Fonte: Portal Salário Mínimo. Data:
10/08/2012.
URL:
www.salariominimo.net/2012/08/10/livros-censurados-ganham-exposicao-na-biblioteca-florestan-fernandes/
Quando Sandra Reimão, inspirada
pela leitura do Roteiro censura cinematográfica no Brasil, de
Inimá Simões (Senac São Paulo, 1999), foi atrás de uma lista de livros
censurados na época da ditadura militar no Brasil, não esperava encontrar o que
encontrou: nada.
Existem, sim, muitas reflexões
acerca do período. Mas nenhum trabalho havia organizado esse dado em especial.
A professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e do Programa de
Pós-Graduação
em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da
USP iniciou, então, em 2005, o levantamento de informações
para saciar essa curiosidade.
Cinco anos mais tarde, começa a ter
forma seu livro Repressão e Resistência Censura
a Livros na Ditadura Militar (Edusp, 2011), fruto da
pesquisa desenvolvida, publicado em dezembro do ano passado. Presente no evento
de lançamento, Moacyr Novaes, diretor do Centro Universitário Maria Antonia da
USP, viu no tema a oportunidade de um curso e uma exposição. Sandra gostou da
ideia ,e o resultado foi um curso de um mês, com quatro aulas, além de um
exposição na Maria Antonia.
O sucesso do evento desencadeou
outro interesse,
dessa vez por parte da Biblioteca Florestan Fernandes, também da USP. A
diretora Maria Laet e o membro da Comissão da Biblioteca José Carlos Estevão
convidaram a autora para trazer a exposição para a biblioteca da FFLCH, onde
está atualmente e onde fica até o próximo dia 31.
Sandra também é editora científica
da Revista Matrizes, da pós-graduação da ECA, periódico que recebe
artigos, resenhas e entrevistas produzidos por acadêmicos na área de
comunicação. Enquanto eu montava os textos para a saber o que ia [na
exposição], a revista recebeu e aprovou a resenha de Ivan Paganotti sobre
o meu livro. Eu não conhecia o Ivan!, conta.
A editora executiva da revista foi
quem contou sobre a resenha, e perguntou à Sandra se ela queria ler. Eu li e
achei que ele tinha umas frases tão boas, que sintetizavam tão bem a ideia, que
eu quis usá-las, relata. Assim, a parte escrita do banner foi feita em
colaboração com Paganotti.
O design
foi criado por Caroline Pedro e o tratamento das imagens feito por Carla
Fontana e Cristiane Silvestrin. Assim, em maio desse ano o livro se apresentava
ao visitantes de forma resumida e ilustrada, com capas de livros censurados e
cópias dos pareceres emitidos pelo Departamento de Censura e Diversões Públicas
(DCDP) do Ministério da Justiça do regime ditatorial.
Quando a exposição foi trazida para
a Biblioteca da FFLCH, recebeu a contibuição de Maria Laet e da funcionária
Marinês de Souza com exemplos sólidos para o conteúdo. Deu pra ver que todos os
livros de não-ficção censurados estavam na Biblioteca Florestan Fernandes, o
que indica como o acervo é completo, aponta Sandra.
O primeiro objetivo pretendido era
identificar quais foram as obras marcadas pelo Serviço de Censura e Diversões
Públicas (SCDP) do DCDP. Para isso, além de pesquisa bibliográfica e em jornais
da época, Sandra foi até Brasília, no Arquivo Nacional, e abriu mais de 500
pastas contendo documentos de pareceres e proibições de livros. Destes,
aproximadamente 120 eram de autores nacionais, listados em seu livro sob as
categorias de ficção, não-ficção, peças de teatro e eróticos/pornográficos,
divisão que se repete na exposição.
A segunda meta era entender como se
dava o processo de censura. Falamos que havia censura prévia, mas ao mesmo
tempo, falamos que havia apreensão. Como era o processo questiona a professora.
Na maioria dos casos, explica, o livro era publicado e depois, se houvesse
algum tipo de reclamação por parte da população, através de denúncia, ou de
iniciativa do governo - ele era averiguado.
Emitiam-se então pareceres, como o
que aconselha o impedimento da peça A farsa do Bode Expiatório, de
Luiz Maranhão Filho, sob o pretexto de que trata-se de uma tentativa de levar a
revolução ao descrédito, através de insinuações de que no Brasil não há
liberdade.
A defesa da moral e dos bons
costumes era motivo recorrente para cercear a liberdade de expressão naquela
época, como se comprova no artigo primeiro do decreto-lei 1.077, de 26 de
Janeiro de 1970: Não serão toleradas as publicações e exteriorizações
contrárias à moral e aos bons costumes quaisquer que sejam os meios de
comunicação.
A definição do que seria moral
ficava na mão dos técnicos em censura, como Lilian Filus e Regina Russ, que
julgaram perigoso o uso generalizado do texto sobre drogas no livro didático Programa
de Saúde, já que se destina a adolescentes de 15 a 18 anos anos, no caso,
os mais suscetíveis de querer experimentar o proibido, pois é a idade da busca
de liberdade, e todas as gamas de sensação, de perigo e de aventura estão
presentes.
O parecer completo, que inclui
análise da mensagem, valor educativo e impressão final, está disponível no
livro, na exposição e no Arquivo Nacional, que tem acesso aberto ao público.
Serviço
A exposição Repressão e
Resistência Censura a Livros na Ditadura Militar tem entrada gratuita e
aberta ao público, e fica disponível até o dia 31 de agosto na Biblioteca
Florestan Fernandes, da FFLCH (Av. Prof. Lineu Prestes , Travessa 12, 350,
Cidade Universitária,
São Paulo).
O horário de funcionamento da
biblioteca é de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 22 horas; e aos sábados, das 9 às 13 horas.
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