Autor: Jorge Marmelo.
Fonte: Público, Lisboa. Data: 28/1/2011.
A viúva de José Saramago, Pilar del Río, adiantou hoje, num chat com leitores do jornal espanhol El País, que a casa-museu do escritor na ilha de Lanzarote deverá ser aberta ao público no dia 18 de Março, exactamente nove meses após a morte do prémio Nobel da Literatura naquela que foi a sua última residência.
Questionada sobre a continuidade da obra de Saramago em Espanha, Pilar afirmou a “firme vontade” de abrir a casa do escritor ao público naquela data, “para quem quiser entrar e respirar o ar de Saramago”. A conversa, refira-se, assinalou a estreia em Espanha, esta semana, do documentário “José e Pilar”, de Miguel Gonçalves Mendes.
Numa entrevista concedida ao PÚBLICO em Novembro do ano passado, a viúva do escritor tinha já antecipado alguns pormenores sobre o funcionamento da casa-museu. Estará acessível não só a biblioteca que o escritor ali reuniu, mas também o escritório onde Saramago escreveu “Ensaio sobre a Cegueira”. “Durante várias horas, [a casa] estará aberta ao público e vai cheirar a café, porque vamos dar café português a todas as visitas. Passarão também pela cozinha, que é aberta, sairão pelo jardim. Irão à biblioteca e à sala de reuniões onde verão fotografias de Saramago em Lanzarote ou dele com escritores. A partir das três da tarde acabam as visitas e a casa continuará a ser vivida pelas pessoas que a habitam e que lá estão”, explicou Pilar del Río ao PÚBLICO.
Um dos momentos mais tocantes da conversa com os leitores do El País aconteceu quando Pilar foi confrontada com uma afirmação de Saramago no documentário, na qual ele diz que o céu não existe. “Onde está Saramago agora?”, perguntou o leitor. Pilar respondeu que o escritor está nos livros que escreveu. “Ele dizia que cuidássemos de cada livro que abríssemos porque, lá dentro, havia uma pessoa”, disse. Saramago, acrescentou, “está na música que ouviu, nos quadros que viu, nos livros que acariciou e, perdoem-me, está também no meu corpo”.
Questionada por um não leitor de Saramago que lhe pediu um motivo para passar a lê-lo, Pilar afirmou que aqueles que lêem os livros do escritor português se sentem “mais espertos, mais altos, mais bonitos e melhores”. “Sentir-se-á respeitado como leitor, uma vez que terá que empenhar muito de si para compreender [o que lê] e tomará consciência de que é mais sábio do que pensava”, respondeu a viúva.
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