Fonte: Rede Notícias. Data: 9/12/2014.
URL:
www.redenoticia.com.br/noticia/2014/biblioteca-nacional-recebe-acervo-pessoal-do-ex-presidente-joao-goulart/63540
A Biblioteca Nacional recebeu a
primeira parte do acervo pessoal do ex-presidente João Goulart, dentro do
convênio assinado com o Instituto João Goulart para conservação, catalogação e
divulgação do material. O presidente do instituto, João Vicente Goulart, filho
do presidente deposto pelo golpe militar de 1964, explica que a parceria vai
facilitar a pesquisa histórica sobre o período.
“Essa parceria é de suma importância não só para o
Instituto João Goulart, mas para a nação brasileira, que vai ter conhecimento.
A ideia é divulgarmos isso o mais rápido possível, disponibilizar ao público,
pesquisadores, estudantes, professores, enfim, disponibilizar para a academia,
para que possamos ter cada vez mais conhecimento sobre a nossa história, sobre
a história política do [ex-] presidente João Goulart e tudo aquilo que
aconteceu após o golpe de 64”, acrescentou João Vicente.
A primeira remessa contém cerca de 200 documentos,
entre eles cartas de pessoas como os papas João XXIII e Paulo VI, o então
senador Salvador Allende, posteriormente também deposto da Presidência do Chile
por um golpe militar, cartas das lutas políticas internas do PTB, da deputada
Ivete Vargas e do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), que teve Goulart
como vice.
Ao todo, serão entregues à Biblioteca Nacional 10
mil documentos, inclusive 6 mil da CPI do Instituto Brasileiro da Ação
Democrática, criada em 1963 para investigar o financiamento estrangeiro a
campanhas de parlamentares brasileiro, por meio do instituto. O historiador
Oswaldo Munteal, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
que assessora o Instituto João Goulart, diz que esses documentos nunca foram
analisados por nenhum pesquisador e que seu conteúdo trará Justiça ao
ex-presidente.
“Esse acervo traz documentos inéditos que tratam,
dentre outras coisas, da ação dos parlamentares na época do golpe; do derrame
de milhões de dólares na compra de senadores, deputados, prefeitos,
governadores, para que conspirassem contra o presidente Goulart; inclusive de
parlamentares [e parentes] que estão aí. Foi um golpe congressual militar.
Quando o senador Auro de Moura Andrade, por São Paulo, declara vaga a
Presidência da República, com o presidente em território nacional, foi um
momento gravíssimo da vida política brasileira”, acrescentou.
O professor ressalta que Jango foi vigiado pelos
militares diariamente, entre 1954 e 1976, e ainda há episódios a serem
esclarecidos sobre a vida dele. “É importante que se liberem os documentos do
Ministério das Relações Exteriores para completar o ciclo. Ainda vejo zonas
muito pouco clarificadas, como por exemplo, as circunstâncias da morte do
presidente, a vida dele no exílio, como as reformas de base foram
obstaculizadas.”
Para o presidente da Biblioteca Nacional, Renato
Lessa, a entrega do acervo à instituição simboliza a reintegração da memória de
Jango à história do Brasil. “A Biblioteca Nacional é uma instituição do Estado
brasileiro, que recebe o acervo de um ex-presidente da República, o único que
morreu no exílio. Além da qualidade intrínseca do acervo, dos documentos, das
cartas, das informações que ele contém para nos ajudar a entender um certo
período da história brasileira, trata-se simbolicamente da reintegração da
memória de João Goulart à narrativa que o Estado faz a respeito da sua
história”.
O trabalho vai durar dez anos e, à medida que os
documentos forem analisados, classificados e digitalizados, serão
disponibilizados para consulta nos sites da Biblioteca
Nacional e do Instituto João Goulart. Para 2015, o
instituto também pretende começar a construção do Memorial da Liberdade e da
Justiça, no Eixo Monumental, em Brasíli -, projeto de Oscar Niemeyer, que será
um espaço interativo, “que conte aos visitantes como foi difícil a retomada da
democracia no Brasil e por que a democracia caiu em 1964, para que o Brasil
conheça a ferida que foi aberta em 1964”, segundo Goulart.
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