Autoria: Lucas Jardim.
Fonte: A Crítica. Data: 27/12/2015.
Quando
foi a última vez que você leu um livro? Caso você não se lembre, é provável que
faça muito tempo e você não está sozinho nessa.
Uma
pesquisa feita pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ)
este ano deu conta de que sete entre dez brasileiros não leram um livro sequer
em 2014 e os que leram, o fizeram menos do que em anos anteriores.
Um
dos vários fatores apontados pela pesquisa que pode ter levado a esse resultado
é a crescente facilidade no uso da internet, popularizada como nunca antes
através dos smartphones.
INTEGRAÇÃO
Em
vez de vê-los como inimigos, funcionários de uma agência de publicidade
decidiram integrar o smartphone no padrão de leitura das pessoas.
Essa
é a ideia por trás do “Leitura de Bolso”, projeto idealizado e apoiado pela
agência Isobar. Criado em novembro, ele já possui mais de 10.500 inscritos.
“Nós
ficamos impressionados com o número de brasileiros que não leu nenhum livro em
2014 e 2015. Tentamos entender porque isso acontece e como poderíamos mudar
essa situação. Para estimular a leitura, mesmo que ela comece apenas com 5
minutos diários, resolvemos unir a tecnologia com a cultura. Nosso sonho é que
esses novos leitores aumentem para 10, 20, 30 minutos de leitura por dia”,
disse Mateus Braga, diretor executivo de criação da agência em Brasília, que
enfatizou que a resposta dos inscritos tem sido muito positiva.
LEITURA
RÁPIDA
Para
estimular essa leitura rápida, o “Leitura” investe em textos curtos que são
mandados para o telefone da pessoa através do serviço de mensagens instantâneas
Whatsapp a custo zero.
Uma
vez cadastrado, o usuário recebe textos diários, que chegam cedo pela manhã
para atender quem desejar ter acesso à literatura no caminho para o trabalho.
Mateus
explica o mote é que a iniciativa promova a leitura ao mesmo tempo em que
permite a exposição de novos talentos, uma vez que o projeto não envolve custo
para os escritores, nem para os usuários e nem para os desenvolvedores.
“Queremos
mostrar para os leitores que todo mundo pode ter um livro no bolso. E que
ninguém precisa de muito tempo para conseguir ler um livro completo. Basta a
leitura fazer parte da rotina e ser algo prazeroso. Para o escritor, são mais
de 10.000 novos leitores conhecendo o trabalho dele. Tanto no site quanto no
próprio WhatsApp há maneiras de os leitores conhecerem mais sobre o trabalho
desse autor e comprar seus livros”, explicou o diretor de criação.
APOSTANDO
Um
dos atraídos pela proposta do “Leitura” foi o autor brasiliense Roberto Klotz,
que fez do seu terceiro livro, “Quase Pisei!”, o primeiro lançamento da
plataforma digital.
“É
senso comum que a publicação do livro é a realização para o escritor.
Entretanto, mesmo os escritores novatos logo percebem que o trabalho não
terminou com a edição. São precisos distribuição, marketing e vendas ou um
enorme espaço sob a cama para estocar as caixas de livros. Então a
possibilidade de conseguir divulgação levou a apostar no projeto”, contou.
Segundo
o autor, o livro já existia antes do projeto, mas a recepção no “Leitura”
deixou boas impressões. “As vendas na noite de lançamento superaram as
expectativas graças à grande divulgação – e, apesar de não ter bancado a
edição, vendi o suficiente que a bancaria. O lançamento no Whatsapp me surpreende
pelo retorno na quantidade de elogios e mensagens”, relembrou Roberto.
FUTURO
Com
as expectativas de todos os envolvidos no projeto superadas, Mateus contempla a
integração de conteúdo audiovisual no “Leitura” no futuro, no entanto, diz que
sua agência está focando no principal diferencial do projeto, o texto.
“Estamos
convidando novos escritores para participarem do projeto. Tem muito escritor
interessado desde o início. Temos alguns nomes de peso na nossa lista também,
mas ainda não podemos revelar. Já temos muitos planos para o Leitura de Bolso,
mas depende das parcerias que vamos fazer”, declarou o diretor de criação.
Se
depender de entusiastas como Roberto, Mateus não terá muito trabalho em trazer
novas vozes ao time
“Imaginávamos
a inscrição de 150, 200 ou até 300 leitores. O número cresceu. Foi necessário
incluir o DDI além do DDD na inscrição. Já passam de dez mil. É surpreendente!
É gratificante saber, pelos e-mails recebidos, quantos se identificam com as
crônicas. É estimulante conhecer novos escritores que ousaram escrever a partir
da leitura dos meus textos. É recompensador descobrir um educador do interior
da Bahia lendo diariamente as crônicas para os alunos. Por todos esses motivos,
terei orgulho em lançar novos escritos pela plataforma”, concluiu o escritor.
O
desafio do digital
Segundo
Roberto Klotz, o maior desafio que o meio digital propõe ao escritor é
conquistar o leitor acostumado com textos curtíssimos. “Os textos precisam ser
um mix de conto e crônica. Devem ter linguagem acessível e as questões
levantadas devem evitar divisão dos leitores em contra ou a favor”, explicou o
autor.
Levando
isso em conta, ele acredita que os gêneros textuais contidos em “Quase Pisei!”,
em especial a crônica, o tornavam adequado ao proposta do “Leitura de Bolso”.
“Os
usuários do meio digital procuram novidades e que o desfrute seja instantâneo.
A novidade é o gênero crônica cujo suporte normalmente é o jornal e Quase
pisei! é um livro de crônicas. O desfrute do conteúdo está no credenciamento:
cinco textos premiados em concursos literários e o livro selecionado para
publicação pela Secretaria de Cultura do DF”, pontuou.
Roberto
também destacou que a busca presente na crônica em conversar com o leitor
também ajuda. “Foge do clichê e das ideias batidas, como o cidadão que reclama
dos políticos corruptos, do filho que declara o amor incondicional à mãe ou do
leitor que fala mal da literatura de Paulo Coelho sem ter lido um único livro.
Além de tudo são curtas e costumam levar bom humor”, resumiu.
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