Fonte: BBC Brasil. Data: 16/11/2016.
Saiba como Trump e o Brexit ajudaram a cunhar a 'palavra do ano'. Segundo dicionário Oxford, 'pós-verdade' se consagrou em 2016 como adjetivo de políticas marcadas por uso de mentiras graças às campanhas do Brexit e da eleição presidencial nos EUA.
O
Dicionário Oxford (Oxford Dictionaries) escolheu post-truth,
"pós-verdade", como palavra internacional do ano de 2016, refletindo
o que chamou de 12 meses "politicamente altamente inflamados".
A
palavra é definida pelo dicionário como um adjetivo "relativo a ou que
denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes na
formação da opinião pública do que apelos à emoção e à crença pessoal".
Casper
Grathwohl, da Oxford Dictionaries, disse que "pós-verdade" poderia se
tornar "uma das palavras que definem nosso tempo".
O
termo ganhou popularidade nas campanhas do plebiscito do Brexit e da eleição
americana, ambas marcadas pela disseminação de notícias falsas nas mídias
sociais e de mentiras por candidatos ou figuras-chave de campanha.
Em
setembro, o termo ganhou proeminência com uma matéria de capa da revista
britânica The Economist intitulada "Arte das Mentiras: Política
pós-verdade na era das mídias sociais".
O
artigo citava como exemplo de "política pós-verdade" a informação
disseminada na campanha pelo Brexit de que a permanência da Grã-Bretanha na
União Europa "custava 350 milhões de libras por semana aos cofres
públicos" e que o dinheiro - após a eventual saída do bloco - seria
destinado ao serviço público de saúde.
Para
a revista, o candidato (e depois presidente eleito dos EUA) Donald Trump seria
"o expoente máximo da política pós-verdade", graças a afirmações como
as de que o certificado de nascimento de Barack Obama seria falso, ou de que o
pai de seu rival republicano Ted Cruz teria estado com Lee Harvey Oswald antes
do assassinato de John Kennedy, replicando uma história não comprovada
publicada por um tabloide americano.
"Pós-verdade"
foi escolhida a partir de uma lista selecionada para refletir as principais
tendências e eventos sociais, culturais, políticos, econômicos e tecnológicos
de 2016.
O
termo acabou desbancando outras palavras que também estiveram ligadas às
campanhas mencionadas, como "brexiteer", derivada da junção das
palavras inglesas para "Britain" (Grã-Bretanha) e "exit"
(saída) e que era usada para chamar as pessoas que defendiam ou faziam campanha
pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia, e "alt-right", usada
para descrever o grupo nos EUA que se autodenomina "direita
alternativa" - que apoiou Donald Trump e é acusado de racismo e antissemitismo.
Mídias sociais
De
acordo com a Oxford Dictionaries, "pós-verdade" foi usada pela
primeira vez em 1992. No entanto, a freqüência de seu uso aumentou em cerca de
2000% em 2016 em comparação com o ano passado.
Segundo
Gratwohl, "pós-verdade" vem há algum tempo encontrando sua
sustentação linguística "graças à ascensão das mídias sociais como fonte
de notícias e uma crescente desconfiança dos fatos oferecidos pelo
establishment".
"Nós
vimos, pela primeira vez, o uso atingir um pico este ano em junho com o barulho
do voto pelo Brexit e, em seguida, em julho, quando Donald Trump assegurou sua
indicação para disputar as eleições pelo partido Republicano", observou
Grathwohl.
Ele
completa: "Dado que o uso do termo não mostrou qualquer sinal de
abrandamento, eu não ficaria surpreso se pós-verdade se tornar uma das palavras
que definem o nosso tempo."
A
"palavra do ano" em 2015 foi, pela primeira vez, um pictograma, o
emoji da "carinha com a lágrima de alegria". No ano anterior, foi a
palavra "vape", como é conhecido o ato de fumar um cigarro
eletrônico.
O
britânico Nigel Farage, um dos proponentes da campanha para deixar o União
Europeia, compartilha retórica parecida com a usada por Trump nos EUA
As palavras finalistas de 2016
•
Adulting
- Prática de se comportar como adulto responsável,
especialmente para executar tarefas mundanas, mas necessárias.
•
Alt-right
- usada para descrever um grupo nos EUA que se autodenomina
"direita alternativa", que apoiou Donald Trump e é acusado de racismo
e antissemitismo.
•
Brexiteer
- que foi a favor ou fez campanha pela saída do Reino Unido da
União Europeia.
•
Chatbot
- programa de computador projetado para simular conversas com
usuários humanos, especialmente através da internet.
•
Coulrofobia
- medo extremo de palhaços.
•
Glass
cliff (penhasco de vidro) - termo usado como referência a uma
situação em que uma mulher ou membro de um grupo minoritário ascende a uma
posição de liderança em circunstâncias desafiadoras onde o risco de fracasso é
alto.
•
Hygge
- uma qualidade ligada a uma atmosfera aconchegante e um
convívio agradável ligada a uma sensação de bem-estar típica da cultura
dinamarquesa
•
Latinx
- pessoa de origem ou ascendência latino-americana; usada como
alternativa não-binária de gênero para se referir, ao mesmo tempo, a latinos e
latinas.
•
Woke
(Desperta) - Usada originalmente por afro-americanos para se
referir a ficar alerta para injustiças sociais, especialmente racismo.
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