Autor: Cesar Brod. Data: 15/03/2011.
Em 2003 tive a honra de participar de um projeto financiado pelo Ministério de Apoio ao Desenvolvimento da Finlândia, que gerou o livro Free as in Education. Minha parte do projeto consistia no levantamento do uso de softwares de código livre e aberto e seu potencial de melhoria das condições de vida das pessoas da América Latina. Mas, para fazer isto, senti a necessidade de colocar no trabalho um breve apanhado do uso de tecnologias de informação e comunicação em nossa região que, passados oito anos, mudou significativamente.
Lembrei-me deste trabalho lendo a reportagem especial da Zero Hora de sábado, 26 de fevereiro: "Além dos Livros - Estratégias para cortejar o leitor", de Jaime Silva. A matéria fala da concordata da livraria Borders, uma das maiores dos Estados Unidos, com mais de 650 lojas no país. Mas o que chamou-me mesmo a atenção foi um gráfico mostrando que enquanto nos Estados Unidos o mercado editorial movimenta R$ 19,41 milhões, no Brasil este número é equivalente a menos de um quinto deste valor: R$ 3,37 milhões. Mesmo levando em conta a população de cada país (o Brasil tem quase 200 milhões de habitantes, os Estados Unidos cerca de 300 milhões), a diferença ainda é representativa.
Em meu estudo, em especial nas páginas 10 e 11, comparo a quantidade de cartas, per capita, enviadas em 1995 nos países industrializados e na América Latina. Perdemos muito feio! Mandávamos apenas a sexta parte do que os países industrializados enviavam como correspondência internacional e a vigésima parte quando a comparação era feita com a correspondência doméstica. Nos comunicávamos mal com os outros mas pior ainda com nós mesmos.
Mas, tudo mudou! Ao menos no Brasil somos os campeões das redes sociais! Uma reportagem de Camila Fusco para a Folhapress mostra que 34 milhões de brasileiros, representando 85% dos internautas do país, estão no Twitter, Orkut, Facebook e outras redes. Destes, 24 milhões participam de jogos como o Colheita Feliz.
Não é incomum uma nova tecnologia ser adotada sem que se passe por pressupostos requisitos. Países que tinham baixíssima penetração de redes telefônicas convencionais deram o salto direto para a telefonia celular. No Brasil a gente podia até não ler muito, mas rapidinho ultrapassamos o número de americanos no Orkut. Nos dêem mais um tempinho que os alcançamos no Facebook também. Também não há razão alguma para que as nossas gerações anteriores tenham conhecido livrarias. Elas podem saltar direto para a leitura em netbooks, tablets e sabe-se lá mais o que está por vir.
Eu gosto de ler. Criei o hábito, desde pequeno, de sempre ler antes de dormir. Isto é tão arraigado em mim que não consigo pegar no sono sem ler. Meus pais são os responsáveis por este saudável vício, compartilhado pela família. Assim, livros saem relativamente baratos para nós, já que eles circulam por muitas mãos dentro do ambiente familiar e outras tantas fora dele. Mas, comparando com os Estados Unidos, os livros aqui são muito caros. Passei algum tempo nos Estados Unidos e lá os livros caros eram os recém lançados, em capa dura. Pouco tempo depois os mesmos livros saíam com capa mole e preços promocionais. Além disso, muitas livrarias tinham seu "sebo" interno com livros usados e pontas de estoque.
Mas eu acho que o preço não é uma desculpa muito válida para se ler pouco. Há muitos bons sebos espalhados pelo Brasil e mesmo na web. Minha mulher compra muita coisa baratinha na Estante Virtual. Também há bibliotecas legais espalhadas pelo Brasil inteiro. Eu li muito do Isaac Asimov, Bertrand Russel, José Mauro de Vasconcelos, Mário Chamie e tantos outros em livros que eu tomava emprestado da Biblioteca Municipal de Guarulhos durante minha infância e adolescência. Histórias de biblioteca fazem parte do meu folclore individual e, quem sabe, um dia ainda escrevo mais sobre elas.
Talvez as redes sociais estejam levando o brasileiro a um meio de leitura com o qual, agora, ele venha a tomar gosto mesmo pela coisa. Bom, tomara! Ler é um prazer tão grande que, aqueles que o sentem, desejam que todos os demais possam desfrutá-lo.
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