Fonte: O Estado de S. Paulo. Data: 23/01/2013.
Autoria:
Ocimara Balmant.
URL: www.estadao.com.br/noticias/impresso,em-725-das-escolas-nao-ha-biblioteca-lei-preve-obrigatoriedade-ate-2020-,987556,0.htm
O
Brasil precisa construir 130 mil bibliotecas até 2020 para cumprir a Lei
12.244, que estabelece a existência de um acervo de pelo menos um livro por aluno
em cada instituição de ensino do País, tanto de redes públicas como privadas.
Hoje, na rede pública, apenas 27,5% das escolas têm biblioteca.
Para
equipar todas as 113.269 escolas públicas sem biblioteca seriam necessárias a
construção de 34 unidades por dia, segundo um levantamento realizado pelo
movimento Todos Pela Educação com base no Censo Escolar 2011. O estudo também
faz uma comparação com números do Censo 2008 e mostra que, mesmo as escolas
construídas nos três anos seguintes (foram 7.284 novas unidades) não contemplam
o espaço: apenas 19,4% dessas novas instituições têm biblioteca.
Os
Estados mais carentes são os das Regiões Norte e Nordeste, que tradicionalmente
têm infraestrutura escolar precária, com escolas que chegam a funcionar em
construções sem energia elétrica e saneamento básico. Na rede municipal do
Maranhão, por exemplo, só 6% das escolas têm biblioteca.
O que
destoa da lista, no entanto, é o aparecimento do Estado de São Paulo com um dos
piores resultados do ranking, com 85% das unidades de sua rede pública (escolas
estaduais e municipais) sem biblioteca. São 15.084 unidades sem o equipamento.
Um
enorme prejuízo, se considerado os resultados da edição 2012 da pesquisa
Retratos do Brasil, que mostrou que, entre os 5 e 17 anos, as bibliotecas
escolares estão à frente de qualquer outra forma de acesso ao livro (64%).
A
justificativa mais comum para desrespeitar a lei é a falta de espaço físico, já
que muitas das novas escolas são construídas em terrenos apertados. No caso das
unidades antigas, muitas deram outro uso para a biblioteca: boa parte virou
sala de aula para suprir a demanda por vagas e, em outras, a área foi, aos
poucos, se tornando um depósito, com computadores empilhados e livros
empacotados.
"Isso
mostra que só a legislação não é suficiente, porque tem lei que realmente não
pega", afirma Priscila Cruz, diretora do Todos pela Educação.
Equívoco.
Quando se analisa o déficit por nível de ensino, vê-se, ainda, que as
instituições de ensino infantil são as mais prejudicadas: enquanto 82% das
escolas de ensino profissional e 52% das de ensino médio construídas após 2008
possuem biblioteca, apenas 10% das de ensino infantil têm o espaço.
Uma
opção que é um contrassenso argumentam os educadores, já que é na faixa etária
dos 5 anos que a criança está descobrindo a língua escrita e tem de ser
estimulada à descoberta e ao gosto pela leitura. No ensino médio, o estudante
já teria acesso a outros ambientes de leitura.
A
mudança, afirma ela, depende de uma tomada de consciência pedagógica, que
entenda a importância da biblioteca na aprendizagem coletiva e individual.
"O descaso é tanto que, em alguns casos, a área se torna o local de
castigo. A criança conversou na aula, é mandada para lá. Ler vira
punição", diz Priscila.
Para
que a biblioteca escolar cumpra seu papel pedagógico, deve-se levar em conta do
espaço físico à qualificação dos funcionários, passando pela qualidade do
acervo e pelas atividades agendadas no local. O tamanho mínimo é de 50 m², o
acervo deve contemplar a diversidade de discursos, é preciso que haja
computadores conectados à internet e bibliotecário responsável.
Desinformação.
Além do desconhecimento dos parâmetros, falta informação sobre fontes de
financiamento. "Muitos municípios desconhecem os recursos financeiros
disponíveis para a implantação do equipamento", diz Christine Fontelles,
diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo. A organização lidera a
campanha Eu Quero Minha Biblioteca, que busca mobilizar a sociedade civil e os
gestores públicos para cumprirem a lei.
No
site, é possível encontrar informações sobre as ações federais voltadas ao
assunto, como o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e o Plano de
Ações Articuladas (PAR).
No
município maranhense de Açailândia, a 560 km de São Luís, a biblioteca da
escola Fernando Rodrigues de Souza nasceu a dois anos onde ficava o refeitório.
Com acervo de 2.500 livros, são cerca de 300 empréstimos diários e 200 novos
exemplares por ano enviados pelo Ministério da Educação (MEC). "Ainda é
pouco para o tamanho da demanda, mas é um começo", diz Zeila Villar, a
bibliotecária.
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