Fonte: Carta Capital. Data: 31/01/20113.
URL:
www.cartacapital.com.br/internacional/mais-de-90-dos-manuscritos-de-timbuktu-foram-salvos-dos-islamitas/
A maior parte dos manuscritos e
livros antigos conservados em Timbuktu foram guardados em um local seguro antes
da chegada dos invasores islamitas à cidade, garantiu o chefe de coleções da
Universidade da Cidade do Cabo (UCT), na Áfri ca do Sul.
“Uma grande parte foi salva.
Realmente, creio que mais de 90%”, afirmou Shamil Jeppie, diretor do projeto de
conservação dos manuscritos de Timbuktu da UCT.
Segundo
ele, os conservadores começaram a transferir os documentos para Bamaco nos
primeiros meses da insurreição islamita no norte do Mali. “Foram levados para a
capital e alguns foram escondidos na cidade”, afirmou.
Estes
manuscritos representam um verdadeiro tesouro cultural que remonta à época em
que a mítica cidade era a capital intelectual e espiritual do Islã na África
dos séculos XV e XVI. Alguns dos documentos são inclusive mais antigos, datando
do século XII ou da era pré-islâmica.
Redigidos
principalmente em fulani e em árabe, os manuscritos tratam de astronomia, música,
botânica, farmácia, direito, história e inclusive política. Os suportes são
vários: pergaminho, papel do Oriente, pele de ovelha e inclusive omoplatas de
camelo.
As
testemunhas interrogadas esta terça-feira em Timbuktu informaram que os
islamitas que fugiam da cidade, incendiaram na semana passada todos os
manuscritos que puderam encontrar. A cidade foi logo reconquistada pelas tropas
francesas e malinenses.
Na
realidade, apenas um dos edifícios do Instituto de Altos Estudos e de
Investigação Islâmica Ahmed Baba com manuscritos dentro foi saqueado, segundo
especialistas interrogados pela AFP.
“Está o
antigo edifício e o novo. O novo foi construído pelos sul-africanos” e
inaugurado em 2009 e “todos os manuscritos não foram levados a este novo
edifício”, situado a um quilômetro do antigo, afirmou de Dacar o especialista
malinense Ben Esayuti El Bukhari, contactado por telefone.
Ainda não
se determinou a quantidade exata de manuscritos incendiados, mas o ministério
da Cultura malinense confirmou que o antigo edifício está intacto. O prefeito
de Timbuktu, Halley Ousmane, refugiado em Bamaco, tinha evocado no momento “um
verdadeiro crime cultural”.
Uma fonte
malinense contactada por telefone e que pediu para manter a identidade
preservada calculou em 15 mil a quantidade de documentos encontrados no
edifício devastado.
Além dos manuscritos, os islamitas destruíram
célebres mausoléus de santos muçulmanos nesta cidade. Segundo um jornalista
local, os grupos armados teriam destruído uma dezena de mausoléus.
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