Autora: Camila Freitas Soares.
Fonte: Observatório
da Imprensa. Data: 21/08/2012.
O Ministério da Cultura (MinC)
lançou no final de 2011 mais uma iniciativa de estímulo à leitura, intitulada
“Leia mais, seja mais”. A campanha conta com o apoio da Fundação Biblioteca
Nacional (FBN) e tem como objetivo incentivar a leitura e o uso das bibliotecas
públicas, visando ao desenvolvimento pessoal dos leitores. A campanha é
louvável, assim como tantas outras voltadas para as áreas da cultura e
educação. Incentivar o uso de bibliotecas públicas por pessoas de classes menos
favorecidas é, sem dúvida, um meio de contribuir para seu desenvolvimento,
visto que a leitura é um dos meios mais eficazes para o enriquecimento cultural
do indivíduo.
Seria formidável se não fosse
contraditório: a segunda etapa da campanha foi lançada no início de agosto,
quando servidores e professores de institutos e universidades federais caminham
para o segundo mês de uma greve nacional que paralisou as atividades regulares
antes mesmo do término do primeiro semestre letivo. O lançamento da campanha
também coincide com a situação lamentável em que se encontra a maioria das
bibliotecas públicas municipais e estaduais por todo o Brasil: o convívio quase
constante com a necessidade de reformas, reparos e investimentos em setores
específicos, como os de preservação, obras raras e digitalização de acervos
(ainda não disponível em todas as bibliotecas).
Educação e valorização
profissional
Não esquecendo também de falar
das bibliotecas comunitárias e escolares, que recebem investimentos irrisórios
do Poder Público para a manutenção física, mas que não contam com pessoal
especializado para o desenvolvimento de suas atividades. As bibliotecas
comunitárias quase sempre precisam de voluntários, enquanto as escolares nem
mesmo são chamadas de bibliotecas: são as famosas “salas de multimeios” geridas
por um professor que se afastou das funções e que mais parecem com uma sala de
jogos. Também são facilmente utilizadas como forma de punição para os alunos
mais relapsos: ficar na “biblioteca” para pensar e reavaliar os erros que
cometeram enquanto estudantes. Sobram recursos e falta interesse por parte do
governo em contratar profissionais especializados para suprir as carências
desses locais. Graduações em Biblioteconomia contam com professores
qualificados e alunos dispostos a encarar um mercado de trabalho desafiador à
sua frente. Desafiador porque ao bibliotecário não compete apenas a missão de
zelar por uma biblioteca ou qualquer outro suporte de informação. Fazer da
biblioteca um local mais “atraente” também é competência de um bibliotecário e
essa tarefa não tem sido fácil num país onde mais de 100 milhões de pessoas
apontam inúmeras razões para não ler.
Ler mais não depende apenas de
campanhas. Depende também de investimentos maciços em educação, não muito
comuns num país que aparece na 84ª posição no ranking do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Priorização da educação e valorização
profissional, estas, sim, são medidas necessárias para que sejamos mais,
em todos os sentidos.
***
[Camila Freitas Soares é
estudante de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE]
Um comentário:
Nossa! Que maturidade dessa aluna, ela foi no ponto central do problema das bibliotecas públicas brasileiras: falta de bibliotecário!
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