Fonte: Voz da Rússia. Data: 27/02/2013.
Autora: Liubov Kurianova.
Deste modo, a "guerra dos
livros" continua, tendo criado uma série de problemas candentes. O
movimento judaico ortodoxo Agudas Chassidei Chabad declinou a proposta
formulada por Moscou visando abrir acesso aos livros que constituem o núcleo da
Biblioteca Schneerson e que são acessíveis aos leitores que frequentam a
Biblioteca Nacional. Todavia, voltam a surgir apelos de devolver a coletânea
aos judeus do movimento chassíde em Nova York.
Importa recordar que há pouco tempo o
Tribunal do distrito norte-americano Columbia obrigou o governo russo a pagar
multa no valor de 50 mil dólares por cada dia de permanência da coleção
Schneerson fora dos EUA. O Presidente Putin propôs, por seu turno, entregar os
livros ao Museu Judaico e ao Centro de Tolerância. O chefe de Estado russo
lamentou o fato de a discussão ter passado para o plano de confrontação,
realçando que a coletânea não pertence a só uma comunidade judaica.
"Ela pertence também à comunidade
judaica russa e, antes de mais nada, ao Estado russo em geral. Se atendermos ao
pedido sobre a entrega voluntária dos livros, vamos abrir, de fato, a Caixa de
Pandora. A satisfação da demanda dessas provocará uma reação em cadeia."
A Biblioteca Schneerson abrange um
vasto espectro de obras de literatura religiosa num total de 12 mil livros e 50
manuscritos, selecionados a partir de 1772 por rabis, residentes outrora na
localidade Lubavichi do distrito de Mogilev do Império Russo (atualmente, a
região de Smolensk). No auge da Primeira Guerra Mundial, nomeadamente em 1915,
o sexto rabi local, Yosef Schneerson, entregou uma parte da coletânea para o
armazenamento em Moscou que, em 1918, terá sido abrangida pela campanha de
nacionalização. Outra parte – cerca de 25 mil páginas manuscritas – foi levada
por Schneerson para Riga, na Letônia, e depois para a Polônia. Foi lá que ela,
em 1939, parou nas mãos dos nazistas e, mais tarde, passou para a Alemanha.
Após o colapso da Alemanha Nazista, os arquivos foram levados para Moscou. O
rabi morreu em 1950 sem ter deixado quaisquer indicações concretas sobre o seu
futuro destino.
A questão tornou a ganhar vulto depois
de o juiz federal de Washington, Royce Lambert, deliberou, em agosto de 2010,
devolver os livros da coletânea Schneerson. Passados, dois anos, ele decidiu
impor a multa mencionada acima.
O posicionamento oficial assumido por
Moscou foi tornado público, em entrevista televisiva, pelo ministro russo da
Cultura, Vladimir Medinsky.
"Não se sabe por que a Rússia deve
devolver a coletânea. Os adeptos do judaísmo chassídico se encontram espalhados
pelo mundo inteiro, incluindo a Rússia. Seguindo tal lógica de raciocínio, não
será necessário devolver esfinges e desmantelar as estelas do centro de Paris?
Tal descompostura afetará o sistema de valores culturais, por isso as
exigências da parte norte-americana são absurdas."
Bem ou mal, o MRE da Rússia denunciou
as pretensões, tendo qualificado as deliberações do tribunal como
"infundadas em termos jurídicos". Os diplomatas russos sugeriram
ainda ao Ministério da Cultura da Rússia e à Biblioteca Nacional multar a
Biblioteca do Congresso dos EUA por sete livros da coletânea Schneerson
entregados a Washington em 1994 para o uso temporário.
Enquanto isso, o Museu Metropolitano
de Arte em Nova York cancelou o envio para Moscou de um lote de 35 obras do
decorador-couturier francês, Paul Poiret, que devia ser exposto no Kremlin.
Reagindo à "moratória cultural", os museus russos também não se
apressam a promover exposições dos EUA. As conversações estão marcando passo ao
contrário da campanha de especulações muito bem sucedida. O rabi lendário
Schneerson ficaria atônito se tivesse sabido do tamanho escândalo no século XXI
à volta da sua coletânea.
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