Autoria: Roberta Scrivano.
Fonte: O Globo. Data: 3/10/2016.
URL: http://oglobo.globo.com/economia/negocios/livro-digital-perde-brilho-fica-com-so-3-do-setor-20220925#ixzz4M2jfB23R
Os e-books já não são mais vistos como ameaça
iminente ao mercado de livros impressos no Brasil. Num setor que faturou R$
5,23 bilhões no ano passado, as versões digitais estacionaram e hoje
representam só 3% do total, o equivalente a R$ 20,43 milhões, segundo o
Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). Sobre o futuro, a avaliação
unânime é de que os e-books serão apenas uma complementariedade ao impresso, e
não sua substituição.
Até mesmo a Amazon, dona do mais tradicional dos
e-readers, o Kindle, lançado em 2007, e que trouxe grande temor às editoras,
admite não ver o e-book como predador. Ricardo Garrido, diretor da empresa
americana no Brasil, diz que o livro digital não é um risco aos impressos e não
abocanhará fatias expressivas.
— Houve um receio grande de que o e-book seria
corrosivo à indústria de livros, por um problema de preços, sobretudo. Hoje,
porém, descartamos totalmente esse risco. Mesmo tantos anos depois de lançados,
os e-books não passam de 3% do mercado de livros nacional. Definitivamente, não
representa um risco. Ele é complementar à leitura tradicional — analisa Marcos
da Veiga Pereira, presidente do Snel.
Prova do ritmo lento do mercado de livros digitais
no Brasil é a ausência de novas publicações desde o fim de 2015 sob o selo
Breve Companhia, da Companhia das Letras, que era uma das grandes apostas da
editora para ocupar um espaço neste mercado. Procurada, a empresa nega que o
selo esteja sendo descontinuado, mas admite que está revendo a estratégia para
e-books.
As editoras dedicadas exclusivamente à publicação de
e-books contemporizam a situação. Eduardo Melo, fundador da Simplíssimo, embora
diga que o e-book não terá a maior fatia de mercado, explica que a publicação
digital é muito utilizada por escritores independentes.
— De 2011 para cá, publiquei 507 e-books e, mais da
metade foi publicado depois de 2014. É um sinal de que o mercado está
crescendo. Tenho clientes e muitas pessoas me procuram para saber como
publicar. Não tenho dúvidas de que o e-book ainda vai crescer no Brasil —
disse.
Na Livraria Cultura, que vende o e-reader canadense
Kobo, que só perde em vendas para o Kindle, a perspectiva para o segmento não é
otimista. O diretor Thiago Oliveira conta que há dois anos não há crescimento
nas vendas nem de e-reader nem de e-book.
Entre os especialistas, também é unânime que o
e-book deu muito certo em alguns gêneros, como a ficção científica, por
exemplo. Um levantamento da Simplissimo, que lista os e-books mais vendidos em
Amazon, Apple, Google, Kobo, Livraria Cultura e Saraiva mostra que oito dos top
10 são títulos de ficção e estrangeiros — os outros dois são romances
nacionais. Entre os 30 mais vendidos, há também alguns de autoajuda e negócios.
E-READERS EM BAIXA
Há ainda mais um sinal da paralisação do mercado de
leitura digital. As vendas dos e-readers, dispositivos que se considerava que
seriam o protagonista da destruição das estantes de livros das livrarias, já
começaram a cair nos Estados Unidos e, até 2020, vão se retrair por aqui. Dados
da consultoria Euromonitor mostram que, em 2014, foram vendidos US$ 2,3 milhões
em e-readers no Brasil, contra US$ 2,4 milhões em 2015. A projeção para 2020 é
de US$ 1,1 milhão.
Para a Amazon, dona do mais tradicional dos
e-reader, o Kindle, porém, não é um indicativo de insucesso dos e-books.
Garrido apressa-se em explicar que o Kindle não é um aparelho obsoleto e que, por
isso, a retração das vendas não quer dizer que a leitura digital acabou:
— O dispositivo Kindle dura muito, ou seja, uma vez
que você adquiriu o aparelho, não precisará trocar por outro mais moderno. Isso
quer dizer que a análise da curva de vendas tem de ser feita somando ano a ano,
e não olhando desempenhos anuais.
Apesar da defesa de seu produto, o executivo
concorda que o e-book não apresenta risco à leitura tradicional. Ele tem um
discurso similar ao de Pereira, do Snel, e diz que vê o e-book como
complementar ao impresso.
— Se um cliente nosso compra um título impresso,
enquanto o livro não chega, ele pode começar a leitura pelo e-book. É um
exemplo real de complementariedade — detalha.
O mapeamento deste segmento no Brasil ainda é
escasso. Mas, nos Estados Unidos, uma pesquisa do Pew Research Center publicada
na semana passada mostra que 65% dos americanos ainda preferem o livro
tradicional quando compram um novo título. Apenas 28% optam pelo livro virtual
e outros 14% escolhem o áudio-book.
Nenhum comentário:
Postar um comentário