Fonte: O
Globo. Data: 06/07/2016.
Uma pesquisa feita pela Universidade
de Nova York (NYU) em parceria com o Instituto Alfa e Beto (IAB) e o IDados
revelou que a rotina de ler para os filhos traz ganhos como 14% de incremento
no vocabulário das crianças, 27% de aumento na memória de trabalho, além de
crescimento de 25% no índice de crianças sem problemas de comportamento. Os
resultados parciais do estudo serão apresentados nesta quarta-feira, no
Congresso Nacional, durante audiência pública.
A pesquisa foi realizada com 1.250
responsáveis e 1.250 crianças do município de Boa Vista, em Roraima, onde a
administração municipal em parceria com o IAB desenvolve o programa
"Família que acolhe", que promove políticas públicas voltadas para a
primeira infância na rede municipal integrando as áreas de saúde, assistência
social e educação.
- As diferenças nas crianças que leem
com os pais são impressionantes. Tanto do ponto de vista de objetivos como
vocabulário, como aspectos cognitivos da memória, e também comportamentais.
Essa prática reduz a violência e o tratamento brusco em relação à criança. Os
responsáveis aprendem a discutir as questões, dá a eles mais instrumentos que
não só a chibatada - comenta o presidente do Instituto Alfa e Beto, João
Batista Oliveira.
O relatório aponta ainda para um
melhor desenvolvimento fonológico das crianças, que auxilia na hora da
alfabetização e ocorrência de menos punição física por parte dos pais, que
aprendem a conversar com os filhos e buscar novas maneiras de resolver as
questões.
O estudo - conduzido por Alan
Mendelsohn, professor da Faculdade de Medicina da NYU e Adriana Weisleder,
pesquisadora da mesma instituição - analisou durante um ano três grupos
diferentes. No primeiro, além do atendimento normal das creches municipais,
chamadas "Casas-mãe", os pais recebiam capacitação em habilidades de
leitura e interação com as crianças. Além disso, os responsáveis praticavam
exercícios para aprender como conversar e interagir com os filhos. A atividade
era filmada e posteriormente analisada por eles mesmos, que podiam identificar
o que faziam de certo e de errado.
O segundo grupo era composto por pais
que tinham apenas o atendimento convencional das casas-mãe e tinham contato com
a leitura no ambiente escolar. Já o terceiro grupo era formado por famílias que
ainda estão na lista de espera da creche.
- A gente já sabe que ler para
criança é bom, que a leitura interativa faz bem. O que o programa acrescenta é
um treinamento que envolve sessões interativas com os pais. Eles se veem no
vídeo e eles aprendem a analisá-lo. Quando comparamos o grupo que fez nove
sessões e levou livro para ler em casa com os demais as diferenças são
impressionantes- afirma João Batista.
MUDANÇA COMPORTAMENTAL
Nas sessões feitas em grupo a cada
três semanas, profissionais treinados pelo IAB orientam os pais a interagir com
as crianças durante a leitura. Além de ler durante as sessões, os pais também
levam livros para casa.
Daniella Santos é uma das mães que
notou diferença no comportamento dos filhos após a inserção da leitura diária
conduzida por ela e pelo marido. Gabriel, de 2 anos, que antes era inquieto,
agora se interessa pela atividade e consegue se concentrar na história. O
menino também perdeu o medo que lhe fazia chorar na hora de ir para o banho.
- O Gabriel era um pouco mais
rebelde, não gostava de sentar com a gente para leitura e aí descobri que
tínhamos de fazer uma rotina. Agora ele já para, já pede. O comportamento dele
era completamente diferente, agora ficou mais tranquilo. Na creche ele tinha
receio de ir para o banho, mas comecei a inserir essa questão nas histórias que
contava e agora ele não chora mais. Percebi uma independência muito maior para
ele- conta Daniella, que também é mãe de Melina, de 3 anos:
- Por conta da leitura, a minha filha
já conhece vogais, cores primárias, consoantes. E números de 1 a 10.
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