Autora: Patrícia
Comunello.
Fonte: Jornal do
Comércio (Porto Alegre, RS). Data: 8/1/2014.
Uma inundação no fim de dezembro gerou um cenário caótico
em uma das bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
situadas no Campus do Vale. O rompimento de um cano no prédio onde fica a
Biblioteca Setorial das Ciências Sociais e Humanidades (BSCSH) provocou o
alagamento de parte do acervo de quase 200 mil volumes (180 mil somente de
livros), atingindo a área restrita onde são guardadas obras raras, muitas de
literatura gaúcha, coleção da Filosofia e títulos de pesquisa de pós-graduação.
Além disso, o mobiliário existente na sala de estudos foi danificado e não
poderá ser reutilizado, segundo a direção do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas (IFCH).
No local, que deve ficar fechado para retiradas até o fim
de fevereiro, a ordem é reverter danos. A cena é inacreditável para quem estava
acostumado a frequentar a unidade. Na véspera do Natal, no dia 24, no recesso
das festas, acredita-se que ocorreu o incidente no encanamento gerando
infiltração na área das vigas, sobre parte das estantes no piso térreo e sala
de estudos. Na manhã do dia 26, funcionários voltaram ao trabalho e foram
surpreendidos pelo estrago. Estima-se que 10% do acervo tenha sido atingido,
mas não há dimensão ainda das perdas. Boa parte dos livros, aposta a direção do
IFCH, poderá ser restaurada ou substituída (casos de títulos mais recentes).
Agora livros de todos os tamanhos e idades estão
espalhados pelo chão, abertos para arejamento. Funcionários precisam virar
páginas manualmente para facilitar a recuperação. O balcão de empréstimos foi
tomado pelo acervo, despejado das estantes. Muitos ostentam mofo, mesmo que o
equipamento de ar condicionado esteja sendo mantido funcionando 24 horas para
vencer a umidade e manter a temperatura mais amena.
Nas estantes de metal, gotas de água ainda escapam sob os
livros remanescentes. O bibliotecário Nestor Sanders evita manusear coleções
que estão grudadas para impedir mais danos. Na sala de estudos, que abrigava
mesas e cadeiras, um grande varal foi montado para pendurar centenas de livros
e acelerar a retirada da umidade. “Virou a enfermaria”, descontraiu um dos
funcionários, que se dedicam a recuperar e amenizar os danos da inundação.
Durante o dia, os técnicos não param, usam máscaras
cirúrgicas, luvas e carregam os volumes de um lado para outro, tentando
organizar o caos, identificar os “pacientes” por nível de gravidade. A
enfermaria está superlotada. “Mesmo os que se recuperarem ficarão com
cicatrizes”, ilustra o bibliotecário Nestor Sanders, que localiza em meio aos “feridos”
edições de um dicionário francês do século 18. Muitos colegas de Sanders foram
convocados das férias para o mutirão. Equipes de outras bibliotecas estão
auxiliando e orientando no socorro mais adequado “às vítimas” da inundação.
Na história da biblioteca, é o segundo episódio que gerou
sérios danos ao acervo. Em 1993, um incêndio, até hoje não esclarecido, atingiu
uma das áreas da unidade. A bibliotecária aposentada Maria de Lourdes Mendonça
chegou de surpresa ontem ao prédio e não acreditou ao se deparar com a cena.
“Estou impactada só de olhar e recordar o incêndio de 1993, que não sei se foi
pior, pois tinha fogo e água”, confrontou Maria de Lourdes. Enquanto
perambulava em meio aos livros, a aposentada lamentava que a coleção especial
havia sido atingida, mas não esmoreceu. “O sentimento é pela perda cultural, de
trabalho e organização, isso não têm preço. Mas dá para recuperar tudo”,
incentivou a veterana.
A BSCSH é a unidade mais movimentada entre as 29
bibliotecas setoriais da Ufrgs, que somam 710 mil livros. O motivo é óbvio:
ensino e pesquisa de Ciências Humanas demandam muita leitura, lembrou a
diretora do IFCH, Soraya Côrtes. “Estamos buscando solução para garantir que o
acervo, de grande valor para a formação das áreas, tenha melhor instalação”,
adiantou Soraya, que pediu à área de manutenção da universidade para retirar o
encanamento do nível superior como prevenção. Além disso, o IFCH buscou
assessoria da Faculdade de Arquitetura para definir um projeto prevendo
estrutura mais adequada e confortável aos usuários. Foi aprovado projeto de
construir uma biblioteca reunindo as unidades setoriais do Campus do Vale, mas
não há data de execução, pois o empreendimento depende de licenças.
Um comentário:
Faço votos de que os colegas gaúchos possam resolver essa situação difícil.
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