Autoria; Alberi Neto.
Fonte: Jornal
do Comércio. Data: 1/11/2016.
O mercado dos livros no Brasil, além de complicado,
é dominado por editoras e distribuidoras que fornecem a grandes livrarias. Essa
constatação é de uma das mais conhecidas livreiras de Porto Alegre. Lu Vilella
administra há 21 anos a livraria Bamboletras, localizada na Cidade Baixa, em
Porto Alegre. Jornalista com pós-graduação em Letras, Lu foi a primeira
convidada da rodada de conversas da edição deste ano do Diálogos JC, que
integra a programação da 62ª Feira do Livro da Capital.
Mediada pelo editor de cultura do Jornal do Comércio
Cristiano Vieira, a conversa abordou assuntos como a literatura na crise e a
sobrevivência das livrarias de bairro. Lu iniciou o papo contando como virou
livreira. A paixão pelos livros a fez seguir um caminho além do jornalismo. Em
1995, em um pequeno espaço na Rua da República, ela inaugurou a Bamboletras.
Inicialmente, o objetivo era se dedicar apenas aos títulos infantis, mas
constatou que não seria o suficiente. Um ano depois, a loja migrou para o
espaço onde reside até hoje, no Centro Comercial Olaria, na Rua General Lima e
Silva.
Durante cerca de 10 anos ela se dividiu entre a
rotina de jornalista e livreira, mas se aposentou há alguns anos da carreira de
33 anos como funcionária pública, onde trabalhou na reportagem da TV Educativa
(TVE) e na assessoria de imprensa do Banrisul. Depois, seguiu apenas com a
Bamboletras.
“Durante esses 21 anos eu atravessei crises e alguns
momentos ruins, porém nunca pensei em fechar as portas,” relata a
administradora, “mas o atual momento tem me trazido pela primeira vez essa
preocupação, não sei o que esperar do futuro. Não só do futuro da minha
livraria, mas do futuro do país”. Apesar da cautela, ela demonstrou surpresa
com as vendas no último final de semana na sede da livraria. “Diferente dos
outros anos, nesse fim de semana tivemos ótimos resultados, mesmo com a feira
acontecendo aqui na Praça”, afirmou.
Para a livreira, a reversão nos baixos índices de
leitura no Brasil poderia começar pelo incentivo à cultura por parte dos meios
de comunicação, muitos deles, concessões públicas. “Hoje não há um grande
incentivo, assim se fazem tiragens menores de ótimos livros. Por exemplo, um
livro que sai aqui com 2 mil exemplares, no Uruguai sai com 10 mil. É um ciclo,
se lê pouco porque os livros são caros, e os livros são caros porque se lê
pouco. Precisamos incentivar, para mudar isso, não ficar apenas em uma semana
de Feira do livro, mas permanecer durante o ano todo. ”
Quando questionada sobre o futuro das livrarias de
bairro, em um mercado dominado cada vez mais por megastores – livrarias de
rede, como Saraiva e Cultura – Lu é saudosa. “Acho que sempre criamos o nosso
público, e apesar de não conseguirmos os mesmos descontos ou preços de grandes
redes, temos um atendimento especial. Todos os dias nós buscamos dar o melhor,
se algum dia isso não for mais possível, foi bom enquanto durou”. Sobre
administrar uma empresa, ela é enfática: “a vida é a arte de resolver
problemas, seja desde o cupom fiscal com erro até os imbróglios com editoras e
fornecedores, esse é o papel de quem administra. Porém, a nossa relação direta
com o público é a recompensa. ” Para conseguir manter o público fiel, Lu tem
uma receita simples: “Eu fidelizo meus clientes com bom atendimento”.
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