Autoria: Mario Sérgio Lorenzetto.
Fonte: Campo Grande
News. Data: 25/08/2016.
URL:
www.campograndenews.com.br/colunistas/em-pauta/quando-a-mulher-era-proibida-de-ler-livros
Em uma tarde de março de 415 d.C. uma mulher de 60 anos é
tirada de sua carruagem por uma multidão enfurecida, em Alexandria, no Egito.
Em seguida, é despida e tem sua pele e carne arrancadas com ostras (ou
fragmentos de cerâmica, segundo outra versão). É destroçada viva pela turba
alucinada. Já morta, arrancam seus braços e pernas. O cadáver é queimado em uma
pira nos arredores da cidade. Era o fim da trajetória impressionante de Hipácia
de Alexandria. Hipácia foi a primeira mulher de fama internacional no mundo da
matemática, astronomia e da botânica. Hipácia foi a primeira intelectual de
renome e imensa influencia. “As mulheres que leem são perigosas”, assim pensavam,
e agiam, os homens por dezenas de séculos.
Somente no século XIX o livro se tornou comum para as
mulheres. Foi, e continua sendo, sua maior arma para a conquista da liberdade,
sua possibilidade de existência, de se lançar em novos horizontes.
Entre a mulher e o livro estabeleceu-se uma aliança. Com
ele, ela podia desejar e imaginar um mundo para si própria. Gesto um tanto
ousado – e perigoso. Daí os homens desejarem impedi-la de ler ou controlar o
que liam. Até o século XIX, os homens marginalizavam as mulheres que liam,
rotulando-as de neuróticas e histéricas. Sobretudo as mulheres que liam
“demais”. A leitura permitiu que tomassem consciência do mundo. A leitura, esse
ato tão íntimo, tão secreto, terminou por colocar a mulher para fora. Fora do
núcleo familiar opressor. O vazio do mundo real foi tomado pela ficção.
Para quem vivia, e vive, na prisão do casamento sem amor,
das regras sociais sufocantes, a leitura foi a possibilidade de viver em outro
mundo que não o seu e, em seguida, mudar a própria vida. De adquirir prazer que
lhe era negado. Um prazer solitário de início. Mas que passou à voz. E, depois
um grito… de liberdade
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