores bibliotecários têm 50 anos de idade e a
maioria é do sexo feminino, repetindo assim o perfil dominante na classe.
Também por lei, não podem exercer esta função em exclusivo: têm de ter uma
turma para ensinar ou garantir horas de apoio aos alunos.
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