Fonte:
Agência Estado. Data: 29/08/2014.
O
historiador Carlos Guilherme Mota pediu demissão nesta sexta-feira (29) do
cargo de diretor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, que pertence à
Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o afastamento foi motivado pela
crise da instituição, que tem professores e funcionários em greve há mais de
três meses por reajuste salarial.
Mota,
docente emérito da instituição, assumiu a direção da Brasiliana em abril deste
ano e será substituído pela professora Sandra Vasconcelos, integrante do comitê
acadêmico da biblioteca montado por ele. A unidade, inaugurada em março de
2013, reúne mais de 60 mil volumes, entre livros e documentos sobre o País,
doados à USP oito anos antes pelo bibliófilo José Mindlin.
Em sua
carta de despedida, distribuída a colegas ontem, Mota criticou a falta de
condições causadas pela greve. Em um edifício com mais de 20 mil m² de área no
Câmpus Butantã da USP, zona oeste da capital, a biblioteca teve o funcionamento
prejudicado desde maio, quando começou a greve. Mota reclama, por exemplo, que
não consegue entrar em seu gabinete há mais de um mês, por causa da paralisação
e dos piquetes.
No
texto, o ex-diretor critica severamente a postura radical dos movimentos
sindicais e a inabilidade do atual reitor, Marco Antonio Zago, para articular
esforços na solução da crise, além do rombo financeiro deixado por João
Grandino Rodas, o último reitor. “E o governo do Estado está silente, como
sempre”, completou.
“É um
ato de protesto”, esclareceu Mota ao jornal O Estado de S. Paulo. O ex-reitor da
USP José Goldemberg lamentou a perda. “Certamente não aconteceria se a situação
fosse outra, sem greve com portas bloqueadas todos os dias.” A reitoria não
comentou a saída.
Transição
O
historiador foi convidado para o cargo com a tarefa de consolidar as atividades
da Brasiliana, fortalecer os laços com bibliotecas nacionais e estrangeiras e
também resolver problemas da gestão anterior. Na avaliação de Mota, a “missão
foi cumprida”.
Para
ele, a escassez de verbas na USP, que gasta mais do que recebe do Estado com
salários desde 2013, também ameaça o avanço da biblioteca, apesar do apoio da
reitoria à unidade. “Além da despesa de manutenção, comprar obras raras custa
caro”, destacou. “Temos a vontade da biblioteca de Harvard, mas o bolso ainda
(está) no terceiro mundo”, finalizou.
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