Autoria:
Nelson Rocha
Fonte: Tribuna da Bahia. Data: 5/11/2016.
URL: www.tribunadabahia.com.br/2016/11/05/tracas-mostram-mais-interesse-pela-biblioteca-central-que-poder-publico
Na
quinta-feira, 27 de outubro, o jovem Rafael Brito pegou a bike e seguiu para a
Biblioteca Pública do Estado da Bahia, popularmente conhecida como Biblioteca
Central dos Barris, com o objetivo de fazer pesquisa e clipagem de
jornais. Lá chegando fez a primeira constatação: “Nossa, como tá feia e
degradada esta frente. Portões enferrujados, alguns quase caindo. a fachada com
infiltrações e seguranças batendo papo. Se não bastasse, vou até ao espaço de
jornais e ao chegar lá: “Não recebemos jornais há mais de quatro
meses. Exatamente o período que eu desejava fazer a pesquisa”. Em relato
no Facebook, o estudante retratou as condições precárias em que se encontra
hoje um dos patrimônios culturais da capital baiana, cujo acervo está ameaçado
pela degradação.
A
decepção de Rafael continua sendo relatada: “Depois de colocar a bicicleta num
local inadequado e adentrar fui informado que teria que retirar e colocar a
bike em outro local: “Não temos espaço adequado para colocar, se possível
coloque do lado de fora, não nos responsabilizamos por perdas e roubos. Estamos
vendo mais um patrimônio sendo jogado às traças. Recordo que quase fechou por
falta de segurança. O prédio tá super esquecido pelo poder público. Os
funcionários já não trabalham com felicidade e os espaços cheios de
infiltração, entregues às traças”, conclui Rafael sobre as observações feitas
no local.
Do
outro lado da Rua General Labatut, onde está situada a Biblioteca Central -
primeira do Brasil e da América do Sul e a maior do estado-, a empresária
Corina Veloso, responsável pela Pérola Negra, espaço também de divulgação da
cultura baiana, lamenta o estado de degradação do equipamento público. “A
Biblioteca é vital aqui para os Barris e importantíssima pra cidade toda. É o
maior registro que a gente tem, em nível de pesquisa que as pessoas podem
usufruir, mas está bastante malcuidado, com instalações precárias”, diz.
Corina
revela ter um cliente amigo que “quando vem à biblioteca fazer o seu trabalho,
traz um ventilador de casa. Ainda assim ele tem que vir porque é a única fonte
onde ele encontra o que busca para pôr num livro sobre Irmã Dulce. É
interessantíssimo ele chegar com o ventilador numa sacola, por causa de
instalações precaríssimas, embora o acervo seja fantástico. Não abre a noite,
tem muita escuridão porque falta manutenção da parte elétrica e é assim, a
biblioteca realmente está capengando, funciona pelo esforço dos funcionários
que, independentes das obrigações, tentam ajudar no que podem. E quando a
biblioteca não abre os Barris está morto”, declarou.
Ainda
conforme Corina, os comerciantes sentem a falta de movimento na biblioteca. “O
bairro é pequeno, não tem terminal de ônibus e não dá sustentação ao comércio,
que fica à mercê das clínicas, que são poucas também, e da biblioteca que traz
o pessoal de fora. Mas ela tem mais de dois meses funcionando de forma
precária, abre um pouquinho e depois passa uma semana, duas, fechada. É uma
falta de comprometimento coma nossa cultura, com o nosso acervo. É terrível
mesmo”, relatou a empresária, que quando tomou conhecimento que a central de ar
condicionado está quebrada há mais de um ano e sem perspectivas de concerto
ficou ainda mais indignada.
A
Biblioteca dos Barris, com mais de 120 mil livros e 600 mil jornais em seu
acervo, salas de cinema, galeria, diretoria de Som e Imagem e um teatro (Espaço
Xis), integra o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, gerido pela Fundação
Pedro Calmon – Secretaria de Cultura do Estado (FPC/SecultBA).
Os
funcionários da biblioteca, por sua vez, não se pronunciam a respeito das
condições no ambiente de trabalho, mas deixam transparecer que fazem o que
gostam. Ontem, por exemplo, durante todo o período da tarde, eles promoveram a
9ª Lavagem das escadarias do prédio, em homenagem à criação da unidade,
ocorrida no dia 13 de maio de 1811, inicialmente funcionando na Praça da Sé e,
em seguida, na Praça Municipal. Grupos de samba, de dança, hip-hop e uma Feira
de Economia Solidária foram atrações do evento que também celebrou o Dia
Nacional da Cultura Brasileira, que é hoje, 5 de novembro.
Mas,
nos meses de agosto e setembro, eles não tiveram muito que comemorar. Os
vigilantes se recusaram a continuar a trabalhar, devido ao atraso nos salários,
e a biblioteca ficou com o funcionamento reduzido, limitado às poucas horas e
em poucos espaços.
“Fez
muita falta, apesar de eles liberarem o acesso, porém era bem limitado. A
galera reclamava bastante, porque não deixavam subir. É um espaço bem
importante pra galera que quer estudar. É um lugar tranquilo, tem várias opções
de livros e a galeria de empréstimos também”, comentou a estudante Adriele
Martins, 18.
Apesar
dos problemas estruturais do prédio, inaugurado em 5 de novembro de 1970, quem
estuda para concursos, Enem ou busca informações sobre autores baianos e a
história do estado, tem na biblioteca uma fonte inesgotável. ” Estudar ou
pesquisar na biblioteca é bom, quando encontramos o que procuramos. Eu, por
exemplo, agora estou com dificuldade de achar artigos específicos sobre a
cidade de Lauro de Freitas, mas continuo pesquisando”, diz Rafael Vasconcelos,
27, estudante de História.
“
Hoje a gente se restringe mais a internet, mas a biblioteca não deixa de ser um
componente importante para as nossas pesquisas”, comenta o estudante Lucas
Vieira, 21, acrescentando que torce para que “ as autoridades não deixem este
patrimônio abandonado e façam o que for necessário para que seja um local cada
vez mais confortável e atraente para quem busca o conhecimento”.
De
acordo com a assessoria da Fundação Pedro Calmon, a biblioteca possui um acervo
de 166.350 livros, 652.802 periódicos e 15.336 multimeios, com setores de
documentação baiana, braille, obras raras, periódicos, empréstimos, infantil,
pesquisa e referências e salas de estudo. No total, são 67 bibliotecários e
auxiliares de biblioteca.
Com
relação às assinaturas de jornais, o Órgão esclareceu que está tomando
providência para a retomada de assinaturas e que o serviço será retomado ainda
este mês. A Fundação ainda afirmou, por meio de nota, que, a Biblioteca terá
seu sistema de refrigeração retomado.
Serão
disponibilizados recursos de R$74 mil, na próxima semana, para solução
desta questão, no intuito de melhor atender os usuários. Após a liberação, será
feito o conserto.
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