Autora: Verônica Machado
Fonte: Correio Braziliense. Data: 31/01/2012.
Fulano de Tal quer ser seu amigo. Aceitar ou recusar? A mensagem no canto da página chama a atenção. Nenhum problema em aumentar o círculo de contatos? até ver que quem faz o convite é o chefe. Vêm, em seguida, alguns momentos de hesitação? Afinal, você acaba de postar aquelas fotos de biquíni no álbum?Baixaria? ou comentar a ressaca de segunda-feira no mural. Bastaria rejeitar o pedido de amizade on-line para evitar constrangimentos? Ou a recusa significaria uma indelicadeza social? Saiba que é possível ceder ao convite sem ficar em uma enrascada.
A preocupação existe porque a possibilidade de esbarrar com um colega de trabalho na rede é grande. Em agosto, por exemplo, o Facebook deve chegar a 1 bilhão de usuários, segundo a companhia de métricas iCrossing. Fora o fato de que as próprias empresas estão on-line. Elas aumentaram em 300% o uso das mídias sociais no segundo semestre de 2011, em relação ao período anterior.
O Twitter, em particular, cresceu 700% no ambiente corporativo, na comparação anual feita por uma pesquisa da empresa de segurança Palo Alto Networks. Como o fenômeno tem expansão rápida, as regras de como se comportar na rede são construídas aos poucos, segundo a especialista em etiqueta empresarial Romaly de Carvalho. É um caso delicado, porque no ambiente de trabalho temos uma personalidade voltada para o profissionalismo e seriedade e somos diferentes na esfera pessoal. É complicado misturar, explica. A consultora acredita que o bom senso é o segredo. E sugere: tenha dois perfis. Um para colocar as fotos particulares, bebendo aquela cerveja, e outro com contatos do trabalho. Antes de aceitar um convite no Facebook, avalie a cultura do trabalho. Se, ainda assim, o chefão insistir no convite do grupo íntimo, Romaly garante que o mais adequado é tentar direcioná-lo gentilmente ao perfil profissional. Faça da rede uma vitrine com comentários e compartilhamentos interessantes para a equipe. É marketing pessoal, comenta. A solução acomoda as necessidades de todos os círculos de contato ao alimentá-los de forma diferente.
Quem arriscar pode passar pela situação de uma postagem mal-entendida ser motivo de demissão e até responder civil e penalmente, conforme o artigo nº 482 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).
Segundo o especialista em direito digital Alexandre Atheniense, as empresas cada vez mais monitoram seus funcionários e eles devem ficar atentos, porque certas informações podem ser ruins ao internauta. Um desabafo no post pode ter repercussão jurídica, a depender do teor da informação, comenta.
Ambiente corporativo
O advogado acredita que a estreita relação entre as redes sociais e o ambiente corporativo apresenta a necessidade de criar políticas de informação nas companhias. Seria um conjunto de normas para estabelecer os limites do uso dos dispositivos eletrônicos e da web para os funcionários. Independentemente dessas regras, em qualquer lugar, as pessoas precisam se preocupar com a própria reputação, reforça. Feito pela agência de consultoria de imagem Millenial Branding e pelo site Identified constatou que a maioria dos 4 milhões de perfis do Facebook limita os detalhes da vida profissional. Identificou, por exemplo, que 64% não incluem o nome do emprego no perfil e que um usuário assíduo da rede está ligado a cerca de 700 amigos. Destes, em média, apenas 16 são colegas.
Para acalorar ainda mais a discussão, a Impacta Tecnologia encomendou uma pesquisa sobre a relação das empresas com as redes sociais. Foram entrevistados 252 profissionais de TI de todas as regiões do país.
Constatou-se que manter contatos pessoais e profissionais é o benefício mais citado por, respectivamente, 79% e 74,2% dos entrevistados. E, ainda, que a área de recursos humanos está de olho no mundo digital. O setor aparece com 8,7% de participação (o marketing lidera com 44%). Portanto, as empresas estão atentas aos cliques? Seja para contratar ou demitir.
Dez dicas para usar as redes sociais a seu favor:
1 - Tenha dois perfis: um profissional, outro pessoal.
2 - Use ferramentas da rede para escolher quais pessoas poderão ter acesso às suas publicações.
3 - Insista. Não é falta de educação informar que a rede pessoal é restrita aos familiares e amigos.
4 - Fique atento. Não é boa opção ignorar o convite do chefe.
5 - Aceite o seu colega ou o chefe na sua rede particular apenas se houver uma relação de amizade estabelecida.
6 - Lembre-se de que a imagem profissional pode ficar comprometida por fotos particulares e polêmicas.
7 - Aproveite o perfil profissional para fazer marketing das suas potencialidades.
8 - Tenha uma boa postura nos sites.
9 - Evite publicar algo negativo sobre sua atual ou ex-empresa. A maioria tem programas de monitoramento.
Fonte: Romaly de Carvalho, consultora de etiqueta empresarial.
O que diz a lei
Art. 482 da CLT Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: a) ato de improbidade; b) incontinência de conduta ou mau procedimento; (...) g) violação de segredo da empresa; k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa (...).
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