Fonte: Folha Dirigida. Data: 27/04/2011.
Autora: Joyce Trindade.
Extraído do Boletim Abrelivros, de 27/04/2011, da Associação Brasileira dos Editores de Livros Escolares.
Tecnologia digital, ebooks, ipad, iphone, etc. Apesar da multiplicidade de ferramentas tecnológicas para a leitura hoje em dia, o tradicional livro ainda se apresenta como das mais eficazes formas de incentivo à leitura para os jovens. Principalmente, quando adotado da maneira certa.
Um dos locais mais propícios para a prática da leitura, a sala de aula, muitas vezes, pode gear aversão a livros, principalmente quando são apresentados de forma impositiva. Quando, porém, se resolve fazer do local palco para as palavras e as histórias, o resultado é positivo. Diversas atividades são possíveis para formar uma nova geração de leitores. Ou melhor, de prazerosos leitores.
Implementado pela Secretaria Municipal de Educação de Niterói, em 2010, o projeto "Magia de Ler" transformou a atividade de leitura, que acontecia em horários determinados durante a semana escolar, em uma propostas de ensino, constantemente presente na vida dos alunos e dos professores.
Com o "Magia de Ler", as aulas de leitura, que antes eram ministradas por um professor específico, passaram a ser realizadas por todos os docentes. Além disso, cada estudante da rede municipal (da alfabetização até o 2º ciclo do ensino fundamental) recebe no início do ano uma maleta com cinco livros de autores renomados. Com os exemplares dos educadores e os que ficam na sala de aula, as turmas realizam diversas atividades como rodas de leitura, observação da imagem, roda de conversa, entre outras.
Após, praticamente um ano de implementação do projeto, os resultados refletem a mudança de relação dos estudantes - e dos próprios docentes - com a leitura literária. A sensação de prazer com o novo hábito passou de 16% dos educadores para 33%.
O número de livros lidos pelos docentes também aumentou. Enquanto no início de 2010, 74% deles liam três ou mais livros, esse índice passou para 80%. A literatura infantil tornou-se o tipo de leitura mais realizada em sala de aula. O gênero que antes estava presente em somente 9% das atividades, agora aparece em 28%. As rodas de leitura, que antes eram realizadas em somente 13% casos, passaram a ser a atividade mais promovida com os estudantes (31%). Com isso, os alunos a participação também foi ampliada.
"Quanto mais se lê, mais se quer ler" - A coordenadora do Projeto Magia de
Ler, Nádia Enne, afirma que o projeto foi criado, pois a secretaria entendeu que todo professor deveria ser um professor de leitura. "O livro antigamente era, e hoje, em muitos casos ainda é, colocado como 'extraclasse'.
Ler, Nádia Enne, afirma que o projeto foi criado, pois a secretaria entendeu que todo professor deveria ser um professor de leitura. "O livro antigamente era, e hoje, em muitos casos ainda é, colocado como 'extraclasse'.
O livro não pode ser extraclasse, tem que estar na classe, em sala de aula. O melhor divulgador do livro e da leitura é o professor", explica. Um círculo virtuoso. Assim se pode definir a leitura. Ao serem atingidos pelos encantos dos livros, os professores transmitem o gosto pela leitura aos alunos, em um contagioso processo - realmente educativo -, no qual educadores e estudantes se sentem valorizados e úteis.
Nas escolas municipais de Niterói, o incentivo à leitura fez com que 50% dos docentes se sentissem totalmente satisfeitos com a forma como têm contribuído para a formação dos alunos. Para Nádia Enne, os benefícios do projeto são muitos: "grande parte das crianças da rede pública não possui livros em casa. Com o projeto, esses alunos passam a montar um acervo de livros em casa, que a cada ano aumenta. Só o fato de ver a felicidade das crianças ao levar sua maleta de livros para casa já bastaria para ser um projeto de excelência", declara.
Para a coordenadora do "Magia de Ler", fazer com que os estudantes tenham prazer na leitura, como estão adquirindo, é algo que vale qualquer esforço. O projeto também atende pessoas com necessidades especiais e um dos diversos exemplos de como a ação tem melhorado a vida dos estudantes é o caso de um menino com síndrome de down. "Ele era uma criança muito retraída mas, com o projeto, já participou até de um recital. O avanço dele está sendo impressionante."
Os participantes do projeto também misturam leitura e tecnologia. As turmas realizam, durante o ano, diversos encontros de bate papo online com autores trabalhados em sala de aula. "Unir leitura e tecnologia é muito bom para os jovens, para eles perceberem que ter contato com leitura não é algo chato e antiquado. Se apaixonar por livros é muito fácil. Quanto mais se lê, mais se quer ler", afirma a professora Nádia Enne.
Escolas utilizam diferentes métodos para aproximar seus alunos dos livros - Muitas escolas já perceberam a importância de promover programas de incentivo à leitura para seus alunos, dentro de sala de aula. Os métodos variam. Podem ser rodas de leitura, livros produzidos por alunos, troca-troca de obras literárias, adaptações para teatro e cinema, entre outros.
O Anglo-Americano, por exemplo, desenvolve, desde a educação infantil, o projeto "Ler e criar". Nele, os estudantes escolhem um livro, leem, levantam dados, realizam pesquisas e interpretam as ideias. Depois, vão até turmas de alunos mais novos para contar aquela história, sob o seu ponto de vista. Além disso, também fazem a mesma coisa para jovens de comunidades carentes, como aconteceu em 2010.
Outra escola que desenvolve atividades pedagógicas voltadas para estimular o lado leitor dos seus alunos é o Colégio Logosófico. Lá, os estudantes participam de rodas de leitura, discussões de textos, apresentações de trabalhos e adaptações de textos literários para o teatro.
"Colocamos trabalhos de leitura e produção textual o tempo inteiro. Ano passado, inclusive, lançamos dois livros com poemas produzidos pelos próprios alunos. O legal é que o livro não foi resultado de uma atividade específica, mas de uma série de ações que nos levaram para esse caminho", explicou o professor de Língua Portuguesa da escola, Tiago Cavalcante.
Além disso, o professor falou sobre o programa Sociedade dos Poetas Vivos. A ideia surgiu, em 2009, depois de passar o filme "Sociedade dos Poetas Mortos" para seus alunos.
Inicialmente, era apenas para desenvolver uma produção de poesia, mas os estudantes gostaram tanto, que foi preciso criar um tempo extra, fora do horário de aula normal, apenas para quem quisesse participar. Apesar das atividades terem parado por um tempo, este ano foram retomadas, mas, agora, dentro de sala.
"Separamos um tempo de Língua Portuguesa por semana para fazer um café literário. Cada um leva o que quiser. Fazemos trabalhos com vídeos, música, eles levam violão, poemas que escreveram e muitas outras coisas. Criamos, inclusive, um blog. É um espaço onde eles se sentem livres. Eles leem por prazer e não por obrigação", comentou.
Uma maneira de facilitar o acesso dos estudantes a um grande leque de possibilidades de leitura é o sistema de troca-troca de livros. O método já é utilizado pelo Colégio La Salle Abel há mais de 20 anos. Por ser realizada sem qualquer custo para os participantes, gera economia no orçamento familiar, além de contribuir com meio ambiente, por conta da reutilização do material didático.
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