Autor: Beto Silva.
Fontes: Diário da Manhã. Revista Biblioo. Data:26/05/2015.
URL: http://biblioo.info/um-pais-sem-bibliotecas/
Uma promessa política
realizada ainda na década passada, há mais de dez anos, portanto, reafirmava
que uma biblioteca seria um dos diferenciais do Centro Cultural Oscar Niemeyer
(CCON). Uma década depois, quem procurar a biblioteca no local simplesmente não
a encontrará.
É impossível
consultar sequer livros de arte e cultura no local. Até mesmo uma biblioteca
particular se revela mais acessível do que a biblioteca prometida pelos
gestores que lançaram o Centro Cultural Oscar Niemeyer.
Na imprensa, quando
cobrados, os gestores alegam que os valores dos livros são caros e que não
existe orçamento. Lembram-se da crise de 2015. E até mesmo minimizam a
biblioteca reafirmando que ela terá “apenas livros de arte”.
Mas se esquecem de
dizer que a promessa de ofertar o acesso aos livros está consagrada em uma
norma federal e que Goiás revela déficit de unidades, ferindo, assim, a
legislação.
Em 2013, uma notícia
da Tribuna do Planalto afirmava que a biblioteca estava quase pronta. Mais de
dois anos depois, a biblioteca continua no mesmo lugar.
É o próprio governo
federal que diz: o Brasil precisa construir mais de 64,3 mil bibliotecas
até 2020 para cumprir a meta de universalizar esses espaços, prevista na Lei
12.244. A legislação, sancionada em 24 de maio de 2010, obriga todos os
gestores a providenciarem um acervo de, no mínimo, um livro para cada aluno
matriculado, tanto na rede pública quanto privada.
A cinco anos do fim
do prazo, 53% das 120,5 mil escolas públicas do País não têm biblioteca ou sala
de leitura. A contar de hoje, seria necessário levantar e equipar mais de 1 mil
bibliotecas por mês para cumprir a lei.
O levantamento foi
feito pelo portal Qedu, da Fundação Lemann, com base em dados do Censo Escolar
2014 – levantamento anual feito em todas as escolas do País. Esses são os
últimos números disponíveis e trazem informações tanto de instituições de
ensino fundamental quanto de ensino médio.
Os dados mostram
grande disparidade regional na oferta de bibliotecas escolares. Enquanto na
Região Sul 77,6% das escolas públicas têm biblioteca, na Norte apenas 26,7% das
escolas têm o equipamento e na Nordeste, 30,4%. No Sudeste, esse índice é 71,1%
e no Centro-Oeste, 63,6%.
O Maranhão é o Estado
com menor índice de bibliotecas escolares – apenas 15,1% das escolas tem o
equipamento – seguido pelo Acre (20,4%) e pelo Amazonas (20,6%). Na outra ponta
do ranking, estão o Distrito Federal (90,9%), o Rio Grande do Sul (83,7%) e o
Rio de Janeiro (79,4%).
De acordo com o
levantamento, também há diferenças na oferta de bibliotecas entre as escolas de
ensino médio e fundamental. Em melhor situação, 86,9% das escolas públicas de
ensino médio públicas têm bibliotecas ou salas de leitura. No ensino
fundamental, entretanto, o índice cai para 45%.
Evolução
O coordenador de
projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins Faria, explicou que, na edição de
2014, o Ministério da Educação (MEC), responsável pelo Censo Escolar, juntou os
dados de sala de leitura e bibliotecas, ao passo que, em anos anteriores, esses
números eram descritos de forma separada. Por esse motivo, não é possível
comparar a evolução dos dados com anos anteriores. “A gente tem que pensar
especificações que garantam que a criança tenha ambientes propícios para
praticar a leitura. É pouco viável, do ponto de vista orçamentário e de
factibilidade, a universalização das bibliotecas [no prazo estipulado em lei].
Temos que pensar como promover mais espaços para leitura e disponibilizar mais
conteúdos para os alunos”, disse Faria.
Para a diretora de
educação e cultura do Instituto Ecofuturo, Christine Fontelles, faltam recursos
para todas as áreas da educação e, por esse motivo, a leitura não costuma estar
entre as prioridades dos gestores. Coordenadora do projeto Eu Quero Minha
Biblioteca, que ajuda professores, diretores, pais e alunos a requisitar e
implantar bibliotecas nas escolas, ela ajuda na articulação com as secretarias
de Educação e o MEC. “O fato central é que não se dá importância para a
biblioteca. Nós somos um país que não dá valor para a biblioteca, que ainda não
tem a noção de que a educação para a leitura é uma coisa que deve acontecer
desde sempre, e que a biblioteca pública é o equipamento fundamental para que
famílias e escolas possam desenvolver essa habilidade no jovem”, defendeu
Christine.
Segundo ela, é
preciso que a biblioteca tenha papel central dentro da escola. “O país perde um
grande tempo ao não munir as escolas desse equipamento e não promover uma
campanha de expressão nacional para que as famílias se envolvam na formação
leitora das crianças. É importante que a biblioteca seja a casa do leitor, não
um depósito de livro”, afirmou.
O Ministério da
Educação informou que a instalação de bibliotecas é uma responsabilidade das
escolas. De acordo com a assessoria da pasta, as instituições de ensino
públicas recebem recursos federais para investimento em estrutura e cabe à
escola decidir como gastar esse dinheiro. (Com Agência Brasil)
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