18 de dez. de 2015

Novo presidente da Academia Brasileira de Letras fala sobre estimulo à leitura

Autoria: Guilherme Freitas.
Fonte: O Globo. Data: 17/12/2015.
O escritor e professor carioca Domício Proença Filho, de 79 anos, assume nesta quinta-feira a presidência da Academia Brasileira de Letras (ABL) preocupado com os possíveis efeitos da crise econômica sobre os programas da instituição, mas determinado a ampliar a atuação da casa na promoção da leitura e da língua portuguesa. A cerimônia de posse começa às 17h no Salão Nobre do Petit Trianon, no Centro.
Ocupante da cadeira 28 desde 2006, Proença avalia que a crise pode ter impacto sobre os aluguéis de imóveis da ABL, principal fonte de renda da instituição. Promete não cancelar nenhum dos projetos realizados pela casa, como o seminário “Brasil, brasis”, as publicações e os ciclos de música clássica e popular. Mas diz que alguns deles podem ter que sofrer reduções, como as leituras dramatizadas e o financiamento de coedições.
— A ABL é uma instituição sem fins lucrativos, que vive dos aluguéis de seus imóveis. Uma crise tem reflexos nisso. Felizmente, temos uma reserva que nos dá tranquilidade, mas nos obriga a ter prudência. Não vamos acabar com nenhum programa, mas podemos ter que adequar alguns à realidade da crise. A sociedade nos conferiu uma aura de instituição representativa da cultura brasileira. Nosso desafio é manter isso — diz Proença
A crise econômica afetou o mercado editorial e projetos de incentivo à leitura neste ano. Proença cita como exemplos disso os cortes em programas federais de compras de livros, que tiveram impacto nas editoras, e o cancelamento da edição de 2015 da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (RS), tradicional evento que tinha um braço dedicado ao público infanto-juvenil. Para o novo presidente, esse cenário reforça a importância do papel da ABL na difusão da língua portuguesa e da leitura.
— A importância da leitura deveria ser evidente, mas é necessário defendê-la, porque o livro ainda é visto como supérfluo no Brasil. Uma cláusula pétrea em nosso estatuto diz que o objetivo primeiro da Academia é o culto da língua e da literatura nacional. Isso já é feito, mas pretendemos dar ainda mais força a esse aspecto, com debates, pesquisa e divulgação — diz Proença, eleito para mandato de um ano, por unanimidade, como é tradição na ABL, em chapa que inclui Nélida Piñon, secretária-geral, Ana Maria Machado, primeira-secretária, e o colunista do GLOBO Merval Pereira, segundo-secretário.
Parte deste trabalho de “culto” do idioma está relacionado à implantação do Acordo Ortográfico, que entra em vigor oficialmente no Brasil em 1º de janeiro de 2016. Depois de anos de críticas e adiamentos, Portugal adotou o acordo em maio de 2015, mas as novas regras ainda são criticadas no país europeu. A ABL teve participação ativa na difusão do acordo no Brasil e chegou a criar um aplicativo gratuito com o novo vocabulário ortográfico.
Para Proença, as polêmicas sobre o acordo serão superadas.

— O acordo tem uma dimensão linguística, mas é também um fato politico, que pretende unir os povos lusófonos. Isso tem uma série de vantagens, com divergências naturais, porque a língua envolve paixões. O Brasil fez mais concessões do que Portugal, que acabou reagindo com mais ênfase contra o acordo. Mas desde maio ele foi plenamente adotado lá. E aqui, mesmo antes do prazo oficial, já havia sido abraçado por escolas, editoras e imprensa. O acordo só muda a roupa das palavras. A língua continua tal como ela é e vai continuar mudando a partir da dinâmica da sociedade e da cultura.

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