Fonte: A Crítica
(Manaus, AM). Data: 5/01/2014.
Autoria: Rafael Seixas.
URL:
http://acritica.uol.com.br/vida/Amazonas-Manaus-vida-cultura-escritores-bibliotecas-biblioteca-Universo-livros-importancia-bibliotecas_0_1060693936.html
Três escritores do Estado falam em entrevista sobre a
relevância da biblioteca em sua formação profissional
A jovem escritora Priscila Lira acredita que as bibliotecas
digitais diminuem a distância entre leitor e obra (Bruno Kelly)
Os livros são totalmente importantes na formação cidadã e
cultural das pessoas, mas nem todos sabem que as bibliotecas possuem as
ferramentas necessárias para este meio. O Amazonas, ao contrário de muitas
cidades do País, conta com uma grande quantidade de espaços dedicados à
leitura. A reportagem do BEM VIVER conversou com três escritores da cidade para
saber qual a importância da biblioteca nas suas carreiras e vidas.
Zemaria Pinto, escritor e poeta com mais de 30 anos de
atividade, apesar de ter sido criado numa casa sem livros, como ele próprio
relatou, encontrou nas bibliotecas o universo prazeroso da literatura. “Fui
criado numa casa sem livros. Eu lia em bibliotecas do Estado e de colégios onde
estudei, como o Ruy Araújo e o Estadual. No nível médio, também frequentava a
biblioteca pública do Estado, que fica na rua Barroso (Centro). Elas foram
fundamentais na minha formação. Sem elas, eu não seria um leitor”, garante
Pinto, recordando ainda que o primeiro livro que leu em sua vida foi “O tronco
do Ipê”, de José de Alencar, mas que não gostou muito do enredo da história.
“É uma obra muito romântica, simples, onde tudo dá certo.
Acho que já era um pouco punk à época, por isso aquilo não me agradou”,
explicou o escritor, complementando que ao ler “São Bernardo”, de Graciliano
Ramos, se encontrou e desde lá não parou de aprofundar ainda mais seu hábito de
ler. “Ela mostra a miséria em outras dimensões, níveis. A miséria no Nordeste
continua muito forte, infelizmente”, explicou o poeta, ao falar sobre o
conteúdo de “São Bernardo”.
Descoberta
“Rato de biblioteca” declarado, o escritor Elson Farias
contou que durante sua infância e juventude ia com frequência em bibliotecas
dos municípios de Parintins e Manicoré. Já em Manaus, seu “point” era a
biblioteca pública do Estado e a municipal João Bosco Pantoja Evangelista. No
entanto, seu contato com os livros veio de casa. “Eu nasci num roseiral, no
interior de Itacoatiara, e na minha casa tinha uma pequena biblioteca e lá foi
o meu primeiro contato”, declarou o autor de “Barro verde”.
Ainda de acordo com Farias, é de extrema importância que em
todos os municípios do Amazonas e nos bairros de Manaus haja uma biblioteca,
com sistema de empréstimo de livros e acervo atualizado. “A gente aprende muito
lendo e até hoje leio bastante”, salientou o imortal da Academia Amazonense de
Letras (AAL).
Para Pinto, é necessário encarar que houve mudanças na
forma de encarar a biblioteca e, por isso, é importante investir mais em
publicações digitais, que possam permitir, por meio da Internet, o uso de
livros em outra escala. “É claro que o livro de papel tem uma grande saída, mas
o livro digital veio mudar muitos conceitos”, defendeu.
Mundo digital
A jovem escritora Priscila Lira, de 22 anos de idade,
autora de “Manual de feitiçaria”, acredita que as bibliotecas digitais vieram
diminuir as distâncias entre leitor e obra. “Hoje eu posso ter acessos a
bibliotecas de outros países. Isso é algo muito importante para quem trabalha com
pesquisa, para quem gosta de conhecer coisas mais alternativas e que não estão
no mercado editorial. Essas bibliotecas digitais vieram encurtar essas
distâncias geográficas”, afirmou Priscila, que ama o ambiente da biblioteca.
“Uma das coisas que aprendi com meu contato foi a me
familiarizar com os livros. Sua relação com os livros muda quando você
frequenta a biblioteca. A pessoa se familiarizar com o objeto do livro, porque
acaba manuseando muitos. É importante que as pessoas possam ter esse acesso físico.
Na biblioteca, eu conheci Shakespeare, Dante, Chico Buarque, coisas que ninguém
me mandou ler. Estava passeando pelas estantes e decidi lê-los”, contou a
escritora, que durante anos se “deliciou” com os títulos presentes na
biblioteca do extinto Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas
(Cefet-AM), hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Amazonas (Ifam), onde estudou durante alguns anos.
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