Fonte: Publish News. Data: 13/12/2012.
URL:
http://www.publishnews.com.br/telas/colunas/detalhes.aspx?id=71504
A recomposição dos custos editoriais não é para baixar o preço de capa
O mercado de livros digitais ainda não faz cosquinha no faturamento do
setor editorial, mas os tártaros que viviam nos ameaçando — Amazon,
Apple, Kobo, Google — finalmente chegaram, e em massa. Isso disparou algumas
ansiedades nos componentes da cadeia do livro no Brasil, temerosos com a
ruptura do seu já precário equilíbrio econômico.
A Associação Nacional de Livrarias incomodou-se a ponto de expedir uma “Carta aberta”,
em que ora tenta legislar, ora oferece “sugestões”. Em parte, é uma adaptação
da velha demanda pela Lei do Preço Único — que nunca foi atendida nos livros
materiais, e que tem menos chance ainda de ser cumprida no caso dos digitais. A
primeira sugestão é um intervalo de 120 dias entre a publicação em papel e a
digital. Para quem se arvora no argumento de que “menos de um terço dos
municípios brasileiros possui ao menos uma livraria”, é um tanto contraditório
pregar que em todos os municípios brasileiros tenha-se que esperar
quatro meses para ler um lançamento.
Pelo discurso tecnoludista, a carta gerou reações zombeteiras de alguns
leitores, que defendiam a gloriosa marcha da concorrência a favor dos leitores,
gerando mais livros, mais acesso — e preços menores. Em tréplica
mais realista, Milena Duchiade, da venerada livraria Da Vinci,
lembrou que ficar esperando a banda passar não é uma opção, e que “nenhuma
cadeia é mais forte que seu elo mais fraco. […] Para as livrarias
independentes, não sobram muitas alternativas. Quem souber o que fazer,
aceitamos sugestões.”
Porém a tão esperada redução dos preços para a leitura pode não vir. Ou
vir, e não ficar por muito tempo. Carlo Carrenho, que tem, além de tudo, um
bacharelado em economia, demonstrouque, pelo menos na planilha, há uma
chance de reacomodação de cada componente do custo, permitindo preços menores
com as mesmas margens. Uma espécie de “tudo tem que mudar para ficar o mesmo”.
Mas quem observa o turbilhão do mercado sabe que, na prática, a teoria é outra.
O preço de e-books é uma questão muito mais cultural do que financeira, e
o que as editoras farão — com mais ajuda de cálculo orçamentário do que de
marketing — é influenciar um amadurecimento do mercado de e-books em que os
preços e as margens se manterão no nível mais alto possível. Na recente TOC
Frankfurt, em um painel com editores e autores sobre precificação de e-books,
falou-se descaradamente que o preço certo é o máximo que o cliente se dispuser
a pagar, e que chegar lá será uma questão de tentativa e erro, de esticar o
preço até que o elástico arrebente. Pode-se até observar o fenômeno da variação de preços ao longo do dia, quando as
grandes vendedoras espiam-se mutuamente e os algoritmos acham o preço “justo”.
A médio prazo, o quanto pagaremos pela leitura — e mesmo o que teremos
para ler — vai depender do equilíbrio entre as editoras (as que se
aglomeraram, pelo menos) e os megavendedores que, ao criar o mercado, tentam
também criar as regras. A longo prazo, passada a divertida e tensa fase de
transição, e superada a insistência de fazer do digital um simulacro do
impresso, vamos saber o que enfim será a leitura digital. Que venham logo os
tártaros, e que arrasem nossos muros mentais.
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