Fonte original: O Estado de S.
Paulo. Data: 01/09/2016.
Fonte: Isto É.
Dois dos maiores especialistas em leitura do mundo – Alberto Manguel e
Robert Darnton – fizeram um encontro memorável na noite de terça-feira, 30, em
São Paulo. No Brasil para celebrar os 30 anos da Companhia das Letras, editora
que publica a obra de ambos por aqui, eles conversaram com desenvoltura sobre
censura, bibliotecas, Borges e livro digital. O encontro no Sesc Vila Mariana
foi mediado por Sérgio Rodrigues.
Darnton – americano, diretor emérito da maior biblioteca universitária
do mundo, Harvard, e autor do recente Censores em Ação – começou o encontro
analisando a censura a partir do século 18 (“período em que passei a maior
parte da minha vida”). “A censura faz leitores lerem entrelinhas. Isso
significa que devemos ter? Claro que não!” No seu estudo dos 1700, ele observou
que a censura tinha um significado diferente. “Não era apenas uma supressão do
pensamento, mas também um selo de aprovação. ”
Diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, Manguel comentou que a
história da literatura corre em paralelo com a história da censura. “É
inesperado, porque os censores agiam como críticos”, compara.
O encontro foi realmente uma conversa entre os dois intelectuais: um dos
vários momentos de interação ocorreu quando eles discutiram a catalogação de
bibliotecas, tomando por base o pesadelo que é a Biblioteca de Babel de Borges,
infinita. “É um trato humano fundamental: distinguir coisas em categorias. Mas
isso significa restringir? Eu acredito que não”, disse Darnton. Manguel
discordou sutilmente. “Não há jeito de inventar um sumário honesto que
encamparia todos os significados. Eco diz que os limites da interpretação
coincidem com o senso comum, que varia com cada leitor e com cada leitura”,
comparou. E Darnton rebateu: “Você poderia dizer que cada palavra que dizemos é
filtrada pela consciência, bem como os gestos, então tudo é censura. Mas se
tudo é censura, nada é. Não devemos ‘trivializar’ o conceito de censura, em
respeito aos escritores que sofreram”.
O americano demonstrou seu conhecido otimismo em relação ao livro
digital, salientando seu projeto de digitalizar a biblioteca de Harvard. “Acho
que estamos nos movendo para um estado da cultura em que todo o conhecimento
vai estar disponível para todos os seres humanos. ”
O próximo evento de comemoração da editora ocorre no dia 26 de setembro,
no Rio, com Mia Couto e Maria Bethânia. No dia 28, o moçambicano também vem a
São Paulo conversar com Julián Fuks. No dia 25 de outubro, Ian McEwan e David
Grossman debatem literatura e ética no Sesc Pinheiros.
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