Fonte: Correio 24 Horas.
Data: 13/08/2016.
A central única de ar-condicionado, que atende à
biblioteca, está quebrada e não há previsão de quando será consertada, porque o
serviço terá que ser licitado
Além da falta de
segurança, funcionários de limpeza e ascensoristas, os frequentadores também
reclamam da falta de ar-condicionado, que ameaça a preservação do acervo. A
assessoria da Fundação Pedro Calmon não soube informar quando o problema
iniciou. Segundo eles, a central única de ar-condicionado, que atende à
biblioteca, está quebrada e não há previsão de quando será consertada, porque o
serviço terá que ser licitado.
Ex-membro da Associação Baiana de Arquivistas, Herbet
Menezes ressalta que o acondicionamento é fundamental para preservar a
integridade física dos documentos em sua forma original e desacelerar o
processo de degradação do acervo.
O Manual Técnico de Preservação e Conservação de
Documentos, produzido pelo Arquivo Nacional, recomenda que materiais especiais
como “discos, CDs, fitas cassete, fotografias, negativos, dispositivos, filmes
(película), fitas VHS, Umatik ou similar, discos ópticos, CD-Rom, disquetes,
fitas magnéticas, etc. devem ser recolhidos em depósitos climatizados”.
O manual de conservação do Arquivo do Estado de São Paulo
recomenda que documentos devam ser mantidos em temperatura o mais próximo
possível de 20°C e com umidade relativa entre 45% e 50%.
O pesquisador Nelson Cadena, que costuma ir ao local até
três vezes na semana, diz que a biblioteca tem um dos melhores acervos da
Bahia. “O de periódicos é o mais completo do estado. Infelizmente, esses
problemas não são recentes, são antigos, mas foram piorando”, conta. O
pesquisador diz ainda que as salas de leitura não têm ar-condicionado há meses.
“Os terminais de acesso aos jornais ficaram quebrados por
um ano e 4 meses. A cultura na Bahia costuma esquecer a importância da
preservação da memória. Se um periódico do século XIX se perde, pode ser o
último e único do Brasil. Há mais de 30 anos que não se encadernam os jornais,
estão amarrados em cordas. Hoje, a sobrevivência da biblioteca é por conta dos
funcionários, bastante antigos, que têm amor e comprometimento com aquilo”,
acrescenta.
Historiador e membro da Academia de Letras da Bahia,
Francisco Senna diz que a biblioteca é um dos equipamentos culturais mais
importantes da cidade. “Foi concebida enquanto espaço de cultura e arquivo.
Seria lamentável se ela ficasse abandonada por descaso do poder público”,
ressalta. Ele destaca ainda que a manutenção de livro é muito difícil. “Os
ácaros e insetos atacam e destroem. É preciso manter as condições ideais, inclusive
de temperatura. Biblioteca não é apenas ter livros em prateleiras, é também
fazer sua manutenção, ter permanente atualização e prover fácil acesso para a
população”.
Além da ameaça ao acervo, o pesquisador Eduardo Catemberg
lembra ainda dos riscos à saúde. “O maior perigo é para a nossa saúde, porque a
gente está aqui respirando micróbios. Eu trago a minha máscara e a minha luva
porque aqui não tem, mas estou parando aqui porque minha garganta não aguenta
mais”, disse.
Mais antiga biblioteca latina já teve cinco sedes
A Biblioteca Pública do Estado da Bahia é a primeira
biblioteca pública do Brasil e também a mais antiga da América Latina. Ela foi
inaugurada oficialmente no dia 13 de maio de 1811 onde hoje é a Catedral
Basílica, no Terreiro de Jesus. Na época, era o prédio da Livraria dos
Jesuítas.
De lá para cá, passou por cinco sedes – entre elas a
Escola de Belas Artes, a Ladeira da Praça e o Palácio Rio Branco –, até chegar
ao prédio atual, na Rua General Labatut, nos Barris, inaugurado em 5 de
novembro de 1970. Um incêndio em 1912, provocado por um bombardeio, fez com que
muitas obras adquiridas se perdessem. Móveis também foram roubados.
Hoje, a biblioteca de 205 anos de história é dividida nos
setores de Braile, Infantil, Pesquisa/Referência, Empréstimo, Periódicos, Obras
Raras e Valiosas, Documentação Baiana, Artes e Audiovisual. O acervo com 60 mil
obras consideradas raras ou valiosas, como o Hino Nacional ilustrado,
miniaturas de livros e dicionários, além da edição da obra Menino de Engenho,
de José Lins do Rego, que teve tiragem de apenas 120 exemplares com ilustrações
de Cândido Portinari.
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