Fonte: O Globo.
Números
da Controladoria-Geral da União (CGU) mostram que praticamente todos os pedidos
mais polêmicos apresentados com base na Lei de Acesso à Informação (LAI),
levados até a última instância de recurso administrativo, são negados. Até a
segunda semana de dezembro, de 267 recursos que chegaram à comissão mista de
reavaliação de informações, composta por representantes de dez ministérios, 260
foram julgados e apenas um foi atendido.
O caso,
até então exclusivo, é de um advogado que pediu acesso a um documento da
Procuradoria- Geral da Fazenda Nacional (PGFN), órgão vinculado ao Ministério
da Fazenda. A pasta não havia liberado um parecer de 2005 da PGFN, alegando que
ele se encontrava protegido por sigilo profissional. Os dois recursos
encaminhados ao próprio ministério foram negados. O autor recorreu novamente,
mas a CGU concordou com a existência de sigilo sobre o documento e não o
liberou.
Em 29 de
maio deste ano, quando o pedido chegou à comissão mista, a Advocacia-Geral da
União (AGU) - representada no colegiado pelo ministro Luís Inácio Adams -
entrou no circuito dizendo que não havia problema algum na liberação do
parecer. Com exceção da Fazenda, todos os outros ministérios concordaram e o
autor saiu vencedor.
Até 11 de
dezembro de 2013, foram registrados, aproximadamente, 139 mil pedidos de acesso
à informação dos quais cerca de 102 mil foram concedidos sem precisar
apresentar recursos. Do total, 1.597 chegaram à CGU, que é a penúltima
instância recursal: depois dela, só há a comissão mista. Entre os 1.088 recursos
analisados pela CGU até 11 de dezembro, 360 tiveram solução favorável ao
solicitante. Desses, 195 nem precisaram ser julgados, uma vez que houve mudança
de posição por parte do órgão recorrido depois de intermediação feita pela CGU.
Em 30 casos, o recurso foi apenas parcialmente provido. Nos 728 restantes, a
CGU negou o recurso.
Em média,
o pedido leva 87 dias do momento em que é feito até a resposta do recurso que
chega à Controladoria-Geral da União. Cabe à CGU solicitar informações aos
órgãos que negaram o pedido. Em média, eles levam 18 dias para repassar esses
dados.
Apuração
de responsabilidade
NA UFRRJ
Em agosto de 2013, não houve resposta em 13 casos, todos da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). "Por conta do descumprimento
desses prazos e de outras obrigações estabelecidas pela LAI, (a UFRRJ) já se
encontra sob acompanhamento especial com vistas à apuração de
responsabilidades", informou a CGU.
No portal
que concentra os pedidos de acesso à informação relativos ao governo federal, é
possível ter informações mais detalhadas de 250 dos 267 recursos que chegaram à
comissão mista. Ao todo, os autores dos pedidos rejeitados questionaram 59
órgãos do Executivo federal. Alguns se destacam pelo volume, como o Ministério
da Saúde, com 39 solicitações negadas. Todas foram feitas pela Associação da
Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) e dizem respeito à parceria do
Ministério da Saúde com um laboratório público para a produção de medicamentos
e outros produtos. O acesso a esses dados foi negado por se tratarem de
informações classificadas como reservadas. O nome do laboratório não é revelado
nos relatórios da comissão mista.
Depois do
Ministério da Saúde, vem o Comando da Aeronáutica (Comaer), com 25 recursos
contra suas decisões. Em seguida, vêm a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel), o Banco do Brasil e o Ministério da Fazenda, com 17 cada. Uma das
solicitações negadas pela Fazenda foi justamente a única até hoje a ter o
recurso aceito na comissão mista.
Entre os
pedidos mais inusitados levados à comissão mista está o que teve origem na
Caixa Econômica Federal. Nesse caso, não foi o cidadão que recorreu contra a
Caixa, mas o próprio banco, que tentou reverter uma decisão da CGU de liberar a
tabela com os valores praticados na avaliação de joias penhoradas. A liberação
da tabela havia sido negada pela Caixa e pelas duas primeiras instâncias
recursais. Entre os argumentos usados pelo banco estava o de que a informação
era para uso interno e se encontrava sob sigilos bancário e de mercado.
Ufólogo é
um dos campeões de recursos
Quando o
recurso chegou à CGU, a decisão foi favorável ao autor do pedido. A
Controladoria- Geral da União entendeu que a Caixa, por exercer a atividade de
penhor em regime de monopólio, não teria sua competitividade ameaçada. O banco
resolveu recorrer, mas seus argumentos sequer foram considerados. A comissão
mista entendeu que os recursos são apenas para os cidadãos que pedem a
informação. O poder público não pode recorrer quando derrotado. A solução da comissão
de ministros foi entregar o caso à AGU para que ela faça a mediação entre a
Caixa e a CGU.
Na lista
dos campeões de recursos aparece o ufólogo Edison Boaventura Júnior. Ele teve
33 recursos levados à comissão mista, contestando 23 negativas do Comando da
Aeronáutica (Comaer), sete do Comando do Exército (CEX), duas do Comando da
Marinha (CMAR) e uma do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da
Presidência da República. Em um dos pedidos feitos ao Comaer, Boaventura pediu
a "cópia integral dos documentos, relatórios e/ou outros anexos sobre o
caso de avistamento de OVNI, ocorrido em junho de 1969, quando uma Kombi foi
levada por um OVNI com quatro ocupantes, em Laguna (SC)".
Ele
também pediu informações sobre supostas aparições de objetos voadores não
identificados nos estados do Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Ceará,
Maranhão e Minas Gerais. As solicitações feitas ao Comaer sempre foram
rejeitadas sob o argumento de que possíveis documentos sobre essas aparições
foram encaminhados ao Arquivo Nacional. A CGU e a comissão mista negaram os
recursos de Boaventura, dando razão ao Comaer.
O GSI
negou um dos pedidos do ufólogo dizendo que a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) não dispunha de informações sobre aparição de OVNIs em
Itatira, no Ceará. O ufólogo se diz frustrado com a lei. Segundo ele, dos 69
pedidos feitos, apenas dois foram atendidos. Em um deles, feito à Base Aérea de
Santos, um documento de 1994 foi liberado, mas com várias tarjas cobrindo
partes do texto.
- Isso aí
(a Lei de Acesso) não funciona. Em relação a objetos voadores não
identificados, em relação aos militares, eles não fornecem nada - lamentou
Boaventura.
Em 26 de
fevereiro deste ano, foram analisados 20 pedidos, todos negados pela comissão.
Um deles foi feito por Romeu Tuma Junior, que, entre 2007 e 2010, ocupou o
cargo de secretário nacional de Justiça. O pedido foi extenso: ele solicitou
acesso aos registros e documentos produzidos desde 2002 pela Polícia Federal
(PF) em que seu nome seja citado direta ou indiretamente. A PF e o Ministério
da Justiça negaram o pedido, por entenderem que foi genérico e desproporcional,
além de parte das informações estar sob sigilo. Tuma Júnior apresentou recurso
à Controladoria- Geral da União, que foi negado novamente. Novo recurso, outra
vez rejeitado, chegou à comissão mista, que "considerou as razões da CGU
suficientes e adequadas."
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