Autoria: Verônica Lazzeroni Del Cet.
Fonte:
Carta Campinas. Data: 3/11/2016.
O YouTube é uma plataforma de vídeos que consegue ser ao mesmo
tempo um caminho para o aprendizado e, também, uma forma de entretenimento. É
possível acessar receitas, tutoriais de maquiagem, vídeos aulas preparatórias
para concursos e pré-vestibulares e já há algum tempo, para conhecer novidades
literárias, além de obter opiniões sobre livros canônicos (grandes clássicos)
ou não, mas que estejam na lista dos mais vendidos ou que tenham ganhado
adaptação para um filme e tantas outras opções que fariam um leitor buscar
opiniões antes de iniciar uma leitura.
Pesquisar sobre livros e literatura no YouTube não é algo
recente, pelo menos não o é se for pensado a época em que os chamados
booktubers surgiram. Booktubers são as pessoas que fazem crítica literária pelo
Youtube. Entretanto, a plataforma de vídeos começa a receber mais adesão dos
apaixonados por literatura. A youtuber Mellory Ferraz criou o canal
Literature-se, o qual já tem mais de 48 mil inscritos. Ela criou o canal em
2010 com o intuito de se aproximar dos leitores do site que tinha até então.
“Acredito nesta proximidade que um vídeo traz, principalmente se
comparado ao formato das postagens escritas, que ficam apenas no escrito mesmo,
no máximo com suporte para fotos”, diz Mellory Ferraz.
Isabella Tramontina, idealizadora e criadora no canal Livrisa,
fez sua estreia no Youtube este ano e já conta com mais de dois mil inscritos.
Isabella ainda reforça o interesse crescente na criação de canais no YouTube.
“As pessoas têm muita vontade em criar um canal, até mesmo crianças”, conta
ela.
Nesse ínterim, contando com o aumento da adesão de canais
literários para consulta de dicas de leituras, ambas as booktubers enfatizam o
instrumento como sendo um atrativo aos leitores em razão de ser mais dinâmico,
além de conseguir, através da informalidade de um vídeo, conversar, inclusive,
sobre livros da literatura canônica.
“A informalidade, que creio ser o diferencial aqui (canais
literários), pode atrair não apenas jovens leitores, mas o leitor no geral, e
isto é incrível! Costumo dizer que é como uma conversa entre amigos”, conta
Mellory Ferraz.
É importante salientar a influência que tais canais podem ter
para leitores se inspirarem e criarem seus próprios canais literários. Para
Isabella Tramontina, os booktubers que ela sempre acompanhava serviram como
experiência e um divisor de águas, inclusive, funcionando como um
intensificador de sua relação com livros.
Quanto ao conteúdo, ambas booktubers tratam a respeito de livros
canônicos, mas é devido a informalidade e proximidade de comunicação, que
tratar desses livros – muitas vezes considerados enfadonhos ou difíceis entre
os adolescentes – não se torna um desafio desgastante, pelo contrário, essa
atitude pode chegar a diminuir a distância entre livro e leitor.
“Tira o livro do pedestal e mostra pela língua informal que é
possível tornar o livro e a leitura uma diversão e não em algo temido”, relata
Isabella Tramontina. Mais do que apenas diminuir distâncias é aumentar o incentivo
em ler clássicos. “É lindo saber que outras pessoas leem mais clássicos,
inclusive perdendo o medo deles, porque eu postei um vídeo ou um texto no site
dizendo que recomendo a leitura. É gratificante, e se tornou o maior retorno
que tenho com o Literature-se”, conta Mellory Ferraz.
E é justamente por tratar de literatura canônica que jovens,
hoje em dia, aumentam as buscas por resenhas literárias em canais de
booktubers, fugindo assim da antiga forma de pesquisar resenhas em sites e
blogs, onde era possível somente ter subsídios muito objetivos sobre a
história. Esses sites não cativam os jovens leitores.
“As resenhas na internet não desenvolvem o senso crítico, fica
tudo na mesma coisa. No YouTube a gente dá margem a produção de sentidos”, diz
Isabella. Ademais, é uma forma de adquirir informação muito rapidamente quando
a rotina é agitada. “Creio que este tipo de procura está crescendo. É natural
as pessoas buscarem as informações através de vídeo por eles serem mais
acessíveis e cativantes, além de práticos”, conta Mellory.
Importante ainda mencionar que o YouTube preenche o tempo livre
e pode vir a funcionar como uma programação de TV. Isabella Tramontina cita a
respeito dos canais semanais, com horários que os vídeos são postados, já
deixando os inscritos preparados e instigando eles a seguirem a programação.
Em meio a isso tudo, tratar de livros não canônicos é, também,
ponto fundamental em qualquer canal literário. Cada booktuber tem seu gosto
literário e gêneros que mais lhe agradam. No canal Literature-se, Mellory
reforça as discussões sobre os chamados livros jovens, incluídos no gênero
infanto-juvenil, mas também faz questão de falar sobre literatura no geral,
influenciando leitores já assíduos ou contribuindo para que pouco a pouco
alguns deles instiguem em si mesmos o hábito de ler.
Já Isabella preza muito os livros que comovam os leitores,
engrandecendo as pessoas e criando sensibilidade nelas. “Penso na oportunidade
que o leitor pode ter em pensar nas atitudes (…) fazer de nós uma pessoa
melhor, reconhecer no livro uma chance de refletir, de modificar”, diz ela.
Isabella ainda destaca o fato de que dá preferência aos livros que façam as
pessoas, incluindo ela própria, saírem de suas ‘zonas de conforto’.
Isabella ainda complementa toda a questão sobre a necessidade de
haver nas escolas, dentro das salas de aulas, debates a respeito de caminhos
possíveis para conhecer mais a respeito de algum livro. Ademais, discutir como
a leitura enriquece o ser humano, pois “cada pessoa descobre o que gosta de ler
criando um interesse”, diz ela.
A gratificação para Mellory e Isabella é o reconhecimento que
recebem dos inscritos nos canais. São jovens que nem sempre têm hábito de
leitura, mas que valorizam o bom conteúdo e percebem como os canais literários
são a nova forma de entrar em contato com a literatura. “Mas se tem uma coisa
que me deixa feliz é receber depoimentos nos comentários sobre pessoas que
caíram de paraquedas no canal, como algum aluno de ensino médio procurando por
alguém que fale sobre o livro que foi obrigado a ler, mas que não estava
conseguindo e, por conta de um vídeo meu, teve incentivo para seguir adiante”,
diz Mellory Ferraz.
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